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“Que serà, serà” … Será?

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Quem não é filho de chocadeira, nasceu de pai e mãe e viveu em família, fosse classe média, rico ou pobre, recebendo ensinamentos de respeito à coisa alheia, considera o furto insuportável, sendo ainda mais ofensivo e condenável o roubo da coisa pública.

O direito penal, a psicanálise, a psicologia e a psicopatologia condenam a desonestidade e não encontram qualquer explicação para os ladrões do dinheiro público; nem a sociologia canhota da professora Marilena Chauí justifica a escandalosa rapina do PT-governo; ela, adoradora de Lula, apenas procura culpados que não o Chefe.

Outro que tenta tapar o sol com uma peneira é o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que falando a magistrados criticou os que reclamam da roubalheira institucional implantada pelo lulo-petismo.

Para Cardoso, os que protestam são empresários “que se acertam com fiscal da Receita”, e os síndicos de condomínios: “Vivemos numa sociedade em que até síndico de prédio superfatura até quando compra um capacho”. O Ministro considera a desonestidade parte da cultura nacional.

Pior do que esses sectários da bandidagem que se lixam para o assalto ao Erário e aos escândalos que indignam os brasileiros, são os que acreditam na fatalidade; mas não dá para pensar que o destino explique tudo, a não ser na metáfora humorística do “estava escrito nas estrelas…”.

Isto está inserido no vocábulo árabe “Maktub” (“está escrito”), que etimologicamente vem de “Kitab”, livro, sem nada ter com o Alcorão, embora induza os crentes islamitas ao fatalismo, resignando-se à vontade de Alá.

Maktub é sinônimo de “destino”, que se opõe ao ensinamento bíblico do “Deus criou o homem, concedendo-lhe o livre-arbítrio”, daquilo que só pode ser feito por nós mesmos, assumindo o controle das decisões que conduzirão a nossa vida.

Entretanto, pela tradição ancestral, há pessoas supersticiosas. Acredita-se nas cartas de baralho cigano, no jogo de búzios e no Tarot; e, mundo afora, milhões de pessoas aceitam a astrologia como ciência. Conheço gente que confere diariamente horóscopos, tanto os que veem publicados nos jornais como em mapas particulares feitos por astrólogo.

Por outro lado, há quem sorria do fatalismo islâmico, do livre arbítrio cristão e da astrologia, apesar de filósofos como Oswald Spengler, John Stuart Mill, e Schopenhauer tenham sido fatalistas; que os doutores da Igreja e os teólogos protestantes que defendem o livre-arbítrio; e sabendo que os respeitados astrônomos Galileu e Ticho Brahe foram astrólogos.

Para mim, entretanto, é impensável aceitar uma inexorável predeterminação de Deus, deuses, ou forças da natureza; não respeito o “que será, será”. Guardo o “que serà, serà” por curiosidade de ser uma “canção italiana sabendo que com música e letra dos americanos Jay Livingston e Ray Evans… Foi a trilha musical do filme “Candelabro Italiano” e graciosamente interpretada por Doris Day em o “Homem que Sabia demais”.

Alguém escreveu que “as coisas são como são, e não como gostaríamos que fossem”… Pensando assim, a vida, a sociedade, a economia, a política, a guerra e a paz dependem de nós. Quem vive em sociedade, mantendo relações de produção e acompanhando a política, é responsável pela guerra e pela paz.

Por separar a fantasia da realidade, entrei na agitação da luta popular contra os eduardos cardosos da vida e demais criminosos acobertados pela República dos Pelegos. Apelo aos 75 milhões de eleitores que não votaram na candidata estelionatária com a vigorosa poesia de Walt Whitman: “Minha vocação é a vocação para a batalha./ Meu canto é o toque do clarim./ Eu engendro a rebelião ativa”.

Não podemos ser fatalistas nem obedecer à predestinação religiosa, e sim obedecer ao princípio de que, conscientes da realidade, podemos mudá-la. Na pesquisa que fiz para escrever este texto, encontrei o  grande Homero, das memoráveis Ilíada e Odisséia, que deixou dito que “o homem acusa insensatamente os deuses e chama “de destino” a própria estupidez..”.

Miranda Sá

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