Categorias: Cultura

PARÁBOLAS(2)

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Há quatro características que um juiz deve possuir: escutar com cortesia, responder sabiamente, ponderar com prudência e decidir imparcialmente” (Sócrates)

O último texto, uma crônica que postei no Blog com o mesmo título, com a intenção diversionista de queimar as afirmações que fiz no meu artigo “Realidade” dizendo que o Governo Bolsonaro lutava contra a corrupção, li entristecido que o Presidente sancionara a criminosa anistia dos partidos que usaram verbas ilegalmente.

A narração trouxe Machado de Assis como avalista e fez sucesso. Micro contos de tema livre são fáceis de ler e ainda mais facilmente de assimilar. Ao que parece as primeiras parábolas vieram na antiga literatura persa e foram consagradas nos textos rabínicos e depois na Grécia, de onde herdamos este gênero literário.

Como ainda estou com raiva de escrever sobre política, e por sugestão da nossa colega do Twitter Alzira Almeida, trago volto na intenção de espalhar curiosidades que caíram no esquecimento, como páginas bolorentas de velhos almanaques.

Ao mesmo tempo dou vazão à minha paixão pelas parábolas, alegorias que fazem refletir. Encontrei uma delas no livro “Colar de Afrodite”, do jornalista e escritor ítalo-argentino, Pittigrilli, cuja admiração veio do meu pai. Pitti escreveu:

“A estupidez humana obedece a leis constantes, como as que regulam a queda dos corpos e a dilatação dos gases. Em qualquer País do mundo, chegando de viagem, deixe-se o carro empoeirado numa rua de Londres ou ao longo das docas de Xangai e voltando meia hora depois encontrará uma assinatura, um chiste ou sinal desenhado nos para-brisas.

“Aonde você for, andando a pé, de metrô ou de ônibus, veem-se os mesmos gestos, ouvem-se as mesmas frases, e observamos a defesa de ideias provocando as mesmas reações; só não provocam brigas as afirmações, inda que modestas, de inteligência pessoal e de desconfiança nos outros.

“No após guerra, um repórter do “Le Monde” postou-se numa esquina do centro de Paris oferecendo à venda numa bandeja moedas de ouro autênticas, mas já fora de circulação, cobrando o equivalente, na época, a R$ 0,50. Não vendeu nenhuma”. O medo da moeda falsa, na minha opinião, não faz parte da estupidez humana. Quando crianças, logo que conhecemos o valor do dinheiro, nos ensinam a temer passadores de moedas falsas.

Infelizmente, porém, a realidade dos adultos nos leva a conviver com os moedeiros falsos da política populista. Esta ilusão é tradicional entre os povos da América Latina, onde os caudilhos no Cone Sul e os caciques no Norte bolivariano assumiram o poder nas guerras da independência.

Mais tarde, sob influência fascista, tivemos ditaduras populistas no século passado na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Peru e Venezuela, sendo os mais importantes ditadores Getúlio Vargas, no Brasil, e Juan Domingos Perón, na Argentina, que mortos, ainda mantêm influência política.

O populismo é pior do que uma nota falsificada, porque é como a de R$ 3,00, que nunca foi impressa pela Casa da Moeda…

Por ser usado tanto por ideologias de direita como de esquerda, o conceito de populismo na filosofia política e nas ciências sociais, têm definições diferentes, e ainda mais, porque pode ser adotado nas monarquias e nas repúblicas…

Um monarca populista da História Antiga se viu diante a necessidade de indicar um juiz para a Suprema Corte; queria um magistrado honesto e inteligente; então convidou os candidatos ao cargo ao Palácio. Lá, foram postados diante de uma mesa onde havia uma fruta.

– “Que é isto? ”, perguntou o rei.

– “Uma laranja! ”, enfatizaram quase todos de uma só vez; um deles, porém, pediu licença para se aproximar deu uma volta em torno da mesa. – “Meia laranja! ”, disse, vendo a falseta que os cortesãos haviam feito, botando meia laranja com o interior de costas para os candidatos. E foi nomeado.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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