Desde 1989, quando Collor levou a história de Lurian à TV contra Lula -o que só conta contra ele e a favor Lula-, não se via neste país algo de tal violência em campanha eleitoral: a quebra do sigilo fiscal da filha de um candidato da oposição. Nada poderia ser tão ilustrativo de uma praga: “os fins justificam os meios”.
Nesse ritmo, podem surgir “aloprados” da oposição prontos a responder na mesma moeda. E se resolverem quebrar o sigilo da negociação de Lulinha com a Telemar, com intermediação de um compadre do presidente da República?
Em vez de discutir economia, investimentos, empregos, educação, saúde, inclusão social -o que já se faz muito pouco-, o país passaria a assistir uma guerra entre Veronica Serra e Lulinha da Silva.
Se é que não apareceriam aloprados vermelhos, azuis, verdes e amarelos contra o outro filho de Serra, a filha de Dilma, os filhos de Marina Silva. A partir daí, a campanha descambaria para o vale-tudo, metendo até mãe no meio.
A questão, porém, não é só eleitoral; é principalmente institucional. A história está mal contada, e falta saber quem, e com que motivação, mandou quebrar o sigilo da filha de Serra e de dirigentes tucanos na Receita.
Se depender do governo e da própria Receita, ninguém vai saber de nada até a eleição e ninguém será punido depois dela. Os “aloprados” originais, da campanha de 2006, levaram uma bronca de Lula por serem atrapalhados e ponto.
É assim que o Estado é usado para fazer “banco de dados” contra Ruth e Fernando Henrique Cardoso, quebrar o sigilo de um caseiro que diz umas verdades e produzir dossiês contra adversários políticos. E tudo isso vai se incorporando à paisagem placidamente.
Por ora, ainda sobra a imprensa para descobrir esses ímpetos stalinistas e levar ao conhecimento da opinião pública. Até que se dê um jeito nisso também.
Eliane Cantanhêde, jornalista
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