Harpa de Ouro
1889-1899
República é Menina Bonita
Diamante Incorruptível
1
Entre os astros, sagrados montes
Feliz asilo da paixão:
Puros jardins, sonoras fontes,
E virginal um coração
Vibrando aos claros horizontes
E encantado à etérea soidão.
2
Quis ser em chegar, primeirinha:
Oh! A gentileza do lar!
A tudo dispor; pra onde vinha
Sem dizer e onde a s’encontrar
Fé, por sugestão que adivinha,
Alma que espera.
“Hei de, he de a(…)
3
“Doces miragens, adeus! Vejo
Na profundez do coração,
O interno oceano do desejo,
D’Heleura a ideal solidão:
Vos deixo a Deus. Deixai-me o beijo
Preço da livre sem senão:
4
“Doutra dona… oh, a inteligência
Dona… mas, cetim branco e flor!
‘Menina e moça’, áurea existência
Musa cívica a Musa-Amor!
Já fotografara-te o pensamento
Que um pensamento houve a transpor”.
5
Das cinzas fênix renascida,
Arte divina a retratar
Anos treze – quão parecida!
Ela era; hei de noutra a encontrar
Helê que dos céus é descida,
Céus! A borboleta solar!
6
“A metamorfose sagrada
De jovem pátria e o cidadão
Oiro de lei, Virgínia honrada
Por todo o nobre coração:
Ditando diga: eu sou a amada,
A amante Luz, o Amor
e o Pão.”
Joaquim de Sousa Andrade nasceu em Guimarães, estado do Maranhão, em 1833. Sua obra só se tornou conhecida por volta de 1970 com a publicação de “Inéditos”, aos cuidados de Frederick G. William e Jomar Moraes, São Luis, Departamento de Cultura do Estado, em São Luís, capital do estado do Maranhão.
Sousândrade formou-se em Letras pela Universidade de Sorbone, em Paris, França e foi naquela cidade que estudou, também, Engenharia de Minas. Durante o período em que estudou na França, viajou muito pela Europa e pelas repúblicas latino-americanas indo fixar-se, finalmente, nos Estados Unidos onde editou “Obras poéticas” e alguns cantos do “Guesa Errante”. Sua longa passagem pela Europa e a residência americana por muitos anos abriram seus horizonte para o mundo capitalista no grande desenvolvimento industrial da época. Isso o contrastava com a grande maioria dos escritores brasileiro que não tinham conhecimento tão amplo do mundo exterior.
Durante o tempo que morou nos Estados Unidos, o poeta viveu em na grande metrópole Nova York em plena época escandalosa de Wall Street e dos jornais montados e dirigidos para a grande população. O escritor sentiu o peso de uma democracia fundada no dinheiro e a competição comercial entre os habitantes da cidade grande e teve a chance de comparar todo aquele desenvolvimento e competição com o regime brasileiro ainda de Império e é dessa época o poema narrativo “Guesa Errante”, composto ao longo de dez anos. Com esse trabalho, Sousândrade recebeu de Humberto de Campos o título de “João Batista da poesia moderna”. Nessa obra o autor narra a jornada de um adolescente que depois de peregrinações na rota do deus Sol, acaba nas mãos de sacerdotes que lhe extraem o coração e recolhem o sangue nos vasos sagrados. O poeta teve uma intuição dos tempos modernos, onde imagina o Guesa que após escapar dos sacerdotes refugia-se em Wall Street onde reencontra seus carrascos disfarçados de empresários e especuladores.
Sousândrade era uma pessoa muito original em seu modo de ser especialmente se for levado em conta à época em que viveu. Era um escritor atento às técnicas da dicção e com facilidade utilizava os clássicos e os jargões yankees que aprendera nos Estados Unidos e fazia ousados conjuntos verbais na montagem de sua sintática. O poeta não conseguiu ser assimilado em seu tempo por isso passaram-se mais de cinqüenta anos após a sua morte para que sua poesia começasse a aparecer. No crepúsculo da vida Sousândrade, inteligente, viajado e culto, retornou a São Luís, no Maranhão, onde viveu na pobreza dando aulas de grego e fazendo parte da política da República da época, não chegando a ser conhecido dos literatos do início do século XX. E foi em São Luís que morreu em 1902.
Fonte: overmundo.com.br
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