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Artigo temático sobre caso Lula x Gilmar Mendes

Chantagem de Lula e o esgoto fétido da política

MIRANDA SÁ ( E-mail: mirandasa@uol.com.br )

Tudo indica que a CPI do Cachoeira irá quebrar o sigilo das contas da Delta, a empreiteira do PAC, graças à inconfidência de Vaccarezza, desnudando a imoral blindagem de Sérgio Cabral. Mas é improvável que a investigação parlamentar chegue ao alicerce da corrupção da relação público privada do contraventor e os governos.

Por que a CPMI foi uma invenção de Lula da Silva para investir contra a liberdade de imprensa através da revista Veja, e atacar os tucanos envolvidos no esquema da corrupção de Carlinhos Cachoeira.

Passou despercebido por muita gente – inclusive por mim – que por baixo do pano, havia outro objetivo do Pelegão: retardar o julgamento do Mensalão, o que se revelou agora com a imoral chantagem dele sobre o ministro Gilmar Mendes, do STF, deixando evidente um pérfido trabalho de desmoralização da Justiça para salvar os quadrilheiros lulo-petistas do escândalo.

A extorsão de Lula teve a ajuda do conhecido Nelson Jobim, falsificador confesso da Constituição de 88, que convidou Gilmar Mendes por telefone para o encontro no seu escritório. Esse indecoroso episódio foi marcado por uma pergunta direta do ex-presidente e da resposta tímida do juiz do Supremo:

– “Não tem como adiar o julgamento?”, perguntou Lula. – “Se for adiado, o Supremo sofrerá um desgaste profundo”, argumentou Gilmar…

Diante da resposta, Lula disse ter controle da CPI do Cachoeira e garantiu blindagem a Gilmar isentando-o de envolvimento com o senador Demóstenes Torres numa viagem a Berlim de ambos, com as respectivas esposas, tudo pago por Cachoeira.

O preço da ‘proteção’ oferecida pelo Pelego chantagista seria a prescrição do julgamento dos mensaleiros Delúbio Soares, José Genoino, Marcos Valério, Duda Mendonça e outros 32 réus menos votados.

Para não desacreditar o STF junto à cidadania – felizmente – Gilmar Mendes reagiu com dignidade, dizendo que viajou com Demóstenes “que eu e o senhor conhecíamos antes…” E recomendou a Lula: ”Vá fundo na CPI”.

Ainda no encontro, Gilmar ouviu Lula dizer que encarregaria Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF, de convencer a ministra Carmem Lúcia para atrasar o julgamento.

Essa trama desleal e traiçoeira acarretaria uma crise institucional em qualquer país civilizado; aqui ainda encontra alguém que desacredite ou considere normal o ocorrido. Por felicidade, essa negligência obscena não repercute entre os homens de bem, patriotas e republicanos.

Assim, o decano do STF, o ministro Celso de Mello, censurou com dureza a ação de Lula, dizendo que se ele ainda fosse presidente da República, seu comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de poder tenta interferir em outro.

Também o ministro Marco Aurélio, considerou que foi um tipo de acontecimento que não se coaduna com a liturgia do Supremo, e que “(…) Precisa-se compreender que um ministro do Supremo não é cooptável”.

Há muitas opiniões convergentes e lamentações de que o processo do Mensalão continue engavetado no STF, sofrendo manobras para que atrase e conseqüentemente prescreva. Mas nos satisfaz a promessa do atual presidente da Alta Corte, ministro Ayres Britto, de que submeterá ao plenário a agenda do processo e que marcará o julgamento para o início de junho com sessões que se estenderiam até julho.

É pena que isso fique na dependência do ministro Ricardo Lewandowski, revisor, e do ministro-relator Joaquim Barbosa, que avisou que deve viajar no início de julho, já estando de passagem comprada…

Também entra em cena o perigo de que o cronograma imaginado por Ayres Brito ultrapasse a data da aposentadoria do ministro Cezar Peluso, marcada para o final de agosto.

Por tudo isso, fica revoltante se imaginar que a chantagem de Lula venha cair no fosso da impunidade e que as penas dos quadrilheiros do Mensalão venham a prescrever, arrastando o Poder Judiciário para o esgoto fétido da política, levando com ele a nossa República.

Miranda Sá

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