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Artigo temático do fim-de-semana

Festim de libertinagem público-privada

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Um antiqüíssimo adágio chinês diz que uma imagem vale por mil palavras… Infelizmente só tenho os caracteres gráficos neste texto, sem poder reproduzir as fotos que o deputado Anthony Garotinho expôsem seu Blog, registrando um diabólico conúbio entre o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e alguns secretários, com o dono da Delta, Fernando Cavendish.

Até um retrato amarelado de memórias estudantis chamaria a atenção pela íntima descontração do grupo cabralino confraternizando em 2009, no Hotel Ritz, Paris. A rapaziada simula a dança da garrafa com fraldas na cabeça, riso incontido e olhos esbugalhados de satisfação.

Uma das fotografias divulgadas é revoltante. O mais condescendente entre os defensores da honestidade no trato da coisa pública, ficará indignado vendo Cavendish abraçando afetuosamente o secretário Régis Fichtner, indicado por Cabral para investigar os contratos da Delta com o Estado.

O amplexo fraterno mostra que a ‘fiscalização’ do Governo do Rio de Janeiro é um zero à esquerda. E desmente, com veemência, o senhor Luiz Fernando Pezão, o vice-governador do Estado, que há poucos dias abonou os contratos com a Delta, afirmando que esses “obedeceram a todos os editais”. E não satisfeito com este firme aval, acrescentou que a Delta seria “uma empresa agressiva, por isso tem mais contratos”.

Assim, vê-se que chegaram ao Rio as vigorosas ondas do mar de lama que se propagam nos quatro cantos do território nacional, e que sobrenadam nelas luxuriosas farras com o dinheiro público, segundo as legendas que acompanham as fotos.

Este tsunami pútrido da corrupção arrasta consigo numerosos políticos, de todos os partidos, e o Correio Braziliense enumera 26 deles, governadores, um senador e deputados federais.

A editoria do jornal brasiliense parece assombrada ao contextualizar que “as notícias não param, nunca se viu nada igual”. Realmente, as revelações da Polícia Federal, colhidas de conversas telefônicas, comprometem irrefutavelmente a empreiteira Delta, detentora de quase 70% das obras do PAC.

A lista publicada traz entre os suspeitos, os nomes de Carlos Roberto Pacheco, vice-presidente da Delta; Heraldo Puccini Neto, diretor da regional Sul e de São Paulo; e Cláudio Dias de Abreu, ex-diretor da empreiteira na Região Centro-Oeste. Além desses, relaciona mais seis funcionários da Delta.

A empresa ‘era’ a frente legal do esquema de Carlinhos Cachoeira, mantendo com ele e seus prepostos contatos freqüentes. E não parava por aí; o jornalista e deputado Fernando Gabeira, em sua análise sobre a Delta, conclui tratar-se como sua definição geográfica, isto é, “uma foz de muitos braços de rios”.

E é Gabeira quem denuncia, e precisamos ficar atentos, que “a Delta será poupada de investigações sobre suas ramificações e negócios ilícitos, especialmente no Rio de Janeiro”

Realmente, a estratégia lulo-petista na chamada CPI de Cachoeira se assenta no salvamento dos seus companheiros e parceiros próximos, dirigindo as investigações como o fato isolado das relações entre o principal agente da corrupção e os seus colaboradores do mundo político.

Assim, os governistas tentarão sanear um canal, blindando-o com a argamassa hidráulica do poder, mas deixarão os demais braços do delta Cachoeira vazar até onde não der…

Não posso esconder dos que me honram com a leitura dos meus artigos que estou assombrado com o comprometimento de governantes federais e estaduais com este conjunto de elementos criminosos. Pelo menos no Rio de Janeiro, passei a ver mais do que uma cordialidade social de políticos e empresários, mas um festim de libertinagem público-privada.

Miranda Sá

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