Serão de menino
Na noite morna, escura de breu,
enquanto na vasta sanzala do céu,
de volta de estrelas, quais fogaréus,
os anjos escutam parábolas de santos…
na noite de breu
ao quente da voz
de suas avós,
meninos se encantam
de contos bantos…
“Era uma vez uma corça
dona de cabra sem macho…
…………………………………..
… Matreiro, o cágado lento
tuc… tuc… foi entrando
para o conselho animal…
(“- Tão tarde que ele chegou!”)
Abriu a boca e falou –
deu a sentença final:
“- Não tenham medo da força!
Se o leão o alheio retém
– luta ao Mal! Vitória ao Bem!
tire-se ao leão, dê-se à corça.”
Mas quando lá fora
o vento irado nas fresta chora
e ramos xuaxalha de altas mulembas
e portas bambas batem em massembas
os meninos se apertam de olhos abertos:
– Eué
– É casumbi…
E a gente grande –
bem perto dali
feijão descascando para o quitande-
a gente grande com gosto ri…
Com gosto ri, porque ela diz
que o casumbi males só faz
a quem não tem amor, aos mais
seres buscam, em negra noite,
essa outra voz de casumbi
essa outra voz – Felicidade..
Viriato da Cruz
O Poeta
Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu em Kikuvo, Porto Amboim em 1928. Fez os estudos liceais em Luanda.
Considerado um dos mais importantes impulsionadores de uma poesia regionalista angolana nas décadas de 40 e 50, caracterizando-se a sua obra pelo apego aos valores africanos, quer quanto à temática, quer quanto à forma. A sua produção está dispersa por publicações periódicas e representada em várias antologias, das quais uma – No Reino de Caliban – reúne a sua obra poética.
Foi um principais mentores do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (1948) e da revista Mensagem (1951-1952).
Saíu de Angola em 1957 e em Paris foi juntar-se a Mário Pinto de Andrade, tendo desenvolvido intensa actividade política e cultural.
Foi membro-fundador e o primeiro secretário-geral do MPLA. durante os primeiros anos da década 60. Dissidente deste movimento, esteve exilado em Portugal e noutros países europeus, fixando-se posteriormente na China, onde veio a falecer em 13 de Julho 1973.
Fonte da biografia: www.lusofoniapoetica.com
Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império.
Fonte: betogomes.sites.uol.com.br
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