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HISTÓRIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“No misterioso livro do teu ser/ A mesma história, tantas vezes lida! (Fagner)

Não é de hoje; vem de muito longe o conhecimento geral de que quando um político quer conquistar o poder, mistifica as suas intenções, esconde os seus propósitos e tenta apagar o que a História registra. O exemplo está nas escrituras…. Vem com Saul, o primeiro rei de Israel, no Velho Testamento.

Sobrestando os juízes que lideravam os israelitas, Saul se impôs nas guerras contra os povos vizinhos e ganhou admiração popular derrotando os amalequitas, amonitas, edomitas e filisteus. Prestigiado, instalou um sistema monárquico e assumiu o posto supremo religioso da Nação.

Uma das suas primeiras medidas como grande rabino foi expulsar para além-fronteiras os magos e os adivinhos. Entretanto, diante de um novo e ameaçador ataque filisteu, foi a Endor, antes da batalha, interpelar uma pitonisa sobre a forma de conduzir o combate.

É sequencial no correr da História atitudes como esta entre os ocupantes do poder. Eles sofrem a síndrome da ilusão e consultam oráculos, buscam a interpretação do Tarot e a observação em bolas de cristal; creem na leitura de cartas e no jogo de búzios.

Comentava-se em Brasília que Fernando Collor, quando presidente, mantinha perto de si uma feiticeira alagoana; e todo mundo sabe que o capitão Bolsonaro e seus filhos tinham como guru o astrólogo Olavo de Carvalho, recém falecido.

Diante de constatações, o pai do ceticismo, Voltaire, nos deixou um pensamento sobre os falsos profetas dizendo que “a arte de adivinhar foi inventada pelo primeiro malandro que encontrou um pateta”. E do seu tempo até hoje os patetas proliferaram no comando de muitos países.

Durante o trágico e repulsivo regime nazista na Alemanha, os fanáticos seguidores de Hitler adoraram a cruz suástica, símbolo ocultista dos hindus e budistas, e os colaboradores íntimos, como Himler, criaram, em contraponto ao que chamavam “ciência dos judeus”, a tresloucada “Teoria do Gelo Cósmico”, a ideia estapafúrdia de uma Lua oca e a cretinice do “terraplanismo”.

Há ainda quem creia nestas idiotices nos círculos extremistas do bolsonarismo. Os dizimicidas “mercadores do Templo” que cercam Bolsonaro, negam a eficácia da imunização vacinal, e um deles – sentado no Panteão dos heróis do negativismo, o pastor Silas Malafaia – escreveu que o uso da vacina para crianças é “infanticídio”.

A mistificação pseudo religiosa ganhou muita força recentemente no Brasil. A chegada da funesta pandemia do novo coronavírus trouxe infaustas acepções sobre a saúde pública, nascidas do obsessivo achismo do capitão Bolsonaro, cujo ódio pela Cultura e pela Ciência é doentio.

… E faz pior expandindo a sua insanidade; receita remédio para malária (de uso corrente na Amazônia) para prevenir a covid-19; e aplaude o “feijão milagroso” de um pastor evangélico ligado à sua família.

Não satisfeito em desviar as atenções para o perigo do novo coronavírus, o capitão Bolsonaro zombou do sofrimento respiratório dos contaminados, imitando-os; e acrescentou à política necrófila do seu governo a repulsa pela imunização vacinal das crianças.

Nem os mais apopléticos fanáticos dele – que comprovavam falsamente nas redes sociais os benefícios da cloroquina, hidroxicloroquina e Invermectina – têm a coragem de afirmar o contrário para defender essas loucuras do Presidente.

… E está comprovado que o povo brasileiro, em sua imensa maioria, reage contra as revoltantes posições públicas de horror à Ciência. Mesmo sob a pressão propagandista nas redes sociais, nas lives presidenciais e dos mercenários e robôs no Whatsapp e no Twitter, mais de 30% dos seus eleitores de 2018 o abandonaram.

É por isto que dedico aos brasileiros a História tantas vezes lida por mim no misterioso livro do ser humano, amante da vida, que enfrenta os desígnios genocidas dos terraplanistas do bolsonarismo.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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