Arquivo do mês: abril 2020

MALABARISMO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Una persona que aprende a hacer malabares con seis bolas está mejor preparada que otra que soló hace malabares con três” (Anónimo)

Na virada de uma página da História, encontramos a transição do homem de Neandertal para o Homo Sapiens e no que restou da cultura musteriense, as primeiras fabricações de armas e ferramentas registradas na arte pictórica rupestre. Ali encontramos, também, desenhos de 30 mil anos atrás sobre a prática do malabarismo.

Com o avanço civilizatório, recebemos também referencias da prática do malabarismo por pessoas de ambos sexos no Antigo Egito e nas sociedades chinesa, indiana, grega, romana, nórdica, asteca e polinésia.

O termo “Malabarismo” vem de “malabares” com referência à Costa de Malabar, no sudeste da Índia, onde os habitantes, desde a mais tenra infância, são hábeis em manipular objetos com destreza. Mantêm domínio sobre argolas, bastões, bolas, claves, facas, fitas, ioiôs, pinos e tochas, obtido pelo controle mental e habilidade manual, que se tornou uma arte circense.

Muitos artistas ganham a vida com malabarismos; principalmente os artistas de rua, sempre encontrados nas grandes cidades. Sob a sacada do meu apartamento tem um bar em que eles se apresentavam semanalmente antes do covid-19, alternando com ritmistas, dançarinos e ginastas.

Dicionarizado, o verbete malabarismo é um substantivo masculino significando a arte ou a técnica do malabarista; refere-se figuradamente à habilidade para enfrentar situações difíceis.

Dessa figuração encontramos algo relacionado com a vida social, o chamado “malabarismo retórico”, representação mental de palavras e gestos que pouco ou nada expressam a não ser um discurso vazio de conteúdo.

Este expediente doloso sempre induzindo à fraude é muito usado pelos políticos; e enquanto os malabaristas de terra e ar entretêm e divertem o povo, os demagogos de todas ideologias e partidos o ilude com logros eleitorais.

Uma frasista do Google, Lanna Borges, nos presenteia dizendo que “é desafiador manter equilíbrio em meio ao malabarismo que é viver”. E o pior da vida é suportar o malabarismo dos agentes políticos destros na oratória recheada de promessas que nunca são cumpridas.

É comum atualmente assistirmos traições políticas dos eleitos aos seus eleitores com argumentos reticentes, frases envoltas em aspas e divagações suspeitas de autoafirmação.

Os maus políticos fazem malabarismos com seis ou mais bolas para admiração geral. O nosso Parlamento, por exemplo, é praticamente controlado por um Centrão carente de crenças, ideias, opiniões, valores e ávido por vantagens pessoais; e é instigado pela facção lulopetista desmoralizada pela corrupção.

Esta é a razão de assistirmos situações absurdas com jogos-de-cena inconsequentes. O exemplo mais do que perfeito disto fica claro na situação criada pelo novo coronavírus, que ameaça tragicamente o mundo e a nossa Nação.

Os malabarismos picaretas disseminam um vírus muito mais agressivo e perigoso – o coruptovírus -, para minar as políticas da Saúde, da Economia, da Segurança Pública e da Infraestrutura que estão se realizando apesar de desacertos e sabotagens.

Neste cenário, constatamos que os políticos brasileiros nascem do jeito de uma história que li e vou tentar relembrá-la: – “Um pai de classe média foi ao quarto do filho para ajudá-lo a escolher uma futura carreira. Para isto, deixou-lhe para a definição, uma Bíblia, uma maçã e um cheque bancário, pensando que se ele fosse encontrado admirando a Bíblia, seguiria o sacerdócio; se observasse a maçã, seria um fazendeiro e, examinando o cheque, entraria no ramo das finanças. E deu um tempo.

Ao voltar, viu que o rapaz embolsara o cheque e comia a maçã sentado em cima da Bíblia. Não teve dúvida de que o filho seria político”.

A partir deste raciocínio, assisto os jogos de malabares ao meu redor raciocinando como Charles Chaplin: “Não sou político; sou principalmente um individualista. Creio na liberdade; nisso se resume a minha política…”

 

ALEGORIA DA CAVERNA

“A República” de Platão :

Uma aula de Sócrates ao seu aluno Glauco:

—  “Esqueces uma vez mais, meu amigo, que a lei não se ocupa de garantir uma felicidade excepcional a uma classe de cidadãos, mas esforça-se por realizar a felicidade de toda a cidade, unindo os cidadãos pela persuasão ou a sujeição e levando-os a compartilhar as vantagens que cada classe pode proporcionar à comunidade; e que, se ela forma tais homens na cidade, não é para lhes dar a liberdade de se voltarem para o lado que lhes agrada, mas para os levar a participar na fortificação do laçado Estado”.

GUERRAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível” (Sun Tzu)

Noutro artigo registrei a curiosidade etimológica do substantivo feminino “Guerra” nas línguas neolatinas, que não adotaram o bellum,i romano, e sim o germânico werra, combate, contenda, discórdia, disputa, luta. Do latim, herdamos o bélico, rebelde, rebelião e ‘belicoso’, como tuitou outro dia a brava Marisa Cruz.

No idioma português damos para Guerra o significado da luta armada entre nações e/ou conflitos entre povos ou etnias diferentes. Qualquer luta ou combate com ou sem armas. E a que mais assustou foi a ameaça nuclear com armas atômicas, que poderiam levar a humanidade ao extermínio.

Mas os conflitos veem de longe. A História traz que por volta de 3.200 a.C. a consolidação do Egito ocorreu com uma guerra intestina entre o Reino do Norte e o Reino do Sul. As demais guerras movidas pelos faraós, no apogeu do Império, foram pela expansão e domínio territorial.

Quase mil anos depois, houve um importante confronto, a Guerra do Peloponeso, que unificou a Grécia antiga dando à Atenas a hegemonia militar sobre as outras cidades-estado gregas.

E depois uma das maiores guerras da Antiguidade realizada por Alexandre – O Grande -, rei da Macedônia, que conquistou o Império Persa, o Egito, toda a Ásia Menor, o Afeganistão e chegou às fronteiras da Índia.

Quando se firmava como um poderoso Estado mediterrâneo, suplantando a Grécia, a Roma republicana enfrentou a República de Cartago numa série de três disputas bélicas, chamadas de Guerras Púnicas.

Mais tarde, em termos de guerras mundiais, tivemos as Guerras Napoleônicas, conflitos suscitados pelo Império Francês, sob a liderança de Napoleão Bonaparte que enfrentou todas as nações europeias.

E, bem mais tarde, já na contemporaneidade, tivemos duas grandes guerras mundiais, de 1914 a 1918, a primeira, e de 1939 a 1945, a segunda; enfrentamentos e as mesmas alianças, com pequenas modificações.

A 2ª Guerra trouxe sequelas pontuais, como as guerras da Coreia e do Vietnã, e uma guerra sem tiros, a Guerra Fria, defrontando os Estados Unidos e a União Soviética.

Eis que de repente, “não mais que de repente” chegou a Terceira Grande Guerra. E esta só tem dois lados: os povos em perigo e um inimigo invisível, microscópico. Diante deste campo de batalha, é preciso que tenhamos a coragem de enfrentar o perigoso adversário para derrota-lo sem lutar: Pelo isolamento social como estratégia para a vitória.

Isto, porque, não estamos enfrentando um exército de milhões de bacilos, bactérias e vírus; basta somente um desses agentes infecciosos, letal, vindo numa gotícula de saliva, após uma tossida ou um espirro de outrem. É por isso que se encontrarmos algo que evite ou neutralize as ações do inimigo, devemos segurá-lo como o graveto do afogado…

O confinamento, as preocupações e, sobretudo, a solidariedade humana devem ser as nossas armas no enfrentamento com o covid-19. O vírus move táticas insanas e imprevisíveis; mata um bebê de menos de um ano e assiste a cura de um idoso de cem anos.

A verdade, porém, é que a ciência já tem um mapa traçando a coragem de muitos, principalmente na área da Saúde, enquanto a política adota a covardia, com as brigas do carreirismo eleitoral, se lixando para os que estão na arena amedrontados, e se dirigem aos poderosos em desespero:  “Morituri te Salutant”- Salve o Poder, os que vão morrer te saúdam -.

A morrer, todos estamos sujeitos, mas da minha parte, não cairei sem luta. O estrategista Sun Tzu ensinou que “a suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”. É o que faremos com o confinamento.

P O E S I A S

ARGILA

               Raul de Leoni

Nascemos um para o outro, dessa argila

De que são feitas as criaturas raras;

Tens legendas pagãs na carnes claras

E eu tenho a alma dos faunos na pupila…

 

Às belezas heroicas te comparas

E em mim a luz olímpica cintila,

Gritam em nós todas as nobres taras

Daquela Grécia esplêndida e tranquila…

 

É tanta a glória que nos encaminha

Em nosso amor de seleção, profundo,

Que (ouço de longe o oráculo de Elêusis),

 

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,

O nosso amor conceberia um mundo,

E do teu ventre nasceriam deuses…