Categorias: Artigo

O ‘ENE’

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo” (Abraham Lincoln)

O isolamento social tem me obrigado a rebuscar livros de referência, que me ajudam a escrever nos artigos coisas que jaziam esquecidas na memória, como as lendas mitológicas que sempre mereceram a atenção dos antropólogos, economistas, filósofos e psicanalistas.

Assim despertou-me a ideia de introduzir a letra “N” na mitologia para fazer um cotejo entre o “mito” com o “minto”… Na Mitologia Grega temos o “N” de Narciso – aquele que se apaixonou por si próprio vendo a sua imagem refletida nas águas de um rio.

E também do deus do mar, Netuno, poderoso e cercado por uma guarda pretoriana de tritões que o acompanhavam sempre. Deve interessar a muita gente o deus Nemesis, que bem poderia ser invocado em nossos dias, pois castigava os culpados que escapavam da justiça humana…

É sempre bom lembrar que nos milênios passados que os governos, os sábios e o povão aceitavam as crenças politeístas. Um dos pensadores brasileiros mais respeitados, Silva Mello, escreveu que “o juramento de Hipócrates, talvez de todos o mais profundo e sincero pela sua significação era baseado na invocação de deuses mitológicos”.

O raciocínio científico aceita o Juramento de Hipócrates e respeita os médicos que o cumprem, levando-nos a venerar, nesta fase crítica da pandemia do novo coronavírus, médicos, enfermeiros, técnicos e demais profissionais da Saúde cobertos pelo guarda-chuva desta sagrada promessa.

A penhora desses profissionais ao compromisso de honrar o seu desempenho tem se comprovado na sua eficiente atuação atendendo os pacientes do Sistema Único de Saúde, universal e gratuito.

E enfrentam a burocracia administrativa, a falta de insumos, a presença arriscada e o descaso dos políticos demagógicos e negacionistas que desastradamente se aliam ao vírus dando exemplos deploráveis de não usar a máscara e participar de aglomerações.

Há até políticos que fazem pior; ocupando o lugar de médico, para receitar por rompante inexplicável drogas sem eficácia cientificamente comprovadas. Puro verbalismo, a voz de outrem impregnada de misterioso conúbio do personalismo com a arrogância.

Em meio a uma discussão sobre o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, ocorreu nas redes sociais uma troca de ideias sobre a dúvida. Vimos que duvidar é abrir um sinal verde para que a verdade passe nesse caminho de esclarecimentos e informação. Justamente o contrário das fake news que os desonestos defendem como “liberdade de expressão”.

Negar presença à fraude e à mentira é justamente colocar o “N” na falsidade impregnada politicamente. Levar os que mentem a trocar a expressão “mito” por “minto”, o presente do indicativo do verbo mentir, transitivo direto, transitivo indireto e intransitivo, exprimindo enganar, iludir e ludibriar…

A palavra Mito foi muito usada na última campanha eleitoral, quando o povo brasileiro se mobilizou para derrotar a corrupção lulopetista, apoiando a Operação Lava Jato empreendida pelo Ministério Público, a Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro.

Finda a eleição, murchou o balão colorido das promessas de fazer uma faxina geral no País e acabar com a herança petista da corrupção, reforçando a luta contra os corruptos e o crime organizado. Restabeleceu-se, porém, a aliança com o Centrão e até se achegou ao lulopetismo para combater Sérgio Moro; e assim se faz necessário pregar a revolução da verdade nesta época de mentiras, como escreveu George Orwell.

Assim, talvez por uma ordenação espiritual coletiva, desapareceu das redes sociais a palavra “mito, ” referindo-se a Jair Bolsonaro; nela se introduziu o “N”, ouvindo-o falar como se fosse verdade algo que não é. Ficou Minto.

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

DO ESCAPISMO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) A genialidade do dramaturgo, poeta e filósofo alemão Bertolt Brecht, estrela ofuscante da arte teatral no…

1 de maio de 2024 19h20

DOS ANIMAIS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com,br) É emocionante o vídeo postado pela "Sexteto 4 Patas" como epitáfio pela morte do cachorro Joca,…

28 de abril de 2024 13h21

DA TECNOLOGIA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br) Observei numa rachadura das pedras de uma calçada na minha vizinhança o nascimento vigoroso de uma…

23 de abril de 2024 13h30

DA FELICIDADE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) A busca da Felicidade é uma fantasia diversionista para fazer esquecer as agruras do dia-a-dia das…

19 de abril de 2024 19h01

DA LIBERDADE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Mal terminara a 2ª Grande Guerra, em 1946, meu pai levou-me para assistir na ABI (onde…

15 de abril de 2024 22h05

DA VIOLÊNCIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) A Violência se alastra pelo mundo como o espetáculo e o estrondo das cachoeiras, é impossível…

11 de abril de 2024 16h55