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SOBRE PORNOPOLÍTICA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Muitos acharam graça, mas deixaram por isto mesmo; os estudiosos de linguística, entretanto, já propuseram a dicionarização do neologismo “Pornomímica” por mim usado ao observar gestos como aquele que Cristina Kirchner fez mostrando o dedo para eleitores de Javier Milei.

Há pessoas que não gostam de neologismos; são céticas quanto ao reconhecimento de valores literários. Felizmente se curam quando encontram razão nas gírias que o povo cria e que se desenvolvem e se multiplicam como cogumelos após as chuvas.

Não sei se é o caso de encontrarmos na zona sombria da política entre a luminosidade do bem e a escuridão do mal outro neologismo, “pornopolítica”, dedicando-o ao lado obsceno das fake news na invasão de privacidade, na indiscrição e no mexerico, publicadas nas redes sociais e reproduzidas em massa.

Este é o lado negativo das redes sociais. Não é apenas a desinformação, mas a interferência na vida das pessoas que pensam diferente da corrente divulgadora de infâmias.

O seu exemplo mais atual e palpável é o revoltante caso da jovem Jéssica Vitória Canedo, levada ao suicídio em virtude de uma notícia falsa publicada pelo perfil “Choquei”, um dos tentáculos de uma organização mafiosa de nome “Mynd”, que prestidigita tecnicamente uma rede de intrigas.

É amplíssimo o domínio da Mynd. Mantém diversos polos informáticos voltados para o entretenimento e o ativismo político, como o Garoto do Blog e Alfinetadas dos Famosos, citados em reportagens que denunciam, também, as ligações desta agência com órgãos governamentais.

Também é inegável o controle desta teia poeirenta de comunicação que serve a interesses escusos. Os mistificadores da Internet são de uma variedade incrível; reconhecemos os que agem individualmente e em grupo, incitados quando seguidores partidários ou conduzidos quando vendem a sua participação.

Todos estão enquadrados no Código Penal pelo crime de falsidade ideológica; e não vale a pena estender muito sobre as punições previstas para crimes e delitos num sistema em que muito poucos magistrados aplicam a Justiça julgando conforme a Lei, e não procurando brechas para atender a defesa de parentes advogados.

Mesmo para quem é alheado ao que ocorre à sua volta e não raciocina desta maneira, desconsiderando a fake news como criminosa, deveria vê-la prejudicial por falsear a verdade, e contribuir para a desinformação moldando o comportamento das pessoas. Muito pior, interferindo no voto do eleitorado.

Infelizmente temos lista com centenas de nomes que praticam esta delinquência e deveriam sofrer um castigo exemplar sem o chorôrô dos coleguinhas nas redes sociais e o apoio midiático dos comparsas mercenários ou ideológicos.

Talvez impulsionado pelo saudosismo, sinto que antigamente não era assim. Autores de perjúrio, fofoqueiros sobre a vida alheira, imprudentes difamadores e caluniosos eram punidos; não havia a Justiça leniente do “garantismo” salvando-os.

Tampouco tínhamos governos que os amparasse e financiasse, como se faz hoje aglomerando-os com miolos de pão das verbas públicas e atraindo-os como peixes nos aquários das bancas digitais como a Mynd.

A isto, chamo de Pornopolítica; e só vejo uma maneira de imprimir a ordem das coisas no Brasil do presente: a revisão geral da legislação por uma Constituinte, sem permitir a reeleição de políticos que ocupam atualmente cargos eletivos.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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