Arquivo do mês: agosto 2019

LEITURA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Qual Ioga, qual nada! A melhor ginástica respiratória que existe é a leitura, em voz alta, dos Lusíadas”. (Mario Quintana)

Tive a felicidade de nascer e ser educado num ambiente onde a leitura era compulsiva. Meus pais liam muito e sempre estavam em dia com os livros lançados e comentados; tinham até conta em livraria.

Adquirir o hábito da leitura logo cedo foi uma dádiva na minha adolescência e juventude, como hoje ocorre com as crianças e jovens que têm a felicidade de dispor de computadores ou outros dispositivos móveis.

Dizem que o fenômeno da Internet leva as pessoas ficarem parcimoniosas com a leitura. Nada mais falso, porque nas redes sociais temos a plenitude do direito à informação, com notícias de jornais nacionais e estrangeiros, comentários em revistas culturais, científicas e técnicas, e livros, embora ainda pouco acessados.

Na minha opinião, o motivo para a falta de leitura deve-se à degradação da chamada grande imprensa no dever de informar, o que é comprovado pelo grande número de pessoas que deixou de comprar jornais e cortou assinaturas de revistas, fugindo da servidão ao conteúdo desses órgãos.

O desprezo pela opinião pública na imprensa escrita, a irresponsabilidade das agências de notícias e as fraudes dos institutos de pesquisa, fazem orquestradamente a defesa sub-reptícia de personalidades, de grupos, de partidos e seitas.

A redação nos jornais vem copidescada de tal forma que já não se entende o conteúdo da matéria pela inflação de palavras e a pontuação truncada; parece proposital, mas é possível que os profissionais estejam sendo pagos por lauda e linhas, ou é provável o alinhamento deles com o zumbi stalinista, um morto-vivo que corre o mundo.

Telespectadores abandonam programas políticos das grandes redes de televisão em protesto pela manipulação do noticiário e a distorção das análises; assim, dos tradicionais meios de Comunicação restam as emissoras de rádio que divulgam música ou são especializadas em temas esportivos e/ou religiosos.

Isto vem ocorrendo também na literatura. É lamentável o desprezo pela poesia e pelo texto teatral; constata-se nas estantes o vazio outrora ocupado por escritores nacionais, que cedem lugar aos best-sellers europeus e norte-americanos.

Os escritores da atualidade não aprenderam a lição de Eduardo Galeano, que confessou de público a procura de uma linguagem sem solenidade que permita pensar, sentir e se divertir, “nada habitual nos discursos de esquerda”.

É por isto a desprezível composição da Academia, a falência de editoras e livrarias, e o esvaziamento dos festivais literários como se viu no último de Paraty.

Há igualmente outra razão para o fracasso da leitura: a baixa qualidade intelectual das gerações formadas nos governos lulopetistas, período em que se enalteceu o analfabetismo dos pelegos ocupantes do poder, e a cultura virou o monopólio de meia dúzia de intelectuais militantes financiados pelo PT-governo.

Da mesma forma, é triste conferir o que escrevem os autos assumidos e autos elogiados filósofos, que engorduram seus textos com a banha da vaidade, sem humildade e desrespeito com os antecessores, desvalorizando-se e negando-se como pensadores.

Dessa maneira, a Web é a taboa de salvação. Da minha parte, como brilhantes colegas que atuam nas redes sociais, faço-me presente com artigos duas vezes por semana, contando com uma média de 120 leitores de excelente qualidade.

Reconheço, porém, e lamento, que alguns tuiteiros da nova leva não estão habituados com a leitura ou têm preguiça de ler, sofrendo dificuldade de interpretar um texto. Levo para eles, um recado de Carlos Drummond de Andrade: – “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, são muitos os que não sentem esta sede”.

 

HERESIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uoL.com.br)

“Aqueles que concordam com uma opinião chamam-lhe opinião; mas os que discordam chamam-lhe heresia” (Thomas Hobbes)

Podem me chamar de “herege”; mas criado numa família em que a minha avó paterna era católica ao extremo, mãe espírita, pai agnóstico, irmã umbandista e um tio que foi pastor protestante na época da perseguição aos “crentes”, não me considero preconceituoso quanto à religião. Apenas sou um leigo diante dela.

Vejo que tanto na religião como na política defende-se o sentido da vida, e em ambas, como diz o jornalista e escritor italiano Eugenio Scafari, vê-se que o que vale, é ver “a divisão entre o que é bem e o que é mal, compreendendo a existência de uma ordem do bem e do mal”.

Entretanto, pelas intervenções de alguns tuiteiros que acompanho, encontro uma disposição de trazer para o campo político um entrevero religioso, pedindo orações em vez de argumentação ou denúncias contra os males que o lulopetismo insiste em manter contra o interesse nacional.

Os sectários são poucos, mas por convicção enraizada não se dispõem a pôr os pés no chão enfrentando a realidade no combate ao mal, como se encontramos nas posições laicas em relação à politicagem.

Evitam, inclusive, o diálogo com os companheiros de viagem independentes das suas tendências teológicas sem ver que a inclinação ao laicismo é a busca da verdade, querendo respostas científicas para o preceito básico da fé, em nome da liberdade de consciência; adotando o livre-arbítrio.

É por isto que defendo para os leigos o direito de seguir pesquisando, duvidando e censurando os que embaralham religião e política na mesa forrada com textos bíblicos. São os mesmos que criticaram a missa rezada em latim dos católicos e hoje criticam a exibição de cumprimento litúrgico em hebraico.

A magia do tempo leva-nos a pensar como Humberto Eco, registrando com a sua religiosidade laica a “força religiosa, moral e poética de conceber o modelo do Cristo, do amor universal, do perdão aos inimigos e da vida em holocausto pela salvação da humanidade”.

Isto encanta e nos leva a pensar em imitá-Lo, porém nos leva a pensar hereticamente, como fez o cardeal Carlo Maria Martini, jesuíta, interrogando-se, “se, por inescrutável desígnio divino, Cristo tivesse encarnado no Japão? ”. E abrasileirando, se Jesus Cristo tivesse nascido de uma virgem caeté do litoral nordestino, pregaria em nome de Tupã?

Evidente que Deus na sua onisciência, onipresença e onipotência sabe o que faz; e é óbvio que Ele quer a convivência pacífica e respeitosa de crentes e leigos para que possam viver em comunidade defendendo uma justiça boa e perfeita e o progresso na Nação.

Muito tempo atrás, iniciando no Twitter e conquistando meia centena de seguidores, meu genro, ironizando, disse que eu já podia fundar uma igreja. Nunca pensei nisto, ao contrário, apenas conscientizei-me de que a expressão sincera do pensamento me gratificaria e levaria os mais jovens a refletir sobre as minhas experiências e o conhecimento que acumulei ao longo da vida.

Assim, procuro defender princípios. E informar, e esclarecer, e apelar para a reflexão sobre a realidade em que vivemos, separando a política da minha crença – que adota, como Einstein, o deus que Spinoza chama de “Alma do Universo”, e não um deus que se preocupe com as minhas necessidades pessoais.

Por isso mantenho a luta por um mundo melhor; e, como patriota, acredito e acompanho a consigna “Brasil acima de tudo”, esperando não seja abandonada à margem do longo caminho que temos pela frente para nos livrar da herança maldita deixada pela pelegagem narcopopulista.