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MEDALHAS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Da última vez em que estive em Sampa, visitei a feira de antiguidades da Praça Benedito Calixto. Chamou-me a atenção uma banca que expunha à venda uma grande quantidade de comendas, divisas, insígnias e medalhas.

Eram peças de todo tipo de metal, do ferro ao ouro, fitas, faixas e cintas de cores diversas; interessando-me por uma roseta de crochê para uso na lapela, perguntei qual a origem, e o vendedor disse-me que patenteava uma medalha do mérito da marinha boliviana…

A História das medalhas vem de longe. Foram usadas desde a Mesopotâmia ao Antigo Egito, e ressurgiram do Ocidente, associadas às cruzadas e à Reconquista cristã da Península Ibérica, segundo a tese da doutora Camila Borges da Silva. Napoleão, um gênio da organização militar, serviu-se delas para estimular o desempenho dos seus lugares tenentes.

As comendas chegaram ao Brasil com Pedro Álvares Cabral, que era cavaleiro da Ordem de Cristo. E as nossas primeiras medalhas datam de 1809, gravadas pela corte portuguesa emigrada; mas a sua concessão exclusivamente nacional veio a partir da Guerra do Paraguai, adotadas pelo Exército e a Marinha.

No Império, existiram poucas Ordens e a distribuição de medalhas pelo imperador era restrita a personalidades de real valor. Comendadores e condecorados foram Caxias, Cândido Mendes, Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa e Saldanha da Gama.

Surgiram na República critérios descentralizados para outorgar essa honraria. Não era para qualquer um; com uma ou outra exceção, os dignitários distinguiam-se na abnegação pela coisa pública, no heroísmo e no patriotismo. Uma coisa era certa: o estigma do favoritismo, da falsidade ideológica e da corrupção não maculava os nobilitados.

A importância das medalhas hoje em dia, é ridículo. Banalizaram-se com a distribuição desregrada em concursos de beleza, torneios esportivos, exposições, efemérides cívicas e religiosas, ONGs fajutas, etc. etc. etc. e botem etc. nisso!

O insensato festival de medalhas também alcançou os círculos oficiais. Desviou-se da habilitação pessoal para a adulação e a troca de favores. No caso das medalhas de mérito, principalmente militares, é impressionante o desprezo pelo merecimento, abalando a confiança dos doadores.

Seria entediante repetir que tudo neste País piorou recentemente. Bastam as ilustrações que temos no noticiário da imprensa: A FAB condecorou a senhora Marisa Letícia Lula da Silva com a Medalha do Mérito Santos-Dumont, homenagem que dispensa comentários; e o guerrilheiro fujão José Genoíno, delator da Guerrilha do Araguaia na década de 70, exibe a Ordem do Mérito Militar.

As medalhas do Pacificador foram distribuídas largamente, alcançando os ex-deputados João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson, condenados na Ação Penal 470, o famoso “Mensalão”. E o chefe daquela lambança criminosa, José Dirceu, recebeu o título de comendador.

Dá vergonha constatar que todas as distinções aos mensaleiros se mantêm apesar das punições desabonadoras sofridas por atentados contra o Erário, as instituições e a sociedade. A preservação dessas comendas, portanto, desobedece aos princípios que regem as doações.

É “estarrecedor” listarmos os condecorados da República dos Pelegos, o chefe Lula da Silva, o PT e os petistas, ministros, o Congresso Nacional, setores do Poder Judiciário e generais colaboracionistas. Tais revelações imprimem a convicção de que este regime precisa ser derrubado para recuperarmos a honra e a glória do Brasil.

A subversão de valores reinante é tão descabida que uma agente de trânsito, no exercício da função, que enfrentou a ilegalidade prepotente de um juiz, em vez de ganhar uma medalha, foi sentenciada a pagar uma multa ao contraventor, por decisão de um desembargador igualmente inabilitado para a função que exerce.

Miranda Sá

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