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GAZPACHO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Essa história de confusão mental é típica dos reacionários, que acham necessário ter ideias claras sobre tudo, interpretar tudo de modo racional, sem precisar duvidar de nada” (Frederico Fellini)

Marjorie Taylor Greene, deputada norte-americana que coleciona polêmicas na política dos Estados Unidos pelo extremismo negacionista, virou piada nas redes sociais ao confundir o nome da polícia secreta da Alemanha Nazista, a Gestapo, com o nome de um prato tipicamente espanhol, o Gazpacho.

Essa troca de nomes ocorreu num programa One America News onde Greene era entrevistada defendendo a invasão ao Capitólio; e, ao fazer uma crítica à presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, disse que ela “que mantém uma ‘Polícia de Gazpacho’, embaraçando os nomes.

Um capítulo negro da História Universal registra que a Gestapo foi a polícia secreta oficial da Alemanha Nazista, criada em 1933 por Hermann Göring que reuniu várias agências de polícia. A tenebrosa “Geheime Staatspolizei” passou a ser chefiada em 1936 pelo assassino e torturador Heinrich Himmler, do círculo íntimo de Hitler.

A Gestapo realizou a maioria dos assassinatos dos opositores ao regime nazista e, controlando os campos de concentração, foi responsável pelo genocídio de eslavos, judeus, ciganos, testemunhas de Jeová e homossexuais.

Somente uma mente doentia poderá confundir essa figura horrenda mantida pelo nazismo com o Gazpacho, iguaria espanhola apreciada pelos gastrônomos do mundo inteiro. Trata-se de uma sopa de tomate (pode ser servida fria ou quente) temperada com alho, cebola, vinagre e, principalmente, azeite; é acompanhada com croutons de frigideira…

Reclama-se por se levar para zombaria e rebaixamento intelectual os radicais da extrema direita, esses que encontramos nas redes sociais divulgando falsos profetas para envenenar as fracas mentes aptas ao misticismo.

Investidos pela vaidade de amealhar cultura livresca, esses abstrusos e confusos divulgadores de Nostradamus e de infinitas mensagens diversionistas pessoais, julgando que convencem ter “independência política”; imprimem, na verdade, a marca das simpatias pelo totalitarismo, como um gato escondido com o rabo de fora….

Infelizmente eles aparecem como “especialistas” em mistificação. Estão sempre presentes nas redes sociais, mas são desmascarados por não verem disparidade no culto à personalidade do capitão Bolsonaro a disparidade entre os dedos e os anéis.

“Especialista é alguém que lhe diz uma coisa simples de maneira confusa, de tal forma a fazer você pensar que a confusão é culpa sua”, disse alguém de quem esqueci o nome e me desculpo repetindo o seu pensamento, completando-o com Dorothy Parker:  – “… não são as tragédias que nos matam, são as confusões”.

A confusão é plantada pelos pastores evangélicos politiqueiros que não distinguem a diferença entre a religião e os falsos profetas, nem entre a crença e os fiéis, e, muito menos, entre o Gazpacho e a Gestapo. Quem os desmascara é o autêntico Martin Luther King, que num dos seus brilhantes sermões disse que “a religião mal-entendida é uma febre que pode terminar em delírio”.

Quanto aos outros, direitistas de oportunidade, surfam desengonçados nas ondas do populismo. É fácil encontrá-los no pântano da fraude e da mentira vigentes na Era Bolsonaro, onde há muitos a comandar e distorcer os conceitos de conservadorismo e honestidade.

O conservador não é insuficiente nas ideias de Justiça, Ordem e Progresso, nem se alia a trapaceiros; é por isso que não entendo que pessoas educadas não repudiem aqueles que criam estas confusões. Se honestos, penso, por exemplo, ser-lhes impossível apoiar o Governo Bolsonaro na política anti-vacina, aliada do vírus letal.

Da minha parte, sigo combatendo a necrofilia bolsonarista; e sinto-me compensado porque não estou só. Somos milhões os que nos sobrepomos ao redemoinho dos distúrbios do negativismo, colocando-nos acima da ignorância obscurantista.

Marjorie Salu

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