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HERESIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uoL.com.br)

“Aqueles que concordam com uma opinião chamam-lhe opinião; mas os que discordam chamam-lhe heresia” (Thomas Hobbes)

Podem me chamar de “herege”; mas criado numa família em que a minha avó paterna era católica ao extremo, mãe espírita, pai agnóstico, irmã umbandista e um tio que foi pastor protestante na época da perseguição aos “crentes”, não me considero preconceituoso quanto à religião. Apenas sou um leigo diante dela.

Vejo que tanto na religião como na política defende-se o sentido da vida, e em ambas, como diz o jornalista e escritor italiano Eugenio Scafari, vê-se que o que vale, é ver “a divisão entre o que é bem e o que é mal, compreendendo a existência de uma ordem do bem e do mal”.

Entretanto, pelas intervenções de alguns tuiteiros que acompanho, encontro uma disposição de trazer para o campo político um entrevero religioso, pedindo orações em vez de argumentação ou denúncias contra os males que o lulopetismo insiste em manter contra o interesse nacional.

Os sectários são poucos, mas por convicção enraizada não se dispõem a pôr os pés no chão enfrentando a realidade no combate ao mal, como se encontramos nas posições laicas em relação à politicagem.

Evitam, inclusive, o diálogo com os companheiros de viagem independentes das suas tendências teológicas sem ver que a inclinação ao laicismo é a busca da verdade, querendo respostas científicas para o preceito básico da fé, em nome da liberdade de consciência; adotando o livre-arbítrio.

É por isto que defendo para os leigos o direito de seguir pesquisando, duvidando e censurando os que embaralham religião e política na mesa forrada com textos bíblicos. São os mesmos que criticaram a missa rezada em latim dos católicos e hoje criticam a exibição de cumprimento litúrgico em hebraico.

A magia do tempo leva-nos a pensar como Humberto Eco, registrando com a sua religiosidade laica a “força religiosa, moral e poética de conceber o modelo do Cristo, do amor universal, do perdão aos inimigos e da vida em holocausto pela salvação da humanidade”.

Isto encanta e nos leva a pensar em imitá-Lo, porém nos leva a pensar hereticamente, como fez o cardeal Carlo Maria Martini, jesuíta, interrogando-se, “se, por inescrutável desígnio divino, Cristo tivesse encarnado no Japão? ”. E abrasileirando, se Jesus Cristo tivesse nascido de uma virgem caeté do litoral nordestino, pregaria em nome de Tupã?

Evidente que Deus na sua onisciência, onipresença e onipotência sabe o que faz; e é óbvio que Ele quer a convivência pacífica e respeitosa de crentes e leigos para que possam viver em comunidade defendendo uma justiça boa e perfeita e o progresso na Nação.

Muito tempo atrás, iniciando no Twitter e conquistando meia centena de seguidores, meu genro, ironizando, disse que eu já podia fundar uma igreja. Nunca pensei nisto, ao contrário, apenas conscientizei-me de que a expressão sincera do pensamento me gratificaria e levaria os mais jovens a refletir sobre as minhas experiências e o conhecimento que acumulei ao longo da vida.

Assim, procuro defender princípios. E informar, e esclarecer, e apelar para a reflexão sobre a realidade em que vivemos, separando a política da minha crença – que adota, como Einstein, o deus que Spinoza chama de “Alma do Universo”, e não um deus que se preocupe com as minhas necessidades pessoais.

Por isso mantenho a luta por um mundo melhor; e, como patriota, acredito e acompanho a consigna “Brasil acima de tudo”, esperando não seja abandonada à margem do longo caminho que temos pela frente para nos livrar da herança maldita deixada pela pelegagem narcopopulista.

Marjorie Salu

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