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Maluf para presidente

A Interpol deu a Paulo Maluf o título que lhe faltava: “Procurado” – com direito a cartaz nos moldes dos filmes de faroeste. Em 181 países o ex-governador pode ser preso por remessa ilegal de dinheiro roubado.

Maluf é o primeiro procurado da história que todo mundo sabe onde está. Enquanto a polícia internacional o caça, o Brasil guarda-o com carinho. E com mandato parlamentar, endereço fixo na Câmara dos Deputados, CPF em dia e nome limpo no SPC.

Paulo Maluf é coisa nossa. Ao contrário de seu xará Paulo Vannuchi, que acorda a cada dia com uma idéia nova sobre como proteger o PT da imprensa, Maluf está tranqüilo. As manchetes para ele não têm a menor importância.

É um político maduro, calejado, que já superou a doença infantil dos dossiês e da conspiração contra a mídia. A esquerda sindical tem muito a aprender com ele.

Enquanto Dilma Rousseff fica gritando que os jornais querem ressuscitar o mensalão de 2005, Maluf não faz marola. Solta suas notas oficiais negando tudo, e toca o barco. Se encontram dinheiro sujo em nome dele num paraíso fiscal, diz simplesmente que não é dele. Melhor que tentar censurar a imprensa é ser imune a ela.

Se um repórter perguntar a Paulo Maluf o que a foto dele está fazendo num cartaz da Interpol sob a palavra “wanted”, é capaz de ele responder que é um homem “querido”.

Essa tecnologia ninguém tem. Quando Lula for embora do poder e o Brasil voltar a ter um presidente mortal, sujeito às contradições da vida, vai ser um solavanco atrás do outro. A não ser que o país eleja mais um andróide.

Maluf não é ex-operário, não veio do Nordeste para São Paulo num pau-de-arara, não tem mãe que nasceu analfabeta. Mas também é um símbolo nacional, um emblema do brasileiro que não desiste nunca, um homem que, como nenhum outro, fez a verdade recolher-se à sua insignificância. Um filho do Brasil que o pariu.

Esse cartaz da Interpol ainda vai virar panfleto de candidato à presidência.

Guilherme Fiúza, jornalista e escritor.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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