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Porquê o BNDES financia o “companheiro” Diniz?

MIRANDA SÁ (e-mail: mirandasa@uol.com.br)

Todo mundo sabe do relacionamento íntimo do dono do grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz, com Lula, o PT, e de enrolada, o Governo Federal. O empresário é tratado de “companheiro” pelo ex-presidente e mantém afetiva aproximação com o ex-chefe da Casa Civil de Dilma, Antonio Palocci.

Abílio Diniz tem como sócio a empresa supermercadista francesa Casino, com quem teria o compromisso de passar o controle do Pão de Açúcar em 2012. Essa perspectiva levou Diniz a escantear a Casino, conduzindo sigilosamente com o Governo Federal e o Carrefour a fusão de sua rede de supermercados desta rede francesa.

O dinheiro para impedir a perda do Pão de Açúcar é uma jogada obscura, meio confusa, em que a maior parte do dinheiro é nossa, do contribuinte brasileiro, R$ 3,9 bilhões, com um parceiro, o banco BIG Pactual, comparecendo apenas com R$ 710 milhões e com o companheiro Diniz entrando com o prestígio.

A imprensa chegou a anunciar que o BNDESPar, braço de investimentos do BNDES, estaria disposto até em assumir sozinho, R$ 5,6 bilhões, a megafusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. Uma audácia que assusta as cabeças pensantes deste País.

Como a negociação se desenvolveu sem a participação da Casino, sócia do grupo Pão de Açúcar e comprometida a assumir o seu controle, espera-se que este grupo francês vete o acordo, inviabilizando-o. O advogado do Casino, José Carlos Dias, compara o conluio Abílio-BNDES para assumir o Carrefour, com um “golpe de Estado corporativo”.

Isto não seria possível num País sob o Estado de Direito. Ruim é que temos uma justiça a serviço do governo, do partido do governo e do sistema governante por cooptação das entidades representativas da sociedade civil. Diniz, com esses trunfos na mão, não está blefando.

Mas ninguém pode esconder que o caso envolve uma grande mentira, cheia de números e juras de patriotismo. No mínimo, é “uma história mal contada”, com o escreveu o editor de Mercado, Raul Juste Lores.

Também inspira suspeição à corrida da turma chapa-branca para trombetear que se o Casino adquirisse o Pão de Açúcar provocaria a desnacionalização do setor varejista, permitindo a compra do Carrefour pela rede norte-americana Walmart.

E tem mais: estão explorando o ufanismo cretino enaltecendo a importância dessa negociata em criar a terceira maior empresa de capital aberto do país, nivelando-se com a Petrobras e a Vale. São refúgios “patrióticos” para a transação canalha.

Teoricamente, a nova empresa (batizada prematuramente de “Novo Pão de Açúcar”) seria realmente a maior do setor, projetando R$ 65 bilhões em faturamento sobre 32% das vendas do varejo brasileiro. Mas quem lucraria com isso? Nós brasileiros, ou Abílio Diniz associado aos pelegos do PT-governo?

Outra pergunta que está em todas as cabeças questiona a razão do Governo Federal intervir numa disputa entre os sócios franceses e Abílio Diniz, desembolsando a significativa quantia de R$ 3.900 bilhões do contribuinte.

Não sei se ainda há “juízes em Berlim”, mas comenta-se que há virtualmente dois obstáculos para que a transação dê certo. Um deles é a aprovação da eventual operação pelo Cade; o outro é a necessidade intransferível do aval do sócio Casino, que já declarou em Nota, que o negócio Pão-de-Açúcar-BNDES-Carrefour é ilegal.

Outro probleminha é o morcego dos jogadores da Bolsa com as ações do Pão de Açúcar, que dia 28 subiram 12,6% e ontem, 29, caíram 3%, mostrando que a operação de compra e venda com o dinheiro da gente é uma trama armada para as mamatas do mundo financeiro.

Nesse cassino, a Casino corre para adquirir ações do Pão de Açúcar e, segundo experts já detém mais que o dobro da fatia de Abílio Diniz. Isso bota água no chope dos pelegos “consultores”.

Miranda Sá

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