Como a minha filha Manuela vem de São Paulo passar o feriadão conosco aqui no Rio, resolvi voltar à cozinha para fazer um strogonoff para ela, que é o prato que mais adora. “Voltar” a cozinha é um acontecimento, embora eu tenha sido um excelente cozinheiro, antes de usarem a palavras “chef”.
Gosto de cozinhar ouvindo música e resolvi escutar um interminável mp3 de músicas dos filmes daqueles westerns macarrônicos que fizeram sucesso entre os fãs do Far West.
Encontrei maravilhas do excelente compositor Ennio Morricone, que aderiu ao arranjo musical cinematográfico e fez trilhas notáveis, e, entre outros, também o álbum “O Melhor do Bang Bang à Italiana”, de Maurice Renet, autor do imortal “O Dólar Furado”.
Entre o trinchar da carne, o cortar das cebolas e as mexidas nas panelas, meu pensamento levou-me ao bang-bang que impera na política nacional, tendo como cenário não um vilarejo do Oeste norte-americano, mas a moderníssima Brasília.
Para mim é lá, na cidade traçada pela insigne dupla Niemayer-Lúcio Costa que se desenrolam os piores filmes classe “C” da política nacional…
É em Brasília, no Distrito Federal, capital da República, que fica o estúdio e os camarins que exibem as descaradas e impudentes armações políticas e os cínicos depoimentos dos seus atores.
Ali, no Planalto Central, assistimos os trailers dos curtas-metragens da derrubada escandalosa de cinco ministros sob suspeita de corrupção, expondo, cada um deles, um descaramento tão vergonhoso que inverte a tragédia republicana em comédia chapliniana. Chanchada de Oscarito e Grande Otelo.
Agora entraram em cena o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. O Ministro é um canastrão, astro improvisado, sem preparo, inoportuno e inconveniente, colocado no cargo por uma súcia de burocratas do Partido Democrático Trabalhista que manobra a política de resultados depois da morte de Brizola.
O outro não. É um ator na mais legítima definição de Fernando Pessoa, “Um homem que sabe fingir”. Vem da mesma escola que o penúltimo ministro a cair, Orlando Silva, que desmoralizou o Ministério do Esporte com uma infinidade de malfeitos e contravenções dirigidos em nome da “causa” defendida pelo seu partido, o PCdoB.
Agnelo é o desmentido mais veemente da correção do pobre e ignorante eleitorado brasiliense que o elegeu pensando em punir os maus políticos que se sucederam no governo do DF. O episódio da sua eleição trouxe debaixo dos panos a ajuda de lobbies que se aproveitaram de sua passagem na ANVISA.
As denúncias saíram agora, numa confusão de compra e venda de lobista que primeiro afirmou e apresentou documento dizendo ter pago, em 2008, propina de R$ 50 mil a Agnelo em troca de autorização à empresa de setor farmacêutico para participar de licitações. Essa empresa doou depois, para a campanha eleitoral, R$ 200 mil.
Diante da acusação, Agnelo fala que o valor depositado em sua conta tratava-se da “devolução de quantia concedida em empréstimo à referida pessoa”. Não diz o como e o porquê do empréstimo.
O roteiro original se inspirou certamente do domínio do Poder Central por um grupo de arrivistas que conquistaram a presidência da República por um estelionato eleitoral e se mantém graças ao amoralismo que transformou o Ministério em capitanias partidárias, verdadeiros feudos com faculdade de distribuir o dinheiro público como lhes aprouver.
Dói na consciência dos patriotas brasileiros verem que em paralelo aos crimes contra o Erário, a nacionalidade é agredida por uma crise econômica, política e ambiental, que põe em risco o futuro nacional.
Para fugir ao mergulho inconsciente numa crise psicológica – existencial – que amargura os espíritos lúcidos deste País lamentando o caso Agnelo Queiroz, o melhor é fazer strogonoff, ouvir o bang-bang à italiana e rir – rir muito – do “tiro” de Carlos Lupi.
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