Arquivo do mês: junho 2015

CINISMO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Foi na velha Grécia que surgiu uma corrente filosófica chamada Cinismo, obedecendo ao ensinamento de Sócrates que repudiava o supérfluo e o excesso de bens materiais. O seu fundador foi Antístenes, discípulo do velho Filósofo.

A denominação vem do grego, “kynikós”, originária dekýon, que significa cão, cachorro, porque Antístenes dormia e pregava num canil aos seus alunos. A palavra foi traduzida para o latim como “cinicus”, daí passando para as línguas neo-latinas.

Essa corrente filosófica ensinava que o propósito da vida era viver na virtude, de acordo com a natureza. Mais tarde, o famoso Diógenes de Sínope (aquele que andava nas ruas durante o dia com uma lanterna nas mãos à procura da Verdade ), difundiu o cinismo como uma filosofia de vida, exaltando um tipo de comportamento social na prática diária.

A renúncia aos bens materiais e preocupações para alcançar a felicidade, tal como defendia Diógenes, difundiu-se em Roma tornando-se um movimento de massa, com agitadores defendendo seus princípios por toda Itália. Há historiadores que afirmam terem os cristãos primitivos adotado sua retórica e ascetismo.

Na Idade Média esta doutrina finalmente definhou, reaparecendo mais tarde com outra conotação, a desfaçatez, defesa de atos imorais e a falta de vergonha; um epíteto que foi usado nos tempos atuais contra o movimento hippie.

Como é costume dizer, a voz do povo é a voz de Deus. Assim, a palavra cinismo incorporou-se à linguagem popular, e está dicionarizada como descaramento, hipocrisia, impudicícia e oportunismo.

Essa desfiguração de uma filosofia pura subverteu os seus princípios, com os cínicos de hoje defendendo a prática infame de “quero levar vantagem em tudo” ou “tudo por dinheiro”. Para os cínicos, viver é lutar pela fama e pela conquista e manutenção do poder. Esta falta de escrúpulos se revela numa declaração do diretor do Instituto Lula, Paulo Okamoto.

Explicando a atuação do tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto, com as propinas do Petrolão, Okamoto declarou: “As empresas estão ganhando dinheiro. Não precisa corromper ninguém. Funciona assim: Você está ganhando dinheiro? – ‘Estou’. Você pode dar um pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso. É o que espero que Vaccari tenha feito”.

É certo que o diretor do Instituto Lula expresse o pensamento do Chefão. E também que tal opinião, de cinismo vulgar, tenha sido levada à época do Mensalão a Delúbio Soares, o tesoureiro que antecedeu a Vaccari. Delúbio também foi preso por achacar empresários para engordar a caixinha do PT…

Esta depravação é fluente na ideologia degenerada do lulo-petismo, sem dúvida. Veja-se que na delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, ouviu-se – e está gravado – que Vaccari procurou-o, pedindo uma colaboração para José Dirceu, que às vésperas da prisão precisava pagar algumas despesas pessoais. Pessoa contribuiu na época com R$ 2,3 milhões.

Praticando o cinismo lulista, o atual chefe da Comunicação do PT-governo, Edinho Silva, desconfiou e calou-se sobre a origem do dinheiro que proveu a campanha para reeleição de Dilma. E, talvez por isso, convive com a Presidente no Palácio do Planalto…

Também o hierarca do PT José Eduardo Cardozo, ocupando o Ministério da Justiça, dá provas de adotar esse despudor, ao convidar advogados de empreiteiros para uma conversa em seu gabinete.

Neste quadro revoltante, acrescente-se a desmoralização da categoria profissional de Consultoria, com a multiplicação de consultores propineiros petistas, aptos a trabalhar numa lavanderia de dinheiro por sua atividade imoral e ilegal.

Como se vê, a tão decantada “esquerda petista”, tem como dirigentes pessoas de um cinismo revoltante. Para muitos brasileiros, esta constatação é desconcertante; mas não choca a “militância” que se banqueteia com a desonestidade, degustando as iguarias da corrupção e arrotando socialismo de barriga cheia…

Zé Ramalho – O amanhã é distante

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Elis Regina – Atrás da porta

Implosão!

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Como todos sabem e acompanham em cenas na televisão, a implosão é um arranjo de explosivos que convergem para um ponto central pressionando uma estrutura emparedada, e a compressão vai derrubá-la uniformemente. Enquanto a “explosão” é detonar pra fora, “implosão” é detonar para dentro.

Essa técnica de demolição é controlada e rápida. Raramente falha como ocorreu em Belo Horizonte, numa obra da Copa do Mundo (sempre a “Copa das Copas”!) e pelo erro, um viaduto desabou vitimando passageiros de um ônibus que ali passava.

O maior exemplo de implosão dos tempos atuais se deu na cidade de Rochester, extremo oeste do estado de Nova York, no complexo industrial Kodak Park, demolindo cerca de 100 prédios, alguns deles de forma espetacular.

Implosão é um termo que se usa também na falência de uma grande empresa por má gestão ou, historicamente, na queda de um sistema político, como ocorre agora com o Partido dos Trabalhadores após ocupar por doze anos o poder…

A implosão do PT começou quando nos primeiros desvios programáticos, os intelectuais deixaram-no, seguidos mais tarde por militantes políticos – alguns com mandato –, que se afastaram descontentes com o centralismo antidemocrático da cúpula de pelegos e dos oportunistas recém promovidos.

Favoreceu igualmente o desagrado dos intelectuais honestos, a corrupção institucionalizada por Lula da Silva, que atingiu o apogeu com a ‘laranja’ eleita por ele para continuar manobrando o PT-governo nos bastidores. Diz-se que a eleição de Dilma foi uma tática: Os lulistas conheciam suas fraquezas da sucessora; venderam-na como uma “Gerentona”, mas sabiam que não passava de uma incompetente.

O fracasso de Dilma traria Lula de volta como um salvador da pátria; mas o plano deu azar dele porque ela, assumindo as tramas ardilosas de Guido Mantega escapou, governando um País virtual de artimanhas e mentiras, chegando assim à campanha eleitoral que a reelegeu.

Como a fraude e a impostura não se sustentam, o malogro surgiu nos primeiros meses do segundo mandato. O insucesso de Dilma, sem exagero, é amplo, geral e irrestrito; e o exemplo mais do que perfeito disto é a derrocada da Petrobras, a única petroleira do mundo a dar prejuízo.

Os primeiros ensaios da implosão eclodiram graças ao reconhecimento lúcido dos espíritos livres, com as declarações do sociólogo Chico de Oliveira, do jurista Hélio Bicudo, do poeta Ferreira Goulart, dos professores Carlos Nelson Coutinho, Cristovam Buarque, Leandro Konder, Maria Victoria Benevides, Plínio de Arruda Sampaio, e do jornalista Fernando Gabeira.

A intelectualidade que acendeu o estopim é bem informada, independente e democrática, percebendo a desonestidade intelectual da pelegagem e a amoralidade de Lula da Silva. Depois, vieram os políticos; de memória lembro Chico Alencar, João Batista Araújo, o Babá, Ivan Valente, Luciana Genro, Paulo Rubem Santiago e Soninha Francine entre outros. Pela lealdade aos princípios e reconhecida honestidade, a ex-senadora Heloísa Helena foi expulsa.

Mais tarde, saiu Marina Silva e mais recentemente Marta Suplicy; e, no recente congresso petista esvaziado, registra-se a diáspora de centenas de descontentes. Alguns deles ainda não cortaram os laços umbilicais com o lulo-petismo, mas reagiram à sua maneira.

Este quadro da dispersão mostra o embate entre o PT que ficou no passado e o lulo-petismo do assalto aos cofres públicos, do carreirismo e da obscena degenerescência ética e moral. Acumpliciando-se com o novo PT, ficaram somente a professora Marilena Chauí, obreirista e incentivadora do culto à personalidade de Lula, e o revisionista Leonardo Boff.

O que se vê no choque violento do bem contra o mal é a implosão do governo petista, desacreditado, incompetente e co-autores da ladroagem estabelecida. Ouve-se dessa gente o aplauso fácil (e bem remunerado), de Chico Buarque, Emir Sader, Erenice Guerra, Gilberto Pimentel, Jô Soares, Luiz Nacif, Marco Garcia e Paulo Henrique Amorim…

Esses gatos pingados não impedem que internamente a pressão seja maior do que externamente, com uma oposição fraca que sofre da síndrome da impotência. É a compressão interna que detona a implosão final do governo apodrecido e de um partido depravado…

Djavan – Um amor puro

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Ney Matogrosso – Mesmo que seja eu

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