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ASSUMIR

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Pessoas deveriam ter coragem de assumir seus próprios erros, assim como têm orgulho em exibir suas qualidades” (Autor desconhecido)

Um dos leitores dos meus artigos perguntou outro dia se eu tenho religião… não sei se foi uma dedução por frases garimpadas nos meus textos, ou uma provocação para me queimar no tribunal do fervor religioso… Eu respondo: Tenho, na verdade, de seis a oito religiões, todas elas baseadas na crença no Deus que Spinoza chama de “Alma do Universo”.

Adotei este conceito graças ao conhecimento de uma entrevista em que o cientista Alberto Einstein citou a teoria do filósofo Baruch Spinoza, que tenho citado nos meus artigos. A avaliação de Einstein valeu muito para que eu fosse em busca da ideia “de um deus que não se preocupe com nossos problemas pessoais”…

Com isto, encontrei a base que evitou a minha queda para o ateísmo, provocada pelo excesso de fantasia e pouca robustez das religiões judaico-cristãs; assim, acolhi e assumi que “A essência de Deus pressupõe a sua existência. A substância divina é infinita e não é limitada por nenhuma outra ”.

Ao aplicar o verbo assumir na primeira pessoa do presente indicativo, trago com ele a responsabilidade consciente por esta concepção doutrinária. Como verbete dicionarizado, “Assumir” é um verbo transitivo direto com origem no latim “assumptere”, tomar para si. Significa aceitar, acolher, admitir, e quando se trata de opinião, responsabilizar-se.

As lições acadêmicas da Filosofia usam “assumir” para indicar a aceitação de uma hipótese viável; do mesmo jeito que é possível encontrar-se nos textos bíblicos suposições e conjecturas perfeitamente aceitáveis.

Condenável na observação teosófica é o fatalismo. Recolhe-se dos Evangelhos, por exemplo, que ninguém sabe o dia em que vai morrer. Escreveu alguém – esqueci e quem puder indicar o faça – que “os condenados no corredor da morte esperam, até o derradeiro minuto, um indulto”.

A História registra outro retrato disto. O notável escritor russo Fíodor Dostoievski, autor dos memoráveis “Crime e Castigo, “O Idiota” e “Irmãos Karamazov”, foi condenado à morte, e já estava diante de um pelotão com as armas carregadas, quando chegou a ordem do Czar suspendendo a execução.

Há, por outro lado, múltiplos exemplos de pessoas que enfrentam com dignidade o fim da vida, assumindo tranquilamente a situação definitiva. Narra-se que o advogado Raymond Desèze foi indicado pelo rei Luís XVI para defende-lo no mais importante julgamento da Revolução Francesa.

Desèze apresentou o poeta, crítico e tradutor François Malherbe como testemunha de defesa e somente por participar do processo, Malherbe foi mais tarde acusado como “monarquista”, e foi julgado e condenado à guilhotina. Como era um intelectual avançado ironizou os supersticiosos ao tropeçar nos degraus do cadafalso, dizendo: -“Que mal sinal! Um romano antigo voltaria para casa…”

A superstição é irmã gêmea do fatalismo, e ambos são uma peculiaridade de uma religião mal interpretada, como alertava o pastor Martin Luther King, assim como a politicagem, filha bastarda da Política com “P” maiúsculo, é uma característica do tempo que atravessamos.

Vejam bem. Nunca vimos um ocupante do poder assumir que cometeu um erro, um engano, um desempenho prejudicial no governo. Agora mesmo, que estamos enfrentando a grave pandemia do novo coronavírus e suas consequências mortais da covid-19, não vimos ainda o Presidente, nem os juízes, governadores, nem congressistas ou prefeitos, reconhecendo que erraram em alguma decisão tomada.

E foram vários os erros, de todos eles. É por isso que não lhes reconheço como os líderes políticos que eu gostaria de ter. Deixo John Maxwell falar por mim: “Liderança é assumir responsabilidades enquanto outros inventam justificativas”.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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