Poesia
AO LONGE SOBRE UM PORTO CHEIO…
Ao longe sobre um porto cheio
de casas sem calefação
em meio às chaminés de navio
de um telhado mastreado de varais
uma mulher hasteia velas
sobre o vento
expondo seus lençóis matinais
com pregadores de madeira
Oh mamífero adorável
seus seios seminus
arrojam sombras retesadas
quando ela se estica
para pendurar de alma lavada
seu último pecado
mas umidamente sensual
ele se enrola nela
agarrado à sua pele
Capturada assim de braços
erguidos
ela atira a cabeça para trás
numa gargalhada muda
e num gesto espontâneo
espalha então cabelo dourado
enquanto nas inatingíveis paisagens marinhas
entre lonas brancas e enfunadas
sobressaem radiantes os barcos a vapor
para o outro mundo
Lawrence Ferlinghetti
O Poeta
Poeta beat ítalo-americano. Nascido em Nova York, em 1919, ele foi Lawrence Ferling até 1955. Na verdade, seu pai, italiano, migrara para os Estados Unidos e lá encurtara o nome para Ferling. O que o filho fez, aos 36 anos, foi recuperar o nome original e assim realçar sua origem italiana. Mas ele nunca teve uma educação italiana.
Depois de estudar na Universidade de Colúmbia e se doutorar na Sorbonne, Ferlinghetti se mudou para San Francisco, na Califórnia. Lá, lecionou francês e se dedicou à crítica literária. Em 1953, em parceria com Peter D. Martin, abriu a livraria City Lights, nome tomado por empréstimo de Luzes da Cidade, o filme de Chaplin. Dois anos depois, já sem o sócio, Ferlinghetti decidiu entrar na área de edição de livros, especializando-se em poesia.
A editora City Lights ganhou notoriedade após publicar Howl (Uivo), poema de Allen Ginsberg, em 1956. O livro foi proibido pela censura, sob a acusação de obscenidade. Ferlinghetti, o editor, chegou a ser preso por isso.
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