Tive a felicidade de nascer e ser educado num ambiente onde a leitura era compulsiva. Meus pais liam muito e sempre estavam em dia com os livros lançados e comentados; tinham até conta em livraria.
Adquirir o hábito da leitura logo cedo foi uma dádiva na minha adolescência e juventude, como hoje ocorre com as crianças e jovens que têm a felicidade de dispor de computadores ou outros dispositivos móveis.
Dizem que o fenômeno da Internet leva as pessoas ficarem parcimoniosas com a leitura. Nada mais falso, porque nas redes sociais temos a plenitude do direito à informação, com notícias de jornais nacionais e estrangeiros, comentários em revistas culturais, científicas e técnicas, e livros, embora ainda pouco acessados.
Na minha opinião, o motivo para a falta de leitura deve-se à degradação da chamada grande imprensa no dever de informar, o que é comprovado pelo grande número de pessoas que deixou de comprar jornais e cortou assinaturas de revistas, fugindo da servidão ao conteúdo desses órgãos.
O desprezo pela opinião pública na imprensa escrita, a irresponsabilidade das agências de notícias e as fraudes dos institutos de pesquisa, fazem orquestradamente a defesa sub-reptícia de personalidades, de grupos, de partidos e seitas.
A redação nos jornais vem copidescada de tal forma que já não se entende o conteúdo da matéria pela inflação de palavras e a pontuação truncada; parece proposital, mas é possível que os profissionais estejam sendo pagos por lauda e linhas, ou é provável o alinhamento deles com o zumbi stalinista, um morto-vivo que corre o mundo.
Telespectadores abandonam programas políticos das grandes redes de televisão em protesto pela manipulação do noticiário e a distorção das análises; assim, dos tradicionais meios de Comunicação restam as emissoras de rádio que divulgam música ou são especializadas em temas esportivos e/ou religiosos.
Isto vem ocorrendo também na literatura. É lamentável o desprezo pela poesia e pelo texto teatral; constata-se nas estantes o vazio outrora ocupado por escritores nacionais, que cedem lugar aos best-sellers europeus e norte-americanos.
Os escritores da atualidade não aprenderam a lição de Eduardo Galeano, que confessou de público a procura de uma linguagem sem solenidade que permita pensar, sentir e se divertir, “nada habitual nos discursos de esquerda”.
É por isto a desprezível composição da Academia, a falência de editoras e livrarias, e o esvaziamento dos festivais literários como se viu no último de Paraty.
Há igualmente outra razão para o fracasso da leitura: a baixa qualidade intelectual das gerações formadas nos governos lulopetistas, período em que se enalteceu o analfabetismo dos pelegos ocupantes do poder, e a cultura virou o monopólio de meia dúzia de intelectuais militantes financiados pelo PT-governo.
Da mesma forma, é triste conferir o que escrevem os autos assumidos e autos elogiados filósofos, que engorduram seus textos com a banha da vaidade, sem humildade e desrespeito com os antecessores, desvalorizando-se e negando-se como pensadores.
Dessa maneira, a Web é a taboa de salvação. Da minha parte, como brilhantes colegas que atuam nas redes sociais, faço-me presente com artigos duas vezes por semana, contando com uma média de 120 leitores de excelente qualidade.
Reconheço, porém, e lamento, que alguns tuiteiros da nova leva não estão habituados com a leitura ou têm preguiça de ler, sofrendo dificuldade de interpretar um texto. Levo para eles, um recado de Carlos Drummond de Andrade: – “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, são muitos os que não sentem esta sede”.
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