Ficou gravado na minha memória um discurso que ouvi a anos, tão distante no tempo que me esqueci o nome do orador e até da ocasião. Pode haver alguma fantasia da minha parte, mas foi inesquecível: “Os partidos no Brasil não passam de uma dança de letras”.
Lembrei-me disto ao ler no noticiário político que uma nova (novíssima, aliás) sigla, o Partido Ecológico Nacional – PEN, já compõe a segunda bancada da Câmara do Distrito Federal. É a 31º ou 32º legenda a disputar as próximas eleições.
Distingo entre as agremiações legais que se destacam por composição e atividade política, uns seis partidos; o resto vê-se como ‘os nanicos’, obedecendo à classificação usual do colunismo político.
Da chamada redemocratização prá cá, tivemos a grande surpresa da eleição de Fernando Collor pelo PRN, Partido da Reconstrução Nacional, que praticamente inexistia na circunavegação partidária em torno do poder.
Repete-se pontualmente em São Paulo, capital, o fenômeno Collor, com o nanico PRB, Partido Republicano Brasileiro levando o seu candidato Russomanno a empatar casualmente com José Serra – o mais que conhecido candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Os dois ficaram lá em cima, Serra com 30% e Russomanno com 27% das intenções de voto. No segundo nível veem Fernando Haddad (PT) e Soninha Francine (PPS) com 7%; Haddad, candidato improvisado pelo ex-presidente Lula da Silva patina estacionário e Soninha, por sua vez, mostra uma tendência de crescimento.
De público, ninguém mostrou decepção ou constrangimento com os números da pesquisa Datafolha, ao contrário, os tucanos alegraram-se com a liderança de Serra, os republicanos ficaram satisfeitos e o PPS, ex-PCB, sentiu-se recuperando o antigo prestígio do Partidão na capital paulista.
Ressabiados apenas os lulo-petistas. Os originais ficaram constrangidos por aceitar um candidato imposto, e os lulistas tentam explicar o quadro, apontando a participação de Russomanno no programa matinal diário veiculado pela TV Record, de grande audiência popular e penetração nos meios evangélicos.
Esta situação político-eleitoral em São Paulo é importante para a análise do lance embaraçoso que o astucioso Lula deu. Engenhoso, o líder personalista do PT sabe, com a manha de pelego, que São Paulo é a centrosfera econômica do País, e que quem controla o econômico, controla o político e o social.
E o acaso nos traz uma surpreendente benfeitoria partidária na dança de letras. Primeiro porque deve ensinar aos tucanos não insistirem em confrontar com o PT, criando uma situação dualista eleitoral. Segundo, levar os petistas a compenetrar-se da necessidade de se libertar do culto à personalidade de Lula.
É certo que o laboratório paulistano oferece um sem-número de avaliações. Conforme a ótica, o exame de cada fatia oferece um vetor especial. Da minha parte sinto, sinceramente, o início do desgaste do discurso lulo-petista.
Para mim, o presságio futurista mostra a fragmentação do PT como partido. Efeito do poder, sim, mas ainda pior, a degenerescência ideológica e o abandono dos princípios da organização na sua fundação.
É nítida a dualidade que se esboça no seio do poder. A Presidente já não é o alter ego de Lula, nem ocupa um mandato-tampão, a espera que ele volte a sentar na cadeira presidencial. Com Dilma separando-se do núcleo paulista que dominou nos dois mandatos de Lula, permite ver-se a queda dele e a ascensão dela. Claro que a doença do ex-presidente contribui para a evolução desta resenha, mas o distanciamento é um fato e contra fatos não há argumentos.
Tudo que compõe este raciocínio pode mudar em breve. O Brasil não é só São Paulo, e as contradições regionais transbordam nos quatro cantos do País, escapando à influência da polarização PSDB-PT, graças às condições locais.
Outras mudanças deverão ocorrer com o início do horário eleitoral, a supremacia do tempo no vídeo, e pelo uso das Redes Sociais, após a autorização e regulamentação do Tribunal Superior Eleitoral para a campanha na Internet.
No momento oportuno, faremos as correções de rumo…
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