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O Sonho Acabou

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br )

Revisando conceitos jornalísticos e avaliações pessoais, deu-me uma vontade danada de dedicar um artigo aos petistas envergonhados, sem coragem de expressar publicamente o seu sentimento.

Nenhuma inspiração melhor para isto do que a canção “God” de John Lennon – despachando os Beatles com uma despedida de incredulidade amarga. Não sei quando, nem como, nem onde, tornei-me fã dos rapazes de Liverpool e transferi o entusiasmo musical e certa inclinação sensual para John.

Ouço sempre, e várias vezes seguidas o “Imagine”; mas “God”, de certa maneira me chocou, não por problemas políticos ou religiosos. Filosóficos, talvez. A abertura literal é pesada: “Deus é um conceito/ Pelo qual medimos/ Nossa dor.

A demonstração de descrença em tudo é uma carga pesada. Com a frase “O Sonho Acabou”, Lennon revela desconfiança em todo seu entorno e também nas personalidades de Buda, Hitler, Jesus e Kennedy, e dos seus contemporâneos próximos, Elvis e Zimmerman, e dos antigos parceiros, os Beatles.

A 8 de dezembro de 1980, Lennon foi assassinado quando retornava do estúdio de gravação junto com Yoko, sua mulher. Ela divulgou semanas depois uma resposta dele à pergunta sobre o que pensava ser o sonho dos anos 1980. A resposta: “Faça seu próprio sonho… Eu não posso te despertar. Você pode se despertar”.

É esse “despertar” o que desejo aos últimos (e raros) petistas fundadores do Partido dos Trabalhadores. E será relembrando as antigas palavras de ordem, que hoje são recebidas como provocações oposicionistas ao pedir punição para os picaretas que roubaram a Petrobras.

Lembrar a mágica de um Brasil soberano, justo e livre, hoje desacreditada pelo lulo-petismo, assim como os princípios da moralidade e da ética. Para a cúpula do PT, a legislação só vale se for para servir aos interesses do governo na maquiagem dos números e das estatísticas.

Mal saindo do carnaval, lembro um samba maravilhoso “Recordar é Viver”. E com ele, trago à memória a participação dos petistas no impeachment de Collor. Hoje, eles todos estão exercendo mandatos e cargos governamentais, acumularam contas bancárias e, cinicamente, abraçam-se com o impichado.

Também não será exagero lembrar as lutas do braço sindical do PT, a CUT, defendendo os professores, o pessoal da saúde e os previdenciários! O que faz agora? Os sindicatos controlados pelos pelegos lulistas são apenas caça-níqueis e trampolins político-eleitorais deles.

Entre outros desvios de rumo no campo sindical, assiste-se o silêncio cúmplice dos petroleiros, técnicos e engenheiros da Petrobras diante da ladroagem que está destruindo a estatal. Esse comportamento desmoraliza os funcionários apontados de corruptos por Dilma e revolta pela hipocrisia.

E os artistas e intelectuais? São incapazes de uma autocrítica, de reconhecer o desmantelo de um governo incompetente em todos os campos de atividade. Na economia, traz a inflação de volta, e na política alia-se à banda podre do Congresso Nacional. Na verdade, para os artistas e intelectuais lulistas, o PT-governo é uma vaca de fartas tetas que alimentam os seus projetos.

Será que nenhum dos antigos militantes que mantêm a carteirinha e provavelmente paga o dízimo (embora a grana venha de outras fontes), se insurge contra a política externa do Itamaraty “do B”, controlado e ideologizado por um comissário delirante?

Será possível aplaudir o governo Maduro, da Venezuela, que fornece armas letais aos órgãos de segurança e permitindo seu uso contra manifestações populares?  Que Dilma considere essa violência um problema interno daquele país? E, com dois pesos e duas medidas, rompa com Indonésia porque a legislação de lá condenou à morte um traficante de cocaína?

Qualquer um que se calar, e compactuar com a usina de amoralismo, cinismo e distorções programáticas do PT, é sócio solidário de uma organização delituosa. Não se trata de uma opção ideológica, mas adesão ao crime.

Por tudo isto, no próximo dia 15 de março, manifestando-me pela renúncia ou o impeachment de Dilma, a minha faixa será “O Sonho Acabou, PT!”.

Miranda Sá

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