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André de sapato novo

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br )

Não sei por que, o rolo que arrasta o deputado André Vargas na lama da corrupção institucional do PT-governo, lembrou-me o famoso chorinho “André de Sapato Novo”, de André Victor Correia e imortalizado pela nata dos músicos brasileiros como Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Benedito Lacerda, Jacob do Bandolim e Pixinguinha.

Conta-se que a composição deve-se ao fato de André Victor ter tido dificuldade para dançar numa gafieira que freqüentava com novos calçados que lhe incomodavam os calos. Sacaneado pelos amigos, inspirou-se na embaraçosa situação e compôs um dos primorosos chorinhos da discografia brasileira: “André de Sapato Novo”.

André Vargas, o deputado petista que renunciou à vice-presidência da Câmara dos Deputados e está ameaçado de cassação, calça um sapato novo. Com o sapato velho, adequado e vantajoso para piruetas pouco ortodoxas, agrediu acintosamente o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, quando este compareceu a uma solenidade na Câmara.

Também com o sapato velho foi pego em flagrante usando o jatinho do doleiro Alberto Youssef, iniciando a enrolada num novelo de falcatruas, gravadas em conversas interceptadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, que levou Youssef à prisão.

O hierarca do PT e o doleiro, o primeiro atuando como lobista de grande influência no governo federal, se meteram em fraudes no Ministério da Saúde com o laboratório Labogen Química Fina e Biotecnologia.

Tal laboratório era uma empresa de fachada registrada em nome de um ‘laranja’ de Youssef que conseguiu no tempo de Alexandre Padilha fechar parceria com a Saúde pela qual receberia R$ 150 milhões em vendas de remédios.

Esse é apenas um dos artifícios dolosos dos dois, cuja relação ia mais além de uma simples amizade, como André Vargas mentiu, em discurso na tribuna da Câmara. Em dezenas de mensagens gravadas pela PF com autorização judicial, Vargas recebia orientações de Youssef, combinava reuniões com ele e repassava-lhe informações colhidas de altas patentes do PT-governo.

Às vezes usavam códigos, mas tinham escorregos que, no relatório da PF, mostram como o Vice-Presidente da Câmara participava de ações e projetos do doleiro, usando sua influência em benefício do parceiro.

Excertos dessas gravações saíram na revista “Veja”. Com tal prova, registra-se a quebra de decoro parlamentar de André Vargas, pela mentira dita pelos microfones e imagem da TV-Senado que, apesar de amigos, desconhecia as atividades do Alberto Youssef.

Tamanha desfaçatez não esconde ações de má-fé anteriores, como a condenação sofrida no Paraná, por incluir falsamente 50 vigilantes da Universidade Estadual de Maringá (UEM) como seus doadores da sua campanha eleitoral em 2006.

Com todas estas provas e evidências, o presidente do PT, Rui Falcão, tem a cínica audácia de dizer que “fatos noticiados por si só não incriminam ninguém”. Obedece à escola de Lula da Silva, e radiografa o comportamento dos lulo-petistas.

Felizmente, a opinião de Rui Falcão recebeu o contraponto do deputado Júlio Delgado, relator do processo movido contra Vargas, dizendo que atuará com toda isenção para ‘dar uma resposta à sociedade’.

A ‘resposta a sociedade’ deveria ser muito mais ampla. O Brasil precisa saber como é possível Lula da Silva assumir a tutela sobre Dilma, como ficou explícito na entrevista que concedeu a nove blogueiros chapas-branca, para garantir-se de perguntas que lhe incomodassem.

Diante dos sabujos, que envergonham o jornalismo, Lula mandou-lhes “contribuir para acabar com essa boataria toda”; e que deveriam ajudar o PT a reagir “com unhas e dentes” contra a instalação da CPI da Petrobrás.

Pouco antes, Lula reuniu-se com Dilma, o seu poste, avisando-lhe o que iria divulgar. E a seguir, confiante no teflon anticorrupção, ela indicou o sujíssimo senador Gim Argello para o TCU, colidindo-se com o papel de zelar pelas contas públicas e o respeito ao princípio da moralidade na administração federal.

Lula, Dilma e seus comparsas do governo e do partido, vivem uma realidade paralela à dos brasileiros. Pelo poder adquirido e o enriquecimento despudorado, certamente fizeram como André Victor, compraram sapatos novos para o último baile da Ilha Fiscal republicana…

Miranda Sá

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