Soneto
Nem heróis como Ulisses e outros mais
Por mais sagazes e por mais divinos
Cheios de graça e louros peregrinos
Desafios provaram aos meus iguais.
Brilho desses olhos tão sensuais
Tanto inflamou meus sonhos femininos
Que para meus ardores repentinos
Não há remédio, se vós não m’o dais.
Ó dura sorte, que me faz igual
A quem pede socorro ao escorpião
Contra o veneno do mesmo animal.
Só peço que não me venha a fenecer
Esse desejo no meu coração
Porque, sem ele, é bem melhor morrer.
Louise Labé
(Traducão de Sergio Duarte)
A Poetisa
Louise Labé nasceu e viveu toda a sua vida em Lyon. Diz-se que era mulher de muita beleza, casada com um comerciante de cordas, e que promovia grandes saraus literários.
Sua poesia é inferior à sua obra em prosa “Débat entre la Folie et Amour” que retoma o “motif” em que Loucura é a responsável pela cegueira de Amor.
E seus sonetos ainda que cheios de fragilidades formais são mais conhecidos do que a obra em prosa. E deles, o mais célebre é este Soneto 18 que, como se pode ver desde quando foi publicado no ano de 1555, é praticamente licencioso e revela uma rebeldia pouco aceitável e praticamente inaudita não só para a época, como também para o meio provinciano em que ela nasceu e viveu.
Queria que vissem que se há lirismo em Louise, a ele sobrepõe-se a paixão, os sentidos e a incitação.
Curiosamente, os sonetos, em número de 24 – o primeiro deles foi escrito em italiano, o que seria uma marca da influência do Renascimento peninsular em sua obra – têm como tema, aspirações, desejos, arrependimentos, desilusões e -quem sabe?- realizações de aventuras amorosas que lhe eram atribuídas e eles lhe renderam um processo judicial pelos calvinistas que então governavam Lyon.
De toda forma, a despeito dos deslizes formais, até hoje, passados mais de 4 séculos, Louise continua a ser estudada e admirada, como uma criadora de histórias de Amor, que não importa sejam ou não reais, ideais ou idealizadas. São uma intenção de vivência.
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