Categorias: Artigo

SUBSTANTIVOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O substantivo em sua majestade, o adjetivo, roupa transparente que o veste, e o verbo, o anjo que lhe dá impulso” (Baudelaire)

Os auto-assumidos conservadores e moralistas distribuem toneladas de pareceres recomendando austeridade e bom senso, mas não prescrevem sequer poucas gramas de rejeição à hipocrisia e a mentira. Vemos isto no cardápio diário das redes sociais, do café-da-manhã à última refeição do dia….

Parece-me a pregação do bom senso pelos puritanos do século 21 pelo bom senso ecoa apenas na “região inexplorada” (“the indiscovered country”) a que se refere Shakespeare no enredado terceiro capítulo de Hamlet; ou, abrasileirando, discurso às pedras do deserto, como escreveu Plínio Salgado.

Não cola. Porque faltam exemplos dos “andares de cima”; palavras, o vento as leva, enquanto o proceder correto desperta admiração e estimula a imitar; impõe respeito e se constitui em modelo.

O cenário contraditório é amplo; político, religioso e social. Um palco aonde se gasta hectolitros de substantivos qualificativos para tingir uma postura de momento. São muitas as cores dos “ismos”; vão das nuances do anarquismo ao absolutismo. Nenhum deles, porém, pior do que o negacionismo, que estimula a cavalgada de grupos obscurantistas com a bandeira da ignorância.

Se estudassem, veriam que as ciências astronômicas, físicas, matemáticas e químicas vêm da aurora da História da Antiguidade. Engatinharam, arrastaram-se, cambalearam; mas de dois mil anos para cá, só um néscio se opõe a conceitos que podem ser provados cientificamente.

Entretanto, temos até dias de hoje idiotas defendendo que a Terra é plana, séculos depois de Galileu enterrar o geocentrismo e, 400 anos mais tarde, Iuri Gagarin ter visto e fotografado o globo terrestre exclamando: -“A Terra é azul! ”.

Vemos em plena pandemia do novo coronavírus a cambada negacionista ignorar a Ciência, rejeitando conceitos apoiados no consenso científico internacional; monta na égua da desinformação para se contrapor aos conceitos médicos de prevenção contra a covid-19, de evitar aglomerações, usar máscara e na medida do possível, fazer o isolamento social.

No Brasil, estas falanges imbecilizadas pelo fanatismo tentaram sob o comando do próprio presidente da República, boicotar a vacinação. Assistimos Bolsonaro falar de público que “quem tomasse a vacina poderia virar jacaré”, “que cresceria barba nas mulheres” e “os homens iriam falar fino”…. O filho Eduardo, não menos idiota, ao ser aconselhado a se resguardar, mandou que “enfiassem a máscara no rabo” em vídeo divulgado nas redes sociais.

Tal rejeição à Ciência Médica e desrespeito ao povo brasileiro, merece, sem dúvida, nomear com substantivos adjetivados o estado patológico da familiocracia que ocupa o poder.  Incentiva-nos a empregar substantivos comuns, figurativos ou temáticos, para classificar a estupidez do seu negacionismo.

E para piorar o quadro da política necrófila do Governo Bolsonaro, ficou instituída a Mentira, a do Presidente, sempre; e por espírito de imitação daqueles que o cercam perfilados, como o ex-ministro Eduardo Pazuello. Negando que a verdade é um símbolo da honra militar, mentiu na CPI da Covid, diante de documentos apresentados.

O substantivo feminino Mentira, ato de mentir, tem etimologia latina mentīre, remetendo ao latim clássico mendacium, ou, como querem outros, mentionica, do latim tardio.

Adotou-o Pazuello à frente do Ministério da Saúde, de prontidão diante do “chefe de Estado”, “chefe de Governo”, “comandante-chefe das FFAA” e “chefe da Administração Federal”; não esquecendo de que o Capitão-Generalíssimo, quando diz besteira, fala como “agente político”…. Lembrou-me nazistas em Nuremberg.

Diante disto, o perfil do General é o de que, após comandar a batalha contra a pandemia, deixou o Ministério resumiu em duas palavras a sua passagem por lá: “Omissão cumprida”….

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03

Marina Colasanti

Outras palavras Para dizer certas coisas são precisas palavras outras novas palavras nunca ditas antes ou nunca antes postas lado…

21 de setembro de 2025 20h00