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TRAIÇÃO.COM

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O traidor perde a confiança de quem e por quem trai”
(Ditado Árabe)

A traição à Natureza sofre punições. A desertificação, o extermínio de animais e plantas, os terremotos, os tsunamis e a peste que estamos sofrendo, tudo vem como punição.

O verbete Traição é um substantivo feminino definido como “ação de trair”. Vem do latim “traditio.onis” e também “tradere”, que tinha o significado militar de “entregar nas mãos de alguém”.

A palavra no grego, “paradídomi”, “entregar”, segundo Estudos Bíblicos, é usada por muitas vezes no Novo Testamento; cerca de cento e vinte vezes, desde Mat. 4:2 até Judas 3. Em termos jurídicos trata-se de crime que se configura pela ameaça à segurança da Pátria ou das suas instituições.

No nosso dia a dia, estamos vivendo a situação criada com a saída de Sérgio Moro do governo, e as graves denúncias dele sobre a intenção de Bolsonaro de intervir na Polícia Federal. Então assistimos os descerebrados pelo vírus do fanatismo, chamarem Moro de “comunista”; e outros, não menos cretinos, o classificarem de “petista”….

Ainda falta, até agora, que os cultuadores da personalidade de Bolsonaro, acusem Moro de traição, apesar de “traidor” ser uma marca registrada deles, para todos os que discordam do divinizado político e da familiocracia instalada no Palácio do Planalto.

A traição, na verdade, se limita majoritariamente ao exercício da política. Num dos seus memoráveis contos, o nosso Machado de Assis traz um personagem que tinha camisas bicolores em verde e vermelho de frente e avesso, cores dos partidos rivais do Município. Na medida em que apoiava quem estava no poder vestia a camisa da cor dominante…. É o que faz agora o Centrão, travestido de governista.

Há traições menos ingênuas, mas igualmente malignas…  Conta-se, por exemplo, o caso em que o editor de um jornal de país latino-americano traiu e sacrificou um repórter fotográfico por causa de um flagrante colhido por ele.

O fotógrafo captou uma expressão contraída pelo sol do ditador nacional no enterro de um chefe militar. Como o jornal era controlado por oposicionistas, o editor mudou a legenda para dar a entender que o presidente estivesse escarnecendo do defunto.

Por causa da celeuma causada e a revolta nos círculos militares, ocorreu um golpe de Estado e o ditador caiu. A ditadura civil cedeu lugar a uma ditadura militar; e o pobre profissional de imprensa morreu com atestado de óbito registrando suicídio…

Essa história reforça o preceito do grande Gabriel Garcia Marques para servir de lição aos donos de meios de comunicação que traem a vocação de muitos jornalistas levando-os a fazer propaganda política em vez de bem informar:  Escreveu Garcia:  – “A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”.

Aqui não tem besouro, somente moscas…. Na cena surrealista que desenha a nossa realidade política, assistimos certa mídia visivelmente oposicionista aproveitar-se das graves denúncias do ex-ministro Sérgio Moro ajudando a ressuscitar os zumbis lulopetistas do cemitério maldito da corrupção, pedindo o impeachment de Bolsonaro.

Ocorre que Moro, ícone da luta contra a corrupção e o crime organizado, não tem culpa nisto. Credite-se sim, ao maquinismo criador de crises instalado e acionado no Planalto pelos insanos extremistas de direita, idênticos aos extremistas de esquerda.

Isto constatado, chegamos ao alerta feito pelo general Villas Boas: “Substituir uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros”.

E, falando de traição, vale uma pergunta para quem tem cabeça para pensar: – “Qual o motivo teve Bolsonaro para tirar o chefe da Polícia Federal e pôr no seu lugar um amigo dos seus filhos implicados em investigações criminais?

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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