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Poesia

Soneto Presunçoso

Que forma luminosa me acompanha

quando, entre o lusco e o fusco, bebo a voz

do meu tempo perdido, e um rio banha

tudo o que caminhei da fonte à foz?

Dos homens desde o berço enfrento a sanha

que os difere da abelha e do albatroz.

Meu irmão, meu algoz! No perde-e-ganha

quem ganhou, quem perdeu, não fomos nós.

O mundo nada pesa. Atlas, sinto

a leveza dos astros nos meus ombros.

Minha alma desatenta é mais pesada.

Quer ganhe ou perca, sou verdade e minto.

Se pergunto, a resposta é dos assombros.

No sol a pino finjo a madrugada.

Lêdo Ivo

Poeta, romancista e ensaísta, Lêdo Ivo nasceu em Maceió, Alagoas, em 1924. Fez a sua primeira formação literária no Recife e, em 1943, transferiu-se para o Rio, onde continuou a atividade jornalística iniciado na província. Formado pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, nunca advogou.

Lêdo lvo estreou em 1944, com “As Imaginações”, livro de poemas a que se seguiram “Ode e Elegia”, “Acontecimento do Soneto”, “Ode ao Crepúsculo”, “Cântico”, “Linguagem”, “Um

Brasileiro em Paris”, “Magias”, “Estação Central”, “Finisterra”, “O Soldado Raso”, “A Noite Misteriosa”, “Calabar”, “Mar Oceano”, “Crepúsculo Civil” e “Curral de Peixe”.

Como poeta, foi distinguido com o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Cláudio de Souza, do Pen Club do Brasil, o Prêmio Jabuti, o Prêmio de Poesia da Fundação do Distrito Federal e o Prêmio Casimiro de Abreu.

Lêdo Ivo pratica também a ficção e o ensaio. Ao seu romance de estréia, “As Alianças” (l947), foi conferido ao Prêmio Graça Aranha, e “Ninho de Cobras” conquistou o Prêmio Nacional Walmap de 1973. Os romances “O Caminho Sem Aventura”, “O Sobrinho do General” e “A Morte do Brasil” e o livro de contos “Use a Passagem Subterrânea” completam a sua produção como ficcionista.

Entre seus ensaios, figuram “O Universo Poético de Raul Pompéia”, “Poesia Observada”, “Teoria e Celebração”, “Ladrão de Flor”, “A Cidade e os Dias”, “A Ética da Aventura” e “A República da Desilusão”.

Como memorialista, publicou “Confissões de um Poeta”, que mereceu o Prêmio memória da Fundação Cultural do Distrito Federal e “O Aluno Relapso”.

Seu romance “Ninho de Cobras”, foi lançado em inglês pela editora Directions, de Nova Iorque, sob o título “Snakes’ Nest”, e pela Editora Peter Owen, de Londres e em dinamarquês (“Slangboet”) pela Editora Vindrose, de Copenhague. No México, saíram várias coletâneas de poemas seus, entre as quais “La Imaginaria Ventana Abierta” “Oda al Crepusculo”, “Las Pistas”, e “Las Islas Inacabadas” Em Lima, Peru, foi editada uma antologia, “Poemas”. Outra antologia, “La Moneda Perdida”, saiu na Espanha. Na Venezuela, foi publicada ” Poemas”.

Em 1982, Lêdo Ivo foi distinguido com o Prêmio Mário de Andrade, conferido pela Academia Brasiliense de Letras ao seu conjunto de obra, O seu livro de ensaios “A Ética da Aventura”, mereceu, em 1983, o Prêmio Nacional de Ensaio do Instituto Nacional do Livro. Em 1986, Lêdo Ivo recebeu o Prêmio Homenagem à Cultura, da Nestlé, pela sua obra poética. Em 1990, foi eleito o Intelectual do Ano pela União Brasileira de Escritores (Troféu Juca Pato).

Ledo Ivo pertence à Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito por unanimidade, e é Comendador da ordem do Rio Branco e oficial da ordem do Mérito Militar.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu
Temas: Ledo Ivo

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