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O ponto fraco dos heróis, e as pessoas comuns

MIRANDA SÁ,  e-mail: mirandasa@uol.com.br

François, o Duque de La Rochefoucauld ficou famoso pela transmissão de máximas populares e pensamentos filosóficos próprios. É dele o aforismo:“As pessoas fracas não podem ser sinceras”.

Acho que ele se referia à fraqueza de espírito, e acredito que, sem exceções, das pessoas de espírito fraco não se deve esperar um bom caráter, e que esta fraqueza fica evidente no comportamento e atitude individuais.

Creio também tratar-se de um defeito de formação e, o que é pior, é transmissível de cima para baixo, passando de presidente a ministros, desses aos secretários e assessores, e daí se alastrando em todos os níveis da administração pública.

Não há exemplos melhores dos que vimos no governo Lula, no caso do caseiro Francenildo, protagonizado pelo então ministro Antonio Palocci: desce do gabinete ministerial para direção da Caixa Econômica e dos diretores economiários para funcionários de base.

Isso se assistiu no caso dos sigilos fiscais, que atingiu o dirigente tucano Eduardo Jorge e outros, e depois, na Casa Civil, com Erenice Guerra. No período em que se registrou os fatos acima, a fraqueza de espírito foi endêmica e epidêmica.

Parece que de modo geral todo ser humano – qualquer um –  tem um ponto fraco. Quem alisou os bancos escolares ou nasceu em casa com estante de livros, ouviu falar do “calcanhar de Aquiles” – a história mitológica do herói incólume a ferimentos que morreu ferido no calcanhar por uma flecha certeira, poderosa e assassina, atirada pelo príncipe Páris.

Na Bíblia está relatada a passagem de Sansão, cuja força estava nos cabelos e, traído pela mulher, foi dominado pelos inimigos; e na mitologia escandinava encontramos a saga de Siegfrid, o herói nórdico.

Siegfrid, ao nascer, foi mergulhado em sangue de dragão para garantir a sua invulnerabilidade. Mas a mãe esqueceu de lavá-lo antes, deixando uma folha de tília no seu ombro, e aí o seu ponto fraco.

Todos os seres viventes, seja de qualquer gênero, número ou grau, traz em corpo e espírito um calcanhar de Aquiles, cabelos com poder de força ou uma folha de tília no ombro…

Os defeitos prescritos entre os pecados capitais são lugares determinados de vulnerabilidade. A arrogância, também, assim como a covardia. Eu convivi com um político que ocupando um alto cargo administrativo sofria a aversão geral das pessoas que lhe serviam. Fui trabalhar com ele e descobri o motivo, ele adentrava no edifício com o nariz empinado sem cumprimentar ninguém.

Não fazia por orgulho, vaidade ou desprezo pelos que o cercavam; era apenas um excêntrico e distraído, desacostumado no serviço público. Chamei-lhe atenção e ele tornou-se popular, tendo os servidores, depois, reconhecido seu humanismo e espírito de justiça.

Miranda Sá

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