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DA ROTINA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Uma das definições de Rotina que mais me agrada é vê-la como a forma organizada de viver. Há pessoas que não consideram este tipo de rotina como norma, dizendo que quem o adota tem uma vida de tédio, sem a graça do aventureirismo, a fuga dos padrões e o enfrentamento do inusitado.

É aí que encontro na sabedoria popular a resposta democrática para quem pensa diferente, seguindo o ditado: “Em cada cabeça uma sentença”; seja, que cada um interprete e assuma uma posição diante da sua realidade.

Como verbete dicionarizado, Rotina é um substantivo feminino com a etimologia de origem francesa “routine”, significando caminho sempre obedecido e usual e repetida maneira de realizar tarefas cotidianas.

Há figuradamente a definição de “conservadorismo que se opõe ao progresso”. Esta, então, é completamente descabida, como vejo nas redes sociais, principalmente nos grupos em que navego, “Tribo do Bem” e “#BrasilConsciente”, em que os participantes mantêm coerência pessoal, sempre enriquecendo os argumentos.

Confesso que neste meu convívio pouco me preocupa em cobrar posições assumidas diferente das minhas; analiso mais e melhor os protagonistas de fora, para entender o que se passa além da bolha. Desta maneira, estabeleço a rotina de analisar os fatos conforme chegam virtualmente.

Como rotina pessoal, trago o exemplo do que se passou comigo um dia desses, quando ainda convalescente da queda que sofri, fui ao Centro com a minha mulher cumprir duas obrigações intransferíveis: o cadastramento exigido a pessoas da minha idade pelo Ministério da Economia.; e, no Cartório de Títulos, confirmar um pagamento do IPTU já realizado.

Fugi à Rotina, não foi? Mas, ao voltar para casa, entreguei-me por completo ao meu dia-a-dia. Uma partida de Canastra às 11,30h e o aperitivo do almoço; almoçado, fui à sesta – a notável rotina dos mexicanos –, cochilando ao som da minha vitrolinha de cds.

Alertado pelo despertador para assistir o jogo do Arsenal contra o Real Madri, assisti um belo espetáculo que me levou ao futebol brasileiro do passado, aquele das jogadas individuais que eu adorava na juventude, nada parecido com o futebol europeu.

Lá na Europa, a atuação em campo dos profissionais obedece a estratégia dos recuos atraindo o adversário para possibilitar o contra-ataque, um esquema psicológico que vem sendo usado pelo técnico flamenguista Davi Luís e esquecido pelo time ao jogar contra o Central de Córdoba, perdendo de 2 x 1…

Após a diversão com o futebol, fui à leitura. Estou relendo o Dicionário Filosófico de Voltaire e concomitantemente folheio o curioso debate de Bertrand Russel com o padre Copleston sobre a existência de Deus.

É assim que levo a vida desde muitos anos. Domesticação, diversão e estudo, a fuga da banalidade que enxameia o noticiário televisivo, idiotizando as massas com debates ensaiados e comentários repetitivos, comprovando o que vaticinou Joseph Pulitzer ao dizer que: – “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”.

Do antigo jornalismo contestador, independente e vibrante, sobrou infelizmente um produto degenerado., que exemplificou ao silenciar contra a criminosa censura da ESPN e sem se solidarizar com os jornalistas demitidos pela denúncia que fizeram contra a CBF, um covil de bandidos com tentáculos no STF e na Presidência da República.

Enquanto isso, temos um público vil de cabeça feita pela conspiração midiática do Sistema, mantendo acesa a nojenta polarização dos dois populistas corruptos, Bolso e Lula…. E é este público que observo rotineiramente fora dos grupos que sigo no “X” e no “BS”.

Enquanto mantenho o respeito pela opinião alheia que discorda da minha, a manada garroteada pela polarização discrimina e xinga com ataques pessoais que se sobrepõem ao argumento.

Por isto, venho repetindo rotineiramente a máxima de Lao-Tsé: “Reaja inteligentemente mesmo a um tratamento não inteligente”, exaltando a educação no trato com outrem e a defesa da liberdade da expressão do pensamento. Esta foge do tédio, pela animação no confronto das ideias que desejamos “conservar” política e filosoficamente.

Marjorie Salu

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