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O fisiologismo espelha-se na fragilidade de Dilma

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Se não me engano, o imbróglio que agita a cena política e engessa o PT-governo, completa 17 dias hoje. Nasce da descoberta do galopante aumento patrimonial de Palocci, cujos bens se multiplicaram 20 vezes em quatro anos.

Começou com uma reportagem investigativa da Folha de São Paulo, e pela minha experiência de 50 anos de jornalismo, foi uma marola que virou onda e de onda num caixote mexido e embaraçado que afasta surfista da praia.

A enrolada, ilógica e sem esclarecimento degenerou o processo político, por infeliz coincidência com a votação do Código Florestal, deixando a presidente Dilma aturdida, incapacitada de falar e até de se mover…

Com o crescimento da repercussão pública (porque não dizer “popular”?) viu-se que o Chefe da Civil tinha menos o que perder do que a Presidente e que o governo como instituição, o que levou a levantar-se atabalhoadamente a blindagem de Palocci, o pivô da crise.

A barreira insânia incluiu um pedido de socorro ao “ex” Lula da Silva que, a comissão do exibicionismo não se fez de rogado, voltando aparatoso para o centro dos acontecimentos.

Somaram-se assim o atordoamento de Dilma, a incompetência dos seus assessores diretos, Palocci, querendo fugir da própria sombra e Lula, pavoneando entre ministros e congressistas numa intervenção que constrangeu até quem não tinha nada com isso…

Essa blindagem, quase um bunker – uma casamata bélica, em vez de resistir enfraqueceu-se internamente, pelo constrangimento dos quadros mais sensíveis e pelas inevitáveis pressões fisiológicas da picaretagem que pulula no Congresso, nos governos estaduais e nas centrais sindicais.

A vergonhosa derrota governista na votação do Código Florestal agravou e adulterou ainda mais a situação política, abrindo brechas para a passagem da operação coercitiva das bancadas parlamentares corporativas, políticas e religiosas, destacando-se evangélicos, ruralistas e partidários.

As demandas, atendidas, tranqüilizaram aparentemente o círculo do poder; mas só aparentemente, porque o fisiologismo, como o dinheiro de Palocci, se multiplica com uma rapidez incrível. Após um atendimento surgem outros imediatistas.

Além disso, ficou translúcida a inaptidão de Dilma para a política burguesa e a incapacidade de articulação partidária, sem familiaridade com as lideranças e por despreparo pessoal e alienante.

Assim, ficou patente o distanciamento da Presidente, que não controla a base no partido e aliena a sua autoridade para Lula. Quem lucrou com isto? Os petistas acham que foi Lula; em minha opinião foi o PMDB, graças à habilidade do seu líder, Henrique Alves.

O PMDB que ocupa a vice-presidência da República com Michel Temer, despertou para a força nacional que possui e, de baixo para cima, sente-se governo, hegemônico no Planalto e no Congresso.

A malandragem de Lula não vale nada diante da astuta e matreira experiência dos peemedebistas. É por isso que doravante, mesmo que Palocci venha a se explicar aceitavelmente, a sua autoridade está irrecuperável e não encerrará o processo de desgaste.

Já se desvaneceram as esperanças de afirmação pessoal de Dilma, cuja imagem  virtual recortava um perfil de forte personalidade com pulso autoritário e gerencial. E dessa maneira, creio que o caso Palocci se manterá, queimando como fogo de monturo na imprensa e na Rede Social, incendiando o cipoal parlamentar aos olhos da mídia e incomodando e consumindo a administração pública.

Constato, também, que as ambições políticas deverão estimular o chamado “fogo amigo” e avançar resolutamente para submeter um governo que em vez de um Palocci como  “exemplo de austeridade”, tem o espelho da fragilidade de Dilma.

Miranda Sá

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