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PAC estouvado e a falta de Educação

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Será que sonhei ou foi uma bad trip no sexto círculo do Purgatório, junto com Dante e Virgílio? Conversei ontem com familiares e amigos íntimos que desfizeram a certeza que eu tinha de que entre as sacanagens eleitoreiras Lula-Rousseff havia um “PAC da Educação”…

Ajudem-me a não ser internado. Alguém ouviu disto em algum lugar? Socorram-me, porque fui ao doutor Google e encontrei um montão de blogs chapas-branca elogiando tal Plano de Desenvolvimento da Educação e muitos deles batizando esse traste, que não saiu do papel de “PAC da Educação”.

O PDE foi bombasticamente lançado, como “nunca antes neste País” pelo fanfarrão Lula da Silva, e para este programa foi destinado só para o Mato Grosso do Sul, R$ 60 milhões, segundo a Comissão de Educação e Cultura do MEC. Para outros estados devem ter dados quantias equivalentes, é claro, mas só tenho de concreto a notícia do MS, informado pelo deputado petista Antonio Carlos Biffi no Blog Campo Grande News.

Procurei a prestação de contas das verbas que escorreram para o “PAC da Educação”, mas nada encontrei. Estou pensando em recorrer à ONG Contas Abertas, pois na verdade o PDE não faz parte do PAC e se esfumaçou não mais que de repente.

Vamos concordar que se o PDE viesse no bojo do PAC, filho embalado por Dilma nos palanques da campanha que a elegeu, seria a mesma coisa, porque está tão emperrado como caminhão atolado na lama.

No correr deste ano do Senhor de 2011, quase nenhum avanço foi registrado (falam na execução de 74% das obras, o que é mentira), e no próximo ano não há esperança de melhora. O governo Lula Rousseff alega que a coisa está amarrada por causa da crise financeira internacional que obriga a redução de gastos para frear a inflação.

O breque na gastança não ocorre em outros setores. Dinheiro público sobra para as ONGs penduradas nas tetas da administração pública, federal, estadual e municipal, e é desviado para partidos e políticos corruptos.

Outro motivo do andor ir devagar é a incompetência dos quadros aparelhados nos órgãos oficiais, batendo cabeça pela entranhada e persistente inaptidão lulo-petista em gerenciar os recursos públicos.

Não se pode deixar de fora a roubalheira endêmica, epidêmica e quase chegando à pandemia. Foi o que se viu nos cinco ministérios cujos ministros caíram – todos jurando inocência. Embora “inocentes”, foram encontrados escandalosos exemplos de malversação de verbas.

É possível, não assumo a responsabilidade de afirmar, que essa febre virulenta do PAC tenham contaminado o PDE, ou vice-versa. Porque o que se vê no setor Educação, pelos números do Censo Demográfico de 2010, é que o País marca passo no item educação, notadamente no ensino fundamental, justamente o alvo do PDE.

Nos dados divulgados pelo Banco Mundial e pela OCDE, o percentual de analfabetismo na faixa dos 15 anos no Brasil é enorme, cerca de 13 milhões não sabem ler, escrever ou fazer as quatro operações aritméticas. E o mais triste é que nos nivelamos com países africanos muito pobres, como o Zimbábue (8% de analfabetos/15 anos ou mais) e a Guiné Equatorial (com 7%).

Ainda mal comparando, encontramos no Censo – respeitável trabalho do IBGE –diferenças internas, regionais, que assustam os brasileiros decentes. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste a taxa de analfabetismo de pessoas com mais de 15 anos varia de 5% a 7%, mas no Norte vai a 11,2% e no Nordeste atinge 19,1%!

O PAC estouvado pode até atrasar as obras eleitoreiras prometidas pela fácil demagogia do ex-presidente Lula, mas o que ocorre na Educação é crime de lesa-pátria. Não cumprir a promessa de consolidação e expansão do ensino fundamental nas escolas públicas contida no PDE – de codinome “PAC da Educação” –, por corroer o futuro do Brasil, precisa ser lembrado e cobrado do governo Lula Rousseff.

Miranda Sá

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