Arquivo do mês: janeiro 2021

Fernando Pessoa

Tudo que faço ou medito

 

Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço –

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além…
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.

 

MAQUIAGEM

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Tem pessoas que deviam comer maquiagem prá ver se ficam mais bonitas por dentro”. (Coringa)

Desde menino sei como as mulheres de todas as classes sociais e de todas as idades usam cosméticos querendo, na opinião delas, melhorar a aparência. Há controvérsias, pelo menos na opinião de Shakespeare, que botou na boca de Hamlet uma reprimenda para Ofélia: – “Ouvi falar da vossa maquiagem. Deus vos deu um rosto e vós fazeis dele outro rosto”.

Will bateu com a brasileiríssima opinião expressada por Dorival Caymmi, que cantou – “Marina, me faça um favor, não pinte este rosto, você é bonita com o que Deus lhe deu”….  Foi no tempo em que não se condenava o machismo romântico pelo “politicamente correto”…

O certo é que o enfeitar-se (e hoje não é só uma preocupação das mulheres, mas dos homens também) exige pomadas e loções para branquear a pele, lápis delineadores para os olhos e sobrancelhas, rímel para as pálpebras e os cílios, ruge para a face, batom para os lábios, hena ou água oxigenada para os cabelos, e esmalte para as unhas…

Se embeleza as pessoas, é uma questão de gosto; mas o certo é que tornou bilionários comerciantes, industriais e inventores de cosméticos. Alguns deles tiveram os seus nomes popularizados como marcas célebres, como Elisabeth Arden, Coco Chanel, Helena Rubinstein e Max Factor, que aliaram seus produtos às embalagens atrativas e uma massiva publicidade.

“Maquiagem” ou “Maquilagem”, indiferentemente, como verbetes dicionarizados são substantivos femininos, significando ação ou efeito de maquilar, isto é, mudar a aparência de pessoas ou coisas. A palavra vem do francês “maquiller”, pintar o rosto para apresentação teatral.

Esta apresentação etimológica formal é capenga e sua definição é restrita; na verdade, o termo vem de um capítulo épico da História Mundial, da resistência francesa contra a ocupação nazista. “La resistence” era conduzida pelos jovens “maquisards” designação que foi simplificada para “maquis” designando os grupos atuantes que se escondiam nas áreas rurais, bosques e montanhas, e pintavam os rostos em ataques noturnos contra os invasores.

Assim, encontramos também a definição figurada da Maquiagem no sentido de “encobrir alguma coisa”. E é nesse sentido que vemos os maus políticos disfarçados de bons moços, maquiados com a “ética”, a “honestidade” e a “religião” para enganar o povo.

Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir sabe que os picaretas ególatras e corruptos usam a maquiagem enganadora e conseguem por muito tempo iludir as pessoas.

Uma antiga narração tendo como cenário a antiga Grécia, fala de um jogo que andou em moda nas rodas intelectuais, o “Jogo dos Reis” em que uma pessoa era escolhida para ser rei ou rainha e dar ordens indiscutíveis e obrigatórias a cada um dos convivas.

Num desses saraus estava presente a bela cortesã Friné, acatada pela brilhante inteligência e repentismo. Quando foi indicada para ser rainha, ela mandou que os escravos trouxessem bacias com água para as damas presentes; ao receber a sua, lavou o rosto e ordenou que todas a imitassem.

Após a remoção das maquiagens a maioria das caras lavadas eram lastimáveis, enquanto a soberana do jogo manteve o esplendor de sua beleza, elogiada através dos tempos…

Esta anedota histórica foi publicada numa das crônicas do jornalista ítalo-argentino Pittigrilli, exemplificando uma lição que deve ser levada ao eleitorado brasileiro para ser usada, numa exigência aos políticos populistas de direita e de esquerda para que lavem a cara e removam a maquiagem.

No cenário político brasileiro, o exemplo mais-do-que-perfeito é a camuflagem que o presidente Jair Bolsonaro mantém, mesmo depois de trair as suas promessas eleitorais; deveria ser ele o primeiro a usar o sabonete da autenticidade…

 

 

 

Fernando Pessoa


Tenho tanto Sentimento

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

 

Bocage

O Leão e o Porco

O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:

«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.

Bocage, in ‘Fábulas’

DECEPÇÃO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O tempo passa e descobrimos que grandes eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais! ”  (Bob Marley)

Findo o segundo ano de governo, fora de realizações pontuais o presidente Jair Bolsonaro atende apenas a duas prioridades: defender os filhos, particularmente o 01, envolvido até o gogó no caso das “rachadinhas”; e a própria reeleição, esquecendo dos acenos eleitorais contrários da campanha eleitoral de 2018.

Este quadro inquieta as pessoas livres do fanatismo político. São muitas críticas dos que votaram nele pelo acolhimento farsante à delinquência filial, intervindo na Polícia Federal, usando a Abin e um grupo particular de arapongagem e, sub-repticiamente, aliando-se ao lulopetismo no combate à Lava Jato.

Também a campanha reeleitoral, a outra obsessão, é desaprovada pelo eleitor do modo populista como é feita, o festival de reinaugurações (até de relógio!), para alegria dos cabos eleitorais, dos jornalistas fuxiqueiros, dos institutos de pesquisa e, principalmente, dos mamadores nas tetas governamentais.

O cenário político expõe a fotografia em grande angular da “direita populista” que persegue o poder pelo poder praticando a pior espécie de eleitoralismo… Pelos conchavos, tenta-se até a volta do lulopetismo corrupto à cena política para ressuscitar o abominável pelego Lula da Silva; uma estratégia oportunista que visa polarizar eleitoralmente a “direita populista” com a “esquerda populista”, ambos combatendo Sérgio Moro, o caçador de corruptos.

Assim, surgiu o “bolsopetismo” uma investida caricatural copiada das jogadas do tucanato de polarização, que ludibriava os desavisados invertendo os princípios éticos da política e patinando na lama da corrupção deixada pelos pelegos lulopetistas.

Pouco importa se isto ameaça a Democracia escondendo que com Lula e o seu “Poste” alastrou-se virulentamente a corrupção na Petrobras, conquistou-se propina para os filhos, ganhando-se o Tríplex e o Sítio, e cometendo crime de lesa Pátria, ao receber dinheiro do ditador líbio Muamar Khadaffi, como foi denunciado por Antônio Palocci.

Diante desses desatinos que chegaram às raias da criminalidade, os brasileiros revoltados apoiaram Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Ledo engano! O “Salvador da Pátria”, não passava de um deputado do “baixo clero” com 28 anos de mandato na Câmara Federal e atravessando 11 partidos diferentes.

Apenas duas correntes o conheciam realmente: os beneficiados pelo “sindicalismo fardado” e os revanchistas militaristas revoltados com a Democracia. Os demais apoiadores que desconheciam o perfil do candidato e as performances dos seus filhos, acreditaram ingenuamente nas promessas eleitorais. E acabaram traumatizados pela decepção.

Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, vê e ouve o Presidente dizer que “o Brasil está quebrado, eu não posso fazer nada…”.  Comentário que está mais para Elba Ramalho falando no mais puro “dilmês”.

A decepção é dolorosa. Como verbete dicionarizado, “Decepção” é um substantivo feminino de origem latina, “Deceptio”, significando ’empulhação, dolo, engano’. Temos também disappoint, do inglês médio vindo do francês antigo desapointer; ambas, no sentido literal, significam “remover do cargo”.

Como já disse alguém (que se perdeu no meu esquecimento), “a decepção não mata, ensina a viver”; é vivendo-a que os brasileiros se revoltam com as bandalhas, as piadas infames e o negacionismo estúpido diante da pandemia.

O desdém pela pandemia que Bolsonaro demonstrou com a fina bossa da ignorância é decepcionante e imperdoável, porque é genocida. As lágrimas derramadas pelos familiares e amigos dos 200 mil mortos exigem a condenação do algoz…

Diógenes de Sinope, também conhecido como Diógenes – O Cínico –, ficou conhecido como o mais folclórico dos filósofos gregos da antiguidade clássica. Andava pelas ruas de Atenas durante o dia com uma lanterna acesa nas mãos procurando a verdade e a honestidade. É dele o excepcional pensamento: “A decepção é filha da expectativa”.

Isto valoriza Bob Marley, nosso epigrafado, pois passados dois anos de decepções, vê-se que os sonhos foram grandes demais e o Presidente é pequeno demais para torná-los reais!

 

Lord Byron

Uma taça feita de um crânio humano

(Tradução de Castro Alves)

Não recues! De mim não foi-se o espírito…
Em mim verás – pobre caveira fria –
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.

Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!… que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.

Mais vale guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
– Taça – levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.

Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
…Podeis de vinho o encher!

Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.

E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lado
Servir na morte enfim p’ra alguma coisa!…

Charles Baudelaire

Embriagai-vos!

Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.

E si, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo que gene, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:

– É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!

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Paul Verlaine

CANÇÃO DO OUTONO

 

Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Ferem a minh’alma
Num langor de calma
E sono.

Sufocado, em ânsia,
Ai! quando à distância
Soa a hora,
Meu peito magoado
Relembra o passado
E chora.

Daqui, dali, pelo
Vento em atropelo
Seguido,
Vou de porta em porta,
Como a folha morta
Batido…

FRAUDE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Brasil? Fraude explica“ (Carlito Maia)

Relacionei-me no Twitter e venho acompanhando o professor Magno Holanda, escritor e psicopedagogo. Fui atraído pela exigência dele para que as mensagens na rede social que se refiram às pessoas e instituições tragam os seus nomes, para atestar a fonte da informação.

Principalmente os comentários e as críticas devem ser assumidos pelo autor; isto é fundamental para se evitar fraudes, agora batizadas pelo estrangeirismo “fake news”. Como venho de longe, do tempo do Orkut, e um dos pioneiros do Twitter, sou até mais exigente: acho que as contas devem ser abertas e usadas com o nome próprio do responsável.

Seria uma forma de evitar a participação nas redes sociais do pior tipo dos indivíduos, o caluniador e o difamador que se escondem no anonimato.

A fraude é criminosa. Está no artigo 171 do Código Penal: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

Soma-se ao crime o aspecto humano: é uma ferramenta a serviço do mal. “Fraude”, como verbete dicionarizado é um substantivo feminino de origem latina, “fraus,dis”, vindo de “frustari”, significando a ação de lograr, iludir, enganar, fazer errar”.

O ato delituoso para enganar alguém está sempre presente na politicalha…. Campeia livre, leve e solto entre os picaretas do Congresso; ali se assiste ardis de toda ordem, os “jabutis” postos nos galhos de projetos bem-intencionados, falsificação de documentos e “contrabando ideológico” para justificar traições ao eleitorado.

Este mal está em desarmonia pelo mundo todo, com uma riquíssima sinonímia (só na gíria de traficantes e milicianos encontrei mais de trinta), e na terminologia policial outros tantos. Nos dicionários, garimpa-se falcatrua, farsa, burla, dolo, embuste, golpe, intrujice, logro, ludibrio, tramoia, trampolinagem, trapaça e trapalhada…

Neste momento que atravessamos, ecoa retumbante no cenário mundial a tentativa de fraude nos Estados Unidos urdida pelo presidente Donald Trump; foram criminosos os seus áudios divulgados pelo The Washington Post, pressionando o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, a “achar” votos com os quais pudesse mudar o resultado eleitoral.

O delito cometido é tão flagrante que, segundo o famoso jornalista Carl Bernstein, o caso supera o Watergate que culminou na queda de Richard Nixon; Bernstein acha que os áudios são provas “suficientes’ para o impeachment.

O “esperneio” desesperado com a derrota eleitoral culminou na ação estimulada pelo louco que ainda ocupa a Casa Branca para que seus seguidores fossem protestar em Washington, o que terminou com a invasão e depredação do Congresso americano.

Assim, a quarta-feira, seis de janeiro de 2021, foi um dia que abalou o mundo, ofuscando a visão dos que viam nos Estados Unidos o baluarte da Democracia com Trump e os seus  comparsas empunhando as bandeiras da Confederação, símbolo da volta ao passado escravagista.

O triste para nós é que a insanidade extremista nos EUA deixa sequelas colonialistas no Brasil, com as viúvas bolsotrumpistas chorosas e inconformadas por receberem como herança histórica a lição de que não é fácil a reeleição de um presidente cujo governo não corresponde aos anseios nacionais. A onda negacionista levantada por Trump (que alcançou nas praias brasileiras o presidente Jair Bolsonaro), foi uma das razões do descontentamento popular.

Na pandemia do novo coronavírus assistimos muitos enganos, muitos equívocos, atitudes pouco recomendáveis; mas nada como a repercussão lamentável e desastrosa do tsunami do negacionismo. Nos Estados Unidos e no Brasil, o exemplo de Trump e Bolsonaro é a responsabilidade pelos 360 mil óbitos na América e 200 mil mortes no Brasil. Um genocídio.

 

 

FILOSOFIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol,com.br)

“Não há nada que dominemos inteiramente a não ser os nossos pensamentos” (René Descartes)

Ficaria faltando alguma coisa se depois que escrevi o artigo “Psicologia”, não trouxesse para o meu selecionado grupo de leitores um texto sobre Filosofia. Faço-o fugindo da riqueza que o mundo antigo nos deixou com o saber da China e da Índia e, para nós, ocidentais, o magnífico legado da Grécia Antiga.

É preciso navegar no mar tempestuoso da pandemia, enaltecendo o pensamento moderno, que o filósofo e matemático René Descartes criou quando a Ciência e a Tecnologia ainda engatinhavam de fraldas.

O monumento filosófico erguido por Descartes tem uma lápide com o enunciado que resume a consciência dos novos tempos: “penso, logo existo”.

Para os mais exigentes, está no perfil deste pioneiro da moderna filosofia que ele era um católico praticante, mas multisciente e erudito o bastante para aceitar e adotar as condenadas heresias de Galileu, que expôs no seu livro “Le Monde”, descrevendo a rotação da Terra e negando o geocentrismo obscurantista.

Quase uma leitura obrigatória, destacam-se na sua obra “Discurso Sobre o Método” e “Meditações”, livros em que explica a chamada “dúvida cartesiana”, a base do seu pensamento filosófico.

Bertrand Russel salienta que essa teoria é tão audaciosa que se estende à Aritmética e à Geometria, considerando-as passíveis de dúvida, seja na contagem dos quadrados, seja numa simples operação de somar.

A busca de explicações além do que se pode comprovar pelos sentidos foi um tema que se seguiu depois dele, aceita por Spinoza e todos demais filósofos, até Kant. John Locke, por exemplo, reforçou a dúvida cartesiana com o seu empirismo, exemplificando:

– “Suponhamos que a mente é, por assim dizer, um papel em branco, sem nada escrito, sem nenhuma ideia; de que forma, então, ela se enche? ”. E conclui magistralmente: – “Pela experiência, que encerra todo o conhecimento pessoal”.

O romancista e pensador francês André Gide deixou uma marca indelével sobre a acumulação da experiência resumindo como um princípio: – “Crê nos que buscam a verdade. Duvida dos que dizem tê-la encontrado”. E o genial cineasta norte-americano Orson Welles, ator, diretor e escritor, reforça: – “É preciso ter dúvidas. Só os estúpidos têm uma confiança absoluta em si mesmos”.

Vemos com estas intervenções que a Filosofia não é monopólio de ninguém; está ao alcance de quem queira estudar, e mais, de quem queira pensar; dar atenção a um fato, ou a uma teoria, meditar questionando hipóteses e concepções gerais é um exercício mental que se faz sem querer e muitas vezes até sem sentir…

Mesmo assim, para resolver problemas difíceis não há métodos fáceis; ou ocorre espontaneamente na cabeça de alguns privilegiados, ou se encobre com teorias triviais. O genial Shakespeare deixa isto explícito pondo na boca de Romeu que “há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia…”.

A palavra Filosofia dicionarizada é substantivo feminino, que vem do grego antigo “Philosophia” e significa: “philo”- amizade, amor, afeição e “sophia” – sabedoria; definida como o conjunto das reflexões racionais de cada indivíduo, para entender a realidade. Atribui-se a Pitágoras de Samos a invenção da palavra, que a usava como “apreço ao saber”.

A valorização do saber é levada muito a sério pelos filósofos consagrados e assim se impõe. Outro dia, numa troca de mensagens no Twitter, os protagonistas citaram a Coleção “Os Pensadores”, uma excelente publicação da antiga Editora Abril, e dela colhi que todos apresentados – sem exceção -, enaltecem o conhecimento.

No Brasil que está vivendo sob o triunfo (aparente) da mediocridade, enche-nos de pena ao ver os “filósofos da televisão” e os “filósofos da política” com suas certezas estúpidas sobre tudo, levando a Filosofia ao ridículo. Vê-se que não assistiram a aula inaugural da Etiologia e assim não aprenderam a primeira lição dada: “O ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato reflete”.