Raspando os 80 anos de idade, com mais de 60 de jornalismo profissional, defensor do casamento da informação com a opinião, confesso que estou com medo das ameaças à Lei da Ficha Limpa, e disposto a defendê-la pro que der e vier.
Minha inquietação vem crescendo desde que ouvi o ministro do STF, Gilmar Mendes, comparar a Lei de Iniciativa Popular com uma ‘roleta russa feita pelos partidos com todas as balas no revólver’. As críticas dele veem de longe, mas esta transbordou no dique enlameado da corrupção.
Disse mais o senhor Mendes, em entrevista dada ao repórter Felipe Recondo. Ainda se referindo à Ficha Limpa, sugeriu que ‘o Congresso talvez venha a se conscientizar de que não pode ficar aprovando leis simbólicas’.
Se eu fosse rei de Espanha lhe mandaria calar-se. É preciso que a Nação grave na consciência social que a Lei da Ficha Limpa nasceu de iniciativa popular, da intelligentsia de uma Nação desesperada por um tsunâmi de amoralidades.
O povo brasileiro não deve esquecer, também, que é a obstinação dos patriotas cansados do esbulho político, que mantém acesa a mobilização nacional e as manifestações pontuais pelo Brasil afora.
É de lamentar que a chamada sociedade civil organizada mergulhe no silêncio diante da roubalheira generalizada dos governos lulo-petistas. Isso, para mim, não é o ‘silêncio dos inocentes’, mas a cooptação explícita, através das verbas públicas, a omissão dos pelegos dos movimentos sindical e estudantil.
Esta omissão – principalmente dos estudantes – é lamentável. Aliás, pior do que uma lástima causa-nos repugnância vendo as novas gerações acomodadas diante do poder, perdendo a condição de se indignar ou de, pelo menos, questionar.
Agora, chega em boa hora e acertadamente, a ampliação dos horizontes da Lei da Ficha Limpa pelo Tribunal Superior Eleitoral, barrando a candidatura de quem teve as contas da campanha de 2010 reprovadas.
Os ministros responsáveis pelas eleições recebem o meu aplauso, pois servem de exemplo aos seus pares de outras cortes de Justiça para investigar, arrolar e punir quem tenha enriquecido o patrimônio sem indicar a fonte dessa acumulação de capital.
Esta medida correta – e exemplar – do TSE atiçou um enxame de insetos vespídeos da decomposição ética e moral da classe política. Foi imediata a reação dos corruptos, vendo mais de 20 mil dos seus comparsas impedidos de participar da eleição municipal por contas rejeitadas.
Reuniram-se vários partidos na liderança do PMDB, para apoiar uma petição do PT ao TSE pedindo reconsideração da medida. Essa mistura suspeita de cores partidárias é um verdadeiro arco-íris de depravação.
Sob mil e uma justificativas – algumas cínicas, outras insolentes – as lideranças parlamentares se arregimentam na tentativa de proteger os colegas comprovadamente fichas sujas.
Seus nomes estão nos jornais, o que nos exime de ocupar espaço com eles. O triste, para mim, é ver no meio dessas abomináveis figuras, muitos dos que se auto-avaliam como representantes da oposição.
Diante disso, concedo um crédito ao lúcido memorialista Sebastião Nery, que outro dia escreveu analisando que a segurança de Dilma se assenta mais sobre a oposição dos tucanos e agregados, do que nos próprios correligionários.
Do bravo jornalista saiu o texto: “No Planalto, teme-se muito mais Henrique Eduardo Alves, José Sarney e Renan Calheiros do que Fernando Henrique, Geraldo Alckmin, Aécio Neves e até José Serra…”. Falou e disse.
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