Arquivo do mês: maio 2016

AMIGOS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.” (Machado de Assis)

Para falar de ‘amigo’, buscamos a origem da palavra, que vem do latim ‘amicus’, e na velha Roma era derivado de amore; tratando-se de relação afetiva, assexuada, entre duas pessoas. Os dicionários de língua portuguesa classificam ‘amigo’ como adjetivo, que se torna substantivo ao vir adjetivada como, por exemplo, ‘grande amigo’ …

Histórica e filosoficamente, o conceito de amizade varia no espaço e no tempo; cada organização social apresenta formas diversas de amizade; na minha época e geração, considerávamos uma ligação pessoal – algumas inexplicáveis – que proporcionavam afeição, intimidade e lealdade.

Jan Yager, socióloga americana que escreveu “Bons Amigos Maus Amigos” deu uma de ‘brasilianista’ comentando que para os brasileiros, de maneira geral, “amigo é em quem se pode confiar por ser alguém que lhe quer bem, e não usa esta condição para fins de interesse”.

Alguns críticos dos meus trabalhos literários me acusam de politizar todos os meus textos; não é mentira. Conhecendo o livro de Jan Yager, devo falar de Brasil, onde na política se multiplicam amigos interesseiros e mal intencionados.

Veja-se a forma de amizade do ponto de vista da amoralidade lulo-petista: Lula alardeava um bom relacionamento com Fernando Henrique Cardozo e, depois de eleito, além de repetir ter recebido do ‘amigo’ uma herança maldita, incentivou até aloprações contra Ruth Cardoso, esposa de FHC.

A outra hierarca petista, Dilma, se abraçava mantendo aparente amizade com o deputado Eduardo Cunha, com quem rompeu passando a xingá-lo de tudo quanto é adjetivo insultuoso. Fez o mesmo com o ex-senador Delcídio do Amaral que foi seu líder no Senado: Disse que Delcídio “sempre teve o hábito de mentir”, sem especificar se havia tal defeito quando foi próxima, quase íntima, dele.

Não se vê sempre alguma reação no rompimento da amizade. O ex-advogado geral da União, José Eduardo Cardoso, ouvia dizer que seu amigo Lula falava dele cobras e lagartos às ocultas, e até pediu a sua demissão à ex-presidente Dilma, mas acumulou sua raiva despejá-la contra o impeachment pela continuidade da corrupção do desafeto por Lula.

Vê-se que ‘amizade’ nos círculos petistas é tão relativa quanto a sua ideologia… O próprio PT oscilou entre o combate à corrupção e locupletando-se nela. O petista é sobretudo aquele que, como uma biruta de aeroporto, só assume a posição que o vento do comando sopra…

Essa gente não valoriza o amigo, como Maurício de Sousa exemplifica com Cebolinha e Cascão da Turma da Mônica; ou como assistimos no belo desenho animado “Procurando Nemo” o altruísmo da pexinha Dory com o peixinho Nemo; ou nas histórias de quadrinhos de Batman e Robin.

Na literatura, temos Sherlock Holmes e Dr. Watson do genial Conan Doyle, e a fraterna relação dos “Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas, acho que não existiu amizade de Dom Quixote por Sancho Pança por que o fidalgo decadente era meu amalucado assim como Dilma, mas Cervantes deixou claro que havia de Sancho para Quixote.

É tão forte a amizade nos círculos parentais que se confunde com o amor; e que o amigos não escolhem a gente, mas nós os elegemos. Entre pessoas normais ocorre o que ensina Machado de Assis:  o afeto nasce espontaneamente sem dizer como, e sem cobrar nada.

Nos meios fascistóides isso é incapaz de acontecer. No terror fantástico da sua atuação política, os lulo-petistas só pensam no Chefe, no Partido e neles próprios.

 

 

AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA

ALÉM DE MIM

Não é culpa minha
se não estou aparelhado
para entender certos conceitos
e sinais.

Conheço o ódio, o amor, a fome
a ingratidão e a esperança.

(Deus, a eternidade, o átomo e a bactéria
me excedem.)

O que não significa
que os ignore.
Ao contrário:
por não compreendê-los
finjo estar calmo
— e desespero.

Patativa do Assaré

AMANHÃ

 Amanhã, ilusão doce e fagueira,

Linda rosa molhada pelo orvalho:

Amanhã, findarei o meu trabalho,

Amanhã, muito cedo, irei à feira.

Desta forma, na vida passageira,

Como aquele que vive do baralho,

Um espera a melhora no agasalho

E outro, a cura feliz de uma cegueira.

Com o belo amanhã que ilude a gente,

Cada qual anda alegre e sorridente,

Como quem vai atrás de um talismã.

Com o peito repleto de esperança,

Porém, nunca nós temos a lembrança

De que a morte também chega amanhã.

ESPERANÇA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Áureo-verde pendão da minha terra/ que a brisa beija e balança/ Estandarte que a luz do sol encerra/ E as promessas divinas da esperança” (Castro Alves)

Dicionarizada, a palavra esperança (subs. fem.) é antônima da palavra medo (subs. masc.). A Esperança é uma das três virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade) que a Bíblia exalta ensinando que a “Esperança não decepciona” (Romanos 5,3-5a).

O marqueteiro Duda Mendonça, tão genial quanto ambicioso, criou um slogan em 2003 botando na boca de Lula que “A Esperança venceu o medo”, entusiasmando a militância do Partido dos Trabalhadores, que acreditava numa mudança real nos destinos do Brasil.

Ledo engano. Assumindo o poder, Lula se corrompeu, arrastando consigo a hierarquia petista e distorcendo a ideologia que atraia os seus partidários. Os honestos consigo mesmo e com seu ideal se decepcionaram e se afastaram; e, passados 13 anos, 4 meses e 11 dias, assiste-se ao início do fim da Era Petista no julgamento do impeachment.

O estado mental dos parlamentares se libertou do medo e descortina a Esperança com o apoio de milhões de brasileiros que iluminaram a Esperança nas ruas dos País, derrotando a fobia social que o PT impunha através de uma propaganda massiva e maciça.

Lembro dos primeiros comunistas que se libertaram do Terror que o stalinismo infundia nos militantes, ameaçando-os do opróbio da traição. Foi com a divulgação do Relatório Kruschev, mostrando os crimes cometidos por Stálin, perseguições, prisões, torturas e campos de concentração, que se realizou a libertação dos mais inteligentes e bem-informados.

Em termos ocidentais, foi icônico o livro de Howard Fast “O Deus Nu”, que despertou na intelectualidade de esquerda (esquerda de verdade e não o populismo canhoto do lulo-petismo) para os males da ilusória ditadura do proletariado, do partido único, dos atos sigilosos de governo, da polícia política e, principalmente, do Estado-empresário monopolista que engessa e atrasa a economia.

Não é fácil libertar-se individualmente do medo, e muito pior é enfrentar a fobia social ou sociofobia. Ainda no século 19, Freud já discorria em suas aulas e palestras – e escrevia – sobre a fobia como uma entidade clínica. Modernamente, estuda-se, divulga-se e se diagnostica o TAS – Transtorno Ansioso Social nas tensões nervosas coletivas e manifestações grupistas de alarme.

Os aprendizes de ditador e os partidos totalitários aproveitam-se dos movimentos obsessivos e das limitações corporativas defensivas. Estes apresentam sintomas de ansiedade criando o caldo de cultura que permite a implantação do regime fascista.

Foi assim que agiram os pelegos lulo-petistas. Aproveitaram-se de necessitados, doentes mentais e de uma presidente da República inapta ao cerimonial do cargo, incompetente na administração da coisa pública e leniente com a corrupção. Dessa maneira cavaram sua própria sepultura.

Do outro lado foi inevitável a reação popular a partir do acesso à informação pelas redes sociais, que pressionaram a mídia, influenciaram jornalistas e alicerçaram a Operação Lava Jato – o movimento das “mãos limpas” à brasileira.

Avolumou-se uma solidariedade de todos estamentos sociais com aplausos à ação da Polícia Federal, do Ministério Público e do juiz Sérgio Moro. A resposta veio da Procuradoria Geral da República, avalizando o trabalho de faxina que atingiu governantes, empreiteiras e seus titulares, banqueiros e políticos.

O cenário entusiasta abriu os olhos dos órgãos controladores e o Tribunal de Contas da União apontou os crimes cometidos por Dilma contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e atropelando o Congresso com decretos autocráticos.

Com isto, chegamos ao impeachment que avança no Senado Federal, onde a Esperança reside enfrentando o fisiologismo político, o populismo irresponsável e a corrupção.

Os patriotas brasileiros continuamos, porém, ameaçados pelo medo de que a classe política considere o impeachment o ponto final da crise. Esta sensação exige que tenhamos Esperança de que Michel Temer cumpra realmente a promessa de mudança.

 

Zé Limeira – O poeta do absurdo

O Marechal Floriano

Antes de entrar pra Marinha

Perdeu tudo quanto tinha

Numa aposta com um cigano

Foi vaqueiro vinte ano

Fora os dez que foi sargento

Nunca saiu do convento

Nem pra lavar a corveta

Pimenta só malagueta

Diz o Novo Testamento!

 

Pedro Álvares Cabral

Inventor do telefone

Começou tocar trombone

Na volta de Zé Leal

Mas como tocava mal

Arranjou dois instrumento

Daí chegou um sargento

Querendo enrabar os três

Quem tem razão é o freguês

Diz o Novo Testamento!

(…)

 

Quando Dom Pedro Segundo

Governava a Palestina

E Dona Leopoldina

Devia a Deus e o mundo

O poeta Zé Raimundo

Começou castrar jumento

Teve um dia um pensamento:

“Tudo aquilo era boato”

Oito noves fora quatro

Diz o Novo Testamento!

Sertão em Carne e Osso

No romper das alvorada,

Quando alegre a passarada

Se desmancha em cantoria,

Anunciando ao sertão

A sua ressurreição

No despontar de 

outro dia!

 

Nos galho das baraúna

Os magote de graúna

Quando o seu canto desata,

Parece uns vigário véio

Cantando o santo evangéio

Na igreja verde da mata!

 

Canta nas tarde morena

Quando o sol vai descambando,

Se despedindo da terra,

Beijando a crista da serra,

Deixando o céu tão bonito,

Que o sol redondo e vermêio

Parece, mal comparando,

Um grande chapéu de couro

Na cabeça do infinito!

Zé da Luz é o nome artístico de Severino de Andrade Silva, poeta nascido em Itabaiana – Paraíba, em 1904, e falecido em 1965.

Ai! Se Sêsse!

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariasse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois dormisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
Que São Pêdo não abrisse
As portas do céu e fosse,
Te dizer qualquer tolice?
E se eu me arriminasse
E tu com eu insistisse,
Pra que eu me arrezolvesse
E a minha faca puxasse,
E o bucho do céu furasse?…
Talvez que nós dois ficasse
Talvez que nós dois caísse
E o céu furado arriasse
E as virge todas fugisse!

 

Zé da Luz é o nome artístico de Severino de Andrade Silva, poeta nascido em Itabaiana – Paraíba, em 1904, e falecido em 1965. 

HERÓIS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Quando o ideal desaparece, os civilizados erguem as mãos para o céu exclamando que morreu o próprio Deus” (Jean Izoulet)

O Partido dos Trabalhadores começou como um partido de novo tipo; mas, com origem camaleônica virou pelo fanatismo preguiçoso e obediente dos seus seguidores, uma seita cultuando a personalidade de Lula da Silva. E revelou-se agora uma organização criminosa que assiste o crepúsculo do seu “deus”.

Falsos profetas e heróis do PT estão presos por corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro; estão à espera na cadeia pelos outros ainda não julgados pelo tribunal da faxina.

Os heróis autênticos cultuados nas mitologias ocidentais antigas, greco-romana e nórdica, cumpriam missões onde os deuses não podiam atuar impedidos de interferir no destino dos mortais. Eram personalidades híbridas de homens e deuses superiores aos humanos em força, inteligência e velocidade, mas não eram imortais como os deuses.

Como disse alguém, os heróis adquiriam com as façanhas realizadas, ‘uma dimensão semidivina’. Ao contrário dos mitos universais, os ‘heróis’ da mitologia lulo-petista no Brasil limitaram seus feitos a roubos; nunca passaram de reles ladrões de ponto de ônibus, gângsteres assaltantes de bancos ou prevaricadores e corruptos passivos na administração pública.

O escritor escocês Thomas Carlyle, que escreveu “Os heróis, o culto dos heróis e o heroico na História”, abriu um leque de análises sobre literatura, política, religião e propôs para o estudo periódico da História Moderna três momentos revolucionários:

O primeiro veio com o protestantismo combatendo a soberania papal; depois, a revolta dos puritanos ingleses contra a soberania dos reis; e, por fim, a Revolução Francesa abolindo todas as espécies de soberania.

É de Carlyle o enaltecimento ao “Culto dos Heróis”. Para ele, este culto sempre existiu através dos tempos e, quando surge um herói, trata-se de “uma revelação singular”, pois que vem para reconhecer a igualdade entre os homens e para manter a Ordem.

Se Carlyle tivesse conhecido a bandeira brasileira republicana aplaudiria seu dístico “Ordem e Progresso”. Em respeito à Bandeira Nacional não podemos admitir como herói uma criatura da desordem. É impensável respeitar quem atue para se perpetuar no poder, para garantir a soberania totalitária de um partido e para enriquecer seus hierarcas através da fraude, da demagogia e do roubo?

Somente uma mente nascida com limitação anatômica cerebral ou intoxicada por uma ideologia distorcida pode comparar Hércules, Jasão, Orfeu, Perseu, Polux com Zé Dirceu, Genoíno, Delúbio, Silvinho e Vaccari…

A miopia político-ideológica dos lulo-petistas é apreciada vendo o seu desespero por perder os benefícios e vantagens que o governo corrupto lhes oferece. Por isso pregam a desordem e a dissolução da administração pública para impedir a governabilidade do sucessor de Dilma.

É escancarada a mobilização de sabujos black-blocs, pelegos da CUT, MST, MSST, UNE, UBES e tentáculos menos votados de entidades sovadas pelo dinheiro público para uma ação do heroísmo às avessas, a subversão da ordem pública.

Destoa na Mitologia greco-romana a figura de Dionísio ou Baco, também o filho de um deus. Em vez de se destacar como os heróis, a figura abjeta da sua embriaguez nos lembra Lula da Silva; e ao seu lado lembramos a monstruosa Quimera, metade mulher, metade jararaca, que o herói Belerofronte matou para resguardar a felicidade do povo.

Entre os heróis mitológicos, enalteço Jasão e os argonautas, comparando-o à pessoa do juiz Sergio moro e aos patriotas independentes da Polícia Federal e do Ministério Público. Estes não deixam a chama olímpica do ideal se apagar enfrentando os monstros que queriam dominar o País através da corrupção.

 

 

Fernando Pessoa – Antonio de Oliveira Salazar

Antonio de Oliveira Salazar.

Tres nomes em sequencia regular…

Antonio é Antonio.

Oliveira é uma arvore.

Salazar é só apelido.

Até aí está bem.

O que não faz sentido

É o sentido que tudo isto tem.

 

Este senhor Salazar

É feito de sal e azar.

Se um dia chove,

A agua dissolve

O sal,

E sob o céu

Fica só azar, é natural.

 

Oh, c’os diabos!

Parece que já choveu…

 

Coitadinho

Do tiraninho!

Não bebe vinho.

Nem sequer sozinho…

 

Bebe a verdade

E a liberdade,

E com tal agrado

Que já começam

A escassear no mercado.

 

Coitadinho

Do tiraninho!

O meu vizinho

Está na Guiné,

E o meu padrinho

No Limoeiro

Aqui ao pé,

Mas ninguém sabe porquê.

 

Mas, enfim, é

Certo e certeiro

Que isto consola

E nos dá fé:

Que o coitadinho

Do tiraninho

Não bebe vinho,

Nem até

Café.

 

Fernando Pessoa

Bocage – Quer ver uma perdiz chocar um rato

Quer ver uma perdiz chocar um rato,

Quer ensinar a um burro anatomia,

Exterminar de Goa a senhoria,

Ouvir miar um cão, ladrar um gato;

Quer ir pescar um tubarão no mato,

Namorar nos serralhos da Turquia,

Escaldar uma perna em água fria,

Ver um cobra castiçar co’um pato;

Quer ir num dia de Surrate a Roma,

Lograr saúde sem comer dois anos,

Salvar-se por milagre de Mafoma;

Quer despir a bazófia aos Castelhanos,

Das penas infernais fazer a soma,

Quem procura amizade em vis gafanos.