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Comentário

Mentor Muniz Neto (jornalista, SP)

Eu quero falar sobre uma única coisa dessa abertura da Copa do Mundo.
Quero falar sobre um momento em que parte da torcida gritou por 4 vezes seguidas a frase:
“Ei, Dilma, vai tomar no *”.

Vou dividir esse post em três.

Primeiro, falemos da frase em si.
O ato de olhar na cara de outra pessoa, e conscientemente gritar em alto e bom som essa frase é deplorável.
Mostra que você perdeu completamente o poder de argumentação.
É grosseiro.
Numa situação de convívio democrático equilibrado, não existe justificativa para uma agressão como essa.
Depõe contra qualquer causa.
Ponto final.

.

Segundo.
O jornalista Ricardo Boechat, disse uma vez que precisamos CONSTRANGER os políticos.
Concordo plenamente.
Ele continuou dizendo que temos que riscar os carros desses políticos.
Discordo veementemente.
Constranger os políticos é o que nos resta para mostrar a esses políticos e aos próximos que vão se eleger em outubro, que nós brasileiros estamos cansados de um determinado estado de coisas e que queremos mudar uma situação onde a política nacional foi colocada à venda.
Que queremos que os políticos voltem de alguma maneira, a trabalhar para nós, como deveria ser quando TODO PODER EMANA DO POVO E EM SEU NOME DEVE SER EXERCIDO.
Mas há limites para este constrangimento.
Existe uma monumental diferença entre uma vaia histórica e a grosseira atitude da torcida de hoje.

.

Terceiro.
Não estava no estádio para garantir que esses gritos começaram, como muitos estão dizendo, na “área VIP”.
Nem posso afirmar, como fez o jornalista Juca Kfouri, que os gritos vieram da “elite branca paulista”.
Acho, inclusive, nefasto classificar, qualificar ou desqualificar alguém por ser da “elite branca”.
Uma expressão tão nojenta e racista como qualquer rótulo que seja dado a outras minorias, oprimidas ou não.
Polarizar, dá nisso.
O tecido moral de nossa política já esgarçou. Há anos.
E a evidente polarização que vem acontecendo em nossa sociedade estimula a ruptura de outro tecido tão ou mais importante quanto o moral. O social.
Dizer que quem xingou a DIlma foi a elite branca, ou os pretos pobres é uma leviandade perigosa, que cria cisões irreparáveis.
Divide o Brasil, curiosamente num dia e local onde todos vestiam as suas camisas amarelas.

Concluo:
Xingar a Dilma é grosseiro e simplista. Não leva a lugar nenhum.
Vaiar a Dilma e todos os políticos corruptos é um ato que constrange e demonstra de forma clara nosso descontentamento.
Julgar quem falou o que, no meio de uma multidão de brasileiros, é leviano e perigoso.

Update:
Tem uma coisa que esqueci de escrever aqui e o Alexandre Chumerlembrou bem.
Nada disso que escrevi minimiza o fato de que essa foi uma manifestação espontânea, que deveria fazer a nossa Presidente e sua turma ficar bem preocupada.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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