Arquivo do mês: dezembro 2016

Marisa Alverga

FÁCIL? DUVIDO…

Eu queria
Uma coisa simples
Como o desejo,
Que fosse forte
Como Hércules,
Grande
Como a Muralha da China!
Imponente
Como a Torre Eifel!
Magnífico
Como o Colosso de Rhodes
Ou os Jardins Suspensos
Da Babilônia
De Nabucodonosor.
Queria…
Um amigo.

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Bertold Brecht

DE QUE SERVE A BONDADE

1

De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

2

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!

SARNA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Os venenosos propagadores da doença populista que, na forma de sarna socialista, se transmite à massa ignara” (Autor desconhecido)

A sarna ou escabiose, ou acaríase, é uma afecção cutânea, pruriginosa e contagiosa causada pelo ácaro Sarcoptes scabie variedade hominis. Sua origem etmológica é do latim: Scabere – “coçar”, e se transmite no contato direto com uma pessoa infectada.

Ocorre entre seres humanos e outros animais, mas estes não propagam a sarna humana. É uma das três doenças de pele mais comuns em crianças, juntamente com a micose e infecções bacterianas da pele.

O ácaro se refugia sob a pele do hospedeiro, causando coceira alérgica intensa e borbulhas – como erupção cutânea. O ácaro é muito pequeno e geralmente não é diretamente visível. O diagnóstico é feito com base nos sinais e sintomas e infecta mundialmente 100 milhões de pessoas.

A voz do povo, na linguagem coloquial, gírias e neologismos tem um dito atual entre funks, definindo como coisa pegajosa; e o Dicionário de Gíria, de J.B.Serra e Gurgel, fixa que é uma coisa desagradável, complicada, “Este cara é uma sarna, chato, grudento”.

O dicionário de “Termos e Expressões Populares”, do notável pesquisador cearense Tomé Cabral, traz “procurar sarna prá se coçar” (meter-se sem necessidade em empresa ou assunto que ocasionam consequências maléficas).

O folclorista gaúcho João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes registra “Sarna” como uma dança no seu livro “Manual de Danças Gaúchas”, ao lado das tradicionais coreografias de salão como “Rancheira de Carreirinha”, “Pezinho”, “Graxaim”, “Anu” e o sapateado “Tatu”.

Na terminologia política, aparece como gracejo desmerecedor. A História de Portugal (e do Brasil) capitula manifestações na corte lisboeta batizadas de “sarna europeia”, contestando as eleições para as Cortes de Lisboa (1821) e a Assembleia Constituinte (1822).

Quando a sarna totalitária grassava na Europa nos anos 1930, surgiu nas Minas Gerais um grupelho liderado por Francisco Campos e Gustavo Capanema chamado Legião de Outubro, com camisas cáqui, milícias e símbolos, copiados do nazi-fascismo. E o bravo povo mineiro apelidou de “Sarna”.

Após a queda das ditaduras militares na América Latina irrompeu um surto da sarna populista, caricatura envergonhada do decrépito socialismo de Fidel Castro, senhor de Cuba como qualquer latifundiário.

Para nos coçar, apareceu no Brasil a versão gramsciana do obreirismo stalinista, com o pelego da Volkswagen, Lula da Silva, chegando ao poder por demagogia e distorção ideológica, ocupando-o desastrosamente.

O narco-populismo chavista implantado pelo PT, se fortaleceu pela aliança com os 300 picaretas do Congresso e institucionalizou o assalto ao Erário e às empresas estatais. Sua política falida e a administração pífia, são erros menores diante da roubalheira.

Colhemos hoje os frutos podres da Era Petista, a herança sarnenta que ainda coça nas virilhas e entrededos dos zumbis que vagueiam nas horas mortas da política.

Nosso Brasil está infestado de ácaros e bactérias que corroem sua saúde econômica e política alastrando-se por todo organismo republicano. Haveria uma sarna pior do que a que coça nas presidências da Câmara de do Senado, e entre os ministros do STF?

Antigamente nossas avós receitavam um remédio caseiro para a sarna: azeite de oliva aquecido para uma massagem com auxílio de gaze na parte afetada. Não há cura para lulopetistas sarnentos: só com azeite fervendo. Lembram-me a historieta de João e Maria que fritaram a bruxa má. Enquanto ela gritava: – “Água meus netinhos! ”; Joãozinho justiçava: -“Azeite, senhora velha! ”

NÃO VOU

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Vem. Mas demore a chegar/ Eu te detesto e amo/ Morte, morte, morte que talvez/ Seja o segredo desta vida” (Raul Seixas – Paulo Coelho)

Para conforto dos que um dia corra moderado ou grave risco de vida, ir para um CTI ou UTI (um médico me disse ser a mesma coisa, uma questão de terminologia) saiba que o tratamento intensivo é, no universo da medicina, um planeta à parte, o mais avançado do sistema.

A tecnologia moderna e, particularmente, a qualidade profissional dos seus componentes humanos diversos. Presentes 24 horas por dia, serventes, auxiliares de enfermagem, enfermeiras (os), estagiários, residentes e o corpo médico abrindo um leque amplo, analista de exames, assistente social, cirurgião, clínico, dermatologista, fisioterapeuta, nutricionista.

Como não poderia deixar de ser – pela própria natureza – temos uma CTI com toque brasileiro, sem a rigidez alemã nem a exuberância cinematográfica dos norte-americanos…  Por observação, vi um caos organizado; o caótico fica por conta da multiplicidade dos casos surgidos e a organização no atendimento pronto e completo.

O “meu” CTI cardiológico é uma grande sala com 11 boxes fechados por cortinas e distribuídos frente à frente com um corredor no meio. Fiquei no número 10, e apesar de cortinado havia brechas de onde podia se ver o que se passava lá fora e ouvir ruídos, gemidos, pedidos e conversas.

Da minha cama hospitalar controlada por botões para subir, descer e formar ângulos do tronco para cima e da cintura para baixo brechei um aviso esquisito, no box defronte: Paciente em restrição hídrica de 800 ml/dia” e, ainda em frente, ao lado, escutei repetidos “uis” e “ais”.

Numa noite de incertezas e solidão ouvi, entre as queixas, a voz rouquenha de uma paciente reproduzindo várias vezes a expressão “não vou! ”… Curioso, perguntei a uma enfermeira do que se tratava e tive a informação de que a mulher revelou que tinhas alucinações com a mãe morta, que lhe estendia a mão e a convidava para saírem…

Na minha irreverência, lembrei daquelas fantasminhas do filme “Ghost” que levavam a alma dos mortos… Na verdade, se eu tivesse tal visão, também recusaria ir. Eu sei que é inevitável, e, como canta o epigrafado Raulzito, a Morte está sempre à espera, em qualquer lugar, vestida de cetim, mas peço que demore a chegar pois a vida é bela.

Dito para o Anjo do Abismo, a que se refere a Bíblia, o Azrael dos judeus ou o Tânato dos gregos o “não vou! “, tem uma grande força, menos pelo desespero e certamente mais pela explosão de sinceridade.

Tenho dito e reafirmado mil vezes o “não vou” para muitas coisas, principalmente na política. Escrevi-o recusando-me a aceitar a bandalheira de Fernando Henrique Cardozo e sua desonesta reeleição; disse-o repugnando o poder petista nas mãos de Lula, no início do seu governo e do assalto dos pelegos ao Erário. Disse “não vou“ acompanhar a mídia que defendia o inescrupuloso governo Dilma.

Após a reflexão de 11 dias, confinado ao hospital, faço questão de registrar o meu “não vou” às tentativas de levar as frações conscientes do pensamento brasileiro à derrubada do governo Temer. Não que ele não mereça, astutamente vestindo a toga de apaziguador, mas cedendo sempre à ala podre do seu partido.

As negativas variações dos pronunciamentos de Temer vão da covardia expressa diante da prisão do arqui-corrupto Lula da Silva, às articulações para evitar a derrubada do cangaceiro das Alagoas Renan Calheiros da presidência do Senado.

Não o perdoo no primeiro caso; no segundo, a culpa recai mais sobre o Supremo Tribunal do Fatiamento que vergonhosamente assumiu o conchavo da picaretagem, por isto, também “não vou” cair nas artimanhas dos defensores do “quanto pior, melhor”.