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DA VIDA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Por mais forte que seja a crença numa divindade, creio ser impossível as pessoas normais acreditarem na fábula de Adão e Eva do Velho Testamento, as Mil e Uma Noites do judaísmo. É adotada pela ortodoxia judaica e seguida cegamente pelo cristianismo católico e protestante.

Essa historieta atrapalha qualquer compreensão lúcida, a não ser pregada pelos fariseus hipócritas citando o Gêneses, em que Deus aparece ordenando que se faça o homem à sua imagem e semelhança para que frutifique e multiplique-se, e encha terra, e sujeitando-a.

Também no Gêneses 2,19 encontramos que Adão foi formado por a partir do pó da terra recebendo de Deus o sopro da vida e ganhando também a mulher, Eva, feita da própria costela dele, para ser sua companheira.

O fato de Adão ter sido formado a partir do pó explica o seu nome, que em hebraico ( אָדָ, Āḏām) significa “homem” ou “terra vermelha” e Eva, também em hebraico, (HaVVah), significa “mãe dos sobreviventes”. A gente aprende em criança a história deste curioso casal até a sua expulsão do Jardim do Éden….

A minha louvação à vida vem por outro lado. Tenho informações sobre a sua origem, a partir da poeira e do gás que orbitavam o Sol há 4,5 bilhões de anos, e cm ela se iniciou a Pré-História do planeta Terra, coberta de um oceano de rochas em ebulição e enxofre líquido na chamada Era Hadeana (de hades, inferno).

Desde então, pelos registros fósseis os estudos científicos apontam a existência de organismos vivos a 3,5 bilhões de anos; e, ao consolidar-se a superfície do planeta na Pangeia, viu-se a presença molecular dos termófilos modernos, cuja ramificação na árvore filogenética evidencia o surgimento da vida primitiva na Terra.

Assim, desde a formação do Planeta e a sua evolução, sabe-se que as eras geológicas trouxeram mudanças e eventos desde o surgimento dos processos químicos chamados de “sopa primordial”, composta de átomos de carbono, nitrogênio e oxigênio na forma de metano, amônia e água.

Ao atingir a segunda metade do Período Terciário que se estendeu por 66,4 e -1,6 milhões de anos tivemos, pelas condições naturais, o surgimento dos primeiros pitecantropos, a transição entre o macaco e o homem; e nos finais da Era Cenozoica o período mais recente, o quaternário, que dura até hoje, apareceram os neandertais – o homo habilis, que viveu há 2,4 a 1,5 milhões de anos.

Por fim, com a extinção dos neandertais surgiu na África há cerca de 200 mil anos o Homo Sapiens dando origem da humanidade tal como conhecemos hoje.

Assim caminha historicamente a espécie humana desde o Mundo Antigo, registrando a sua evolução cultural com a escrita dos sumérios, a arquitetura dos egípcios, os números fenícios, a filosofia e a geometria dos gregos antigos, a organização estatal dos romanos, a astronomia dos maias e a medicina dos árabes.

Evoluindo, tivemos o registro das guerras de conquista, a escravidão, a cooptação imperial do cristianismo primitivo, o feudalismo medieval, a Inquisição, a transição das monarquias para as oligarquias, a Revolução Francesa e a Guerra de Independência dos EUA.

Contemporaneamente, entrando no século 21 com todo avanço científico e tecnológico, com a conquista do espaço sideral e com a visão filosófica despida de preconceitos, há quem combata o evolucionismo humano proibindo o ensino do darwinismo em vários países, e diversos estados norte-americanos….

Este obscurantismo religioso sectário vive também no Brasil movido por negacionistas da Ciência; os mesmos que combatem a livre expressão do pensamento e transformam sectários religiosos do atraso, numa força política.

Agora mesmo vemos os populistas corruptos do lulopetismo, que se assumem como “esquerda”, rastejando em templos evangélicos à cata de votos, igualando-se aos corruptos da “direita bolsonarista”, que farejam vantagens com a idiotia ultrapassada das seitas fundamentalistas.

Como fruto da sua genialidade, Einstein disse que “a ciência sem a religião é manca, e a religião sem a ciência é cega”; o Cientista acompanha a clarividência de Spinoza mostrando que “não podemos imaginar Deus; apenas admiti-lo como a ‘Alma do Universo’”.

Na sublime visão do Deus-Natureza de Spinoza encontra-se, com razão, a origem da Vida e de nós humanos.

Marjorie Salu

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