Muitos padres católicos e pastores evangélicos teem condenado em seus sermões o surto desenfreado da roubalheira do dinheiro público; uns mais eloqüentes, outros menos, mas firmes em suas pregações moralizadoras. Mas até agora nenhum se comparou ao arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, na sua prédica da missa de Nossa Senhora Aparecida.
Disse dom Odilo: “Quando não somos mais capazes de reagir e nos indignar diante da corrupção, é porque nosso senso ético também ficou corrompido”. Quero aplaudi-lo, e assinar abaixo dessas colocações.
É pensando assim que tenho acompanhado todas as marchas contra a corrupção mobilizadas pela Internet no Rio de Janeiro. No meu protesto contra os aliciamentos, cala-bocas, peitas e propinas, assumo o bom combate contra a perversão dos ocupantes de cargos públicos nos três poderes.
As marchas e concentrações populares são a resposta da inteligência brasileira ao pavoroso desfile dos casos escandalosos de corrupção nas prefeituras, câmaras municipais, assembléias legislativas, Câmara, Senado, e nos governos estaduais e Federal.
Somos poucos nas manifestações, é verdade, mas estamos seguidamente calcando nas cabeças das pessoas honestas a consciência do maldito capítulo da História do Brasil em que a impunidade triunfa pelo acumpliciamento com os três poderes da República.
É também verdade que se deve ao eco das marchas a queda de cinco ministros envolvidos em casos de corrupção; e, como isso não bastasse, entrou na agenda política dos governantes. É visível a preocupação da presidente Dilma Rousseff em abordar o tema.
A partir do dia 7 de setembro – quando teve início o incentivo das redes sociais para as marchas irem para as ruas e praças em nome da moralidade pública – há uma movimentação espontânea das massas, sem o apoio da mídia nem a participação dos movimentos sociais, em grande parte cooptados por verbas públicas.
Também não contam com o apoio dos partidos de oposição, temerosos de que as reclamações do povo respinguem sobre si. Não se conta com um mínimo de incentivo desses partidos para que sua militância participe individualmente das concentrações.
Aparecem desculpas amarelas para explicar e justificar sua ausência omissa, atitude que não é compartilhada com pequenos partidos de esquerda, como o PCB, PPS, PSOL e PSTU, que sem exibir suas bandeiras participam – pelo menos no Rio de Janeiro – das demonstrações contra a corrupção.
É triste a constatação de que as militâncias do PT e do PC do B, que sempre estiveram presentes nos atos de indignação da sociedade contra os malfeitos do poder central, engavetem os seus princípios, deformem as suas ideologias e reforcem a imaginação popular de que o poder corrompe.
Analisamos igualmente a falta de comparecimento das classes médias (as autênticas, não a do efeito propagandístico do PT-governo). Por que não se faz presente esse seguimento social, que é por formação, defensor da ética na política?
O que afasta da luta cidadã as pessoas de classe média é o medo das perseguições, da perda de empregos e de posições conquistadas, e até da violência física da parte do aparelho de repressão e blindagem dos políticos corruptos e corruptores.
Para mim, isso expõe o não comparecimento de artistas, intelectuais e profissionais liberais, presos a esquemas de financiamento de produções culturais. É certo que tomam conhecimento de atos desabonadores nos corredores ministeriais e estão informados das denúncias não desmentidas.
Que há exceções, há. Em Copacabana, no dia 12, encontramos vários atores, cantores, músicos e jornalistas. Todos assumindo o temor pela acelerada degeneração dos políticos e das instituições republicanas.
É assim. Cidadãos e cidadãs bem informados desprezam a contra-informação da agência central dos corruptos. Não querem desestabilizar o governo Dilma, nem fazer o jogo da oposição de fachada. As marchas da indignação contra a roubalheira se alimentam dos sucessivos escândalos que a imprensa desvenda, sem contudo fazer o jogo de proprietários dos meios de comunicação.
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