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26 de maio de 1977 – Glauber ganha Prêmio Especial em Cannes

O curta-metragem Di Cavalcanti, de Glauber Rocha, ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes. Na época, era comum que os prêmios especiais fossem muitos – um para cada categoria. Naquele ano, no entanto, o júri presidido pelo cineasta Roberto Rosselini (que dirigiu o clássico do neo-realismo italiano: Roma, Cidade aberta), limitou-se a apenas um prêmio, atribuindo-o ao filme brasileiro.

As premiações da noite não foram tranqüilas. Houve quem achasse que Ifigênia, do grego Michael Cacoyanis, ou La Dentellière, de Claude Goretta, pudessem levar a Palma de Ouro, conquistada pelo filme italiano Pai Patrão, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani. Menos discutida foi a escolha de Di Cavalcanti para o Prêmio Especial do júri, considerado excepcional. Esta não foi a primeira premiação de Glauber em Cannes. Anteriormente, o festival francês lhe havia premiado Terra em Transe (1967) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969).

Quando soube que levara o prêmio, Glauber Rocha ficou surpreso. Em entrevista ao JB na época, o cineasta explicou que Di, como é conhecido o filme, “é uma transação lúdica, particular aos cinéfilos. Não tem nada a ver com o econômico social”. Segundo ele, a novidade prática e teórica do filme era “a montagem nuclear que, de acordo com [o cineasta soviético] Eisenstein, revela que a quantidade está na qualidade”.

– Di – relatou ele – é um flash do que pretendo criar de agora em diante no cinema, em busca de uma montagem dialética que supere definitivamente a montagem literário-teatral do cinema contemporâneo.

E, ao ser perguntado sobre o motivo pelo qual enviara um curta-metragem a Cannes, Glauber explicou: Mandei um curta porque resolvi reiniciar minha carreira como um jovem cineasta do Terceiro Mundo. Di é um filme modernista.

Di foi uma homenagem do mais conhecido diretor do Cinema Novo brasileiro ao pintor e amigo Di Cavalcanti. Rodado durante o funeral do artista no Museu de Arte Moderna do Rio, o curta é conduzido pela narração frenética e radiofônica de Glauber, filmado com uma câmera de 35mm, que incomodou os presentes do velório assim como os gritos do cineasta que cortavam o silêncio fúnebre no salão principal do MAM: “Pára o caixão. Pára que eu quero a câmera do outro lado”. A exibição de Di, considerado uma afronta ao pintor pela sua família, foi proibida no Brasil. Hoje, discute-se a liberação da cópia, que está guardada no Museu da Imagem e do Som, no Rio.

Fonte: Hoje na história/JB
Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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