TITANIC
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A gente quer a vida como a vida quer” (Banda Titãs, in “Comida”)
É impressionante o pavor dos seguidores de Bolsonaro reagindo contra a convocação da CPI da Covid-19. Veem as investigações sobre a política governamental durante a pandemia como aquele iceberg que afundou o luxuoso transatlântico da White Star Line, saído dos estaleiros de Belford, na Irlanda.
Do outro lado, muitos acham que é uma excelente chance para o Presidente provar que está certo na sua condução da política sanitária enfrentando o vírus; afirma-se que o temor dos bolsonaristas mostra o contrário do que afirmam, que a mentira e a fraude substituíram o slogan “O Brasil Acima de Tudo”….
Pelo interesse nacional na apuração dos fatos, os brasileiros não comparam esta CPI com a montanha de gelo flutuante que partiu o Titanic ao meio e levou-o ao fundo do oceano, mas uma maneira de esclarecer como o Ministério da Saúde se conduziu na pandemia.
Vê-se paralelamente quão insólito é o ataque virulento do Presidente ao STF, em particular ao ministro Luiz Barroso, sempre acompanhado pelos seus seguidores. Em verdade, vê-se que os que se opõem à CPI, levantam críticas usando a camisa listrada dos malandros, e não a toga da magistratura, porque é inegável que a decisão do ministro Barroso foi técnica, baseada no texto constitucional.
Diante disto, observa-se que não há boa-fé dos fanáticos que seguem a forma desrespeitosa e grosseira com que o presidente Bolsonaro reagiu. Se na verdade são amigos, deveriam educá-lo, mostrando que o comportamento republicano exige que siga a norma consagrada do Direito, de que decisão de Justiça não se discute, se cumpre.
O historiador, filósofo e poeta romano Caio Cornélio Tácito, que passou à História simplesmente como Tácito, disse que – “Os aduladores são a pior espécie de inimigos”, projetando ad futurum os servis puxa-sacos que cercam o Presidente, mais prejudiciais a ele do que uma barulhenta oposição política e parlamentar.
Como baixar a cabeça, subalternos, à desobediência infantilóide de Bolsonaro, com xingamentos e ataques pessoais, exibindo um comportamento nefasto a si próprio? Será ele intocável, um semideus como os titãs da mitologia greco-romana ou apenas um homem de carne e osso que eventualmente ocupa a presidência da República?
Foi lembrando os Titãs que chegamos ao navio Titanic, cujo nome que veio da palavra “titãs”, entidades divinas da mitologia, filhos de Gaia e Urano. “Mito” por “mito”, esta comparação nos levou à história da primeira geração dos deuses do Olimpo.
Eram seis homens e seis mulheres que governaram o mundo após Cronos – o Tempo – ter matado Urano para defender Gaia, atacada por ele. Antes de Zeus, o governo deles, com Cronos à frente, representou a Era conhecida como “A Idade de Ouro”.
O rock brasileiro marca a presença da Banda Titãs, que no ano passado gravou o seu CD “O Brasil de Que Deu Certo”, e sempre evoca saudades das composições cheias de poesia como “Epitáfio” e “Enquanto Houver Sol”. É antológica a sua canção “É preciso saber viver”, com os versos: “Quem espera que a vida/ Seja feita de ilusão/ Pode até ficar maluco/ Ou morrer na solidão…”.
Navegando nos mares revoltos da pandemia, enfrentando as ondas da necropolítica governamental e 350 mil cadáveres boiando, voltamos à ficção do Titanic bolsonarista construído nos estaleiros da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, tendo como armadores “os meninos do Presidente”, advogados despachados, empresários expertos, PMs aposentados e a turma operária tendo como mestre –de-obras Fabrício Queiroz…
Entusiastas da indestrutibilidade do barco, escreveram na linha d’água os slogans “Os Filhos Acima de Todos” e “Reeleição Acima de Tudo” e puseram o novo Titanic a navegar em Brasília, no Lago Paranoá, símbolo do poder marítimo do Palácio do Planalto….
Será a CPI da Covid-19 que o levará ao fundo?
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