A indústria da bondade chegou ao fundo do poço.
Não há surpresa alguma na publicação pelo governo Lula de 3 mil livros e 215 mil cartilhas, supostamente feministas, pedindo que se vote na mulher (Dilma). A novidade é a fraude ser bancada pela ONU.
O governo, o PT e a campanha de Dilma estão no seu papel de sempre (muito papel, no caso): fantasiar-se com alguma boa causa para descolar algum dinheiro e poder.
A Organização das Nações Unidas, como se sabe, também vive metida no salvacionismo de butique. Mas costumava dissimular melhor suas prateleiras politicamente corretas.
Agora finalmente rasgou a fantasia: investindo num kit propagandístico pró-Dilma Rousseff, com a famosa grife do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a ONU diz ao mundo que lugar de mulher é em panfleto eleitoreiro.
Sem dúvida, um histórico tributo ao machismo. Dá até para a direita americana gritar que Bush tinha razão quando atropelava a ONU: ele não sabia por que estava batendo, mas ela sabia por que estava apanhando.
O propósito oportunista do livro “Mais mulheres no poder – Plataforma 2010”, bancado pelo PNUD, só não é tão eloqüente quanto o conteúdo da obra.
Na melhor literatura de porta de assembléia, destaca-se um artigo de seis páginas da mulher Dilma Rousseff – na verdade a transcrição de um discurso da então ministra, num desses eventos de classe arranjados pela burocracia do PT. A ONU anda se comovendo com qualquer coisa.
Quantos novos sutiãs terão que ser queimados para libertar o feminismo dessa farsa em seu nome?
Nenhum. A mulher candidata a presidente do Brasil em 2010 é Marina Silva. Dilma, como seu próprio padrinho já declarou, é só um outro nome para Lula na cédula. A condição feminina, no caso, é mera contingência. Tanto que a candidata tem alta rejeição entre as mulheres.
Como já mostraram as pesquisas de opinião, a tentativa de disseminação da personagem “Mãe do PAC” não colou. Como se repetisse o bordão do bebê dinossauro para seu pai, a população reagiu: não é a mamãe!
Nem Édipo resolve um problema desses, muito menos um panfleto da ONU.
Guilherme Fiúza, jornalista e escritor
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