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Crônicas de Carnaval

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br )
  1. “Quanto riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão” – Sinto-me um deles, impotente para por nos trilhos a minha Pátria na direção do futuro que merece, com ética, democracia, desenvolvimento, honestidade, justiça e paz.
  2. Os dias de carnaval trazem novos ditos e novas modas. Neste, que assistimos não se vê mais a “Maria Sapatão”; passam por mim, às dezenas, as marias bigodões…
  3. Admiro-me com a criatividade do povo brasileiro; e o carioca, em particular, é impressionante. Mas senti falta de críticas políticas, tão comuns na minha mocidade. Apenas, excepcionalmente, máscara e capa preta de Joaquim Barbosa, com dizeres sobre a corrupção reinante no país.
  4. Sentei-me à mesa de calçada de um bar, olhando os passantes. De ouvidos atentos, ouvi confissões afetuosas entre amigos mal saídos do armário… E atendi a um bloco de moças “De Turbante”, vendendo sanduíches naturais…
  5. Entre chopes e tira-gostos ri dos muitos obesos, gordinhos e gordinhas, preocupados em morder imensos ‘joelhos’ de boteco com refrigerantes industriais, invés de cantar ou sambar.
  6. Observador, dou razão à filosofia de Joãozinho Trinta, afirmando que “Quem gosta de pobreza é intelectual”. Uma enormidade de proles usa coroas de reis, rainhas e princesas… Um luxo!
  7. Ao lado da esfuziante alegria de muitos, emocionei-me com o semblante triste de outros tantos, principalmente pessoas mais velhas, que já contornaram o Cabo da Boa Esperança…
  8. Registrei também a melancolia de dezenas de “minnies” em grupo ou solitárias, sem ter a companhia dos seus “mickey mouses”. E estas fantasias da Disneylândia, levaram-me à recordação e à pergunta: Onde se escondem os pierrôs às colombinas as odaliscas as jardineiras os piratas as havaianas os mosqueteiros? Só na minha memória?
  9. Desfilaram muitas alas jovens. Chamou-me a atenção um grande número de bruxas que, sem sacanagem, lembraram-me as feiosas e ensimesmadas ministras da Rainha da Sucata…
  10. Nas ruas, como para se exibir, passaram ambulâncias do Samu com sirenes altíssimas. Pareceu-me que faziam campanha eleitoral…
  11. Ainda vigora o charme e a graça dos “sinalzinhos” exibidos por brotinhos em flor… Estão no rosto, na barriga, nas pernas e, graças à modernidade, entrevistos no relance do glúteo…
  12. Invadiu-me uma saudade imensa dos bailes do meu tempo… Baile das Atrizes, dos Artistas, da Balança, do Cartola. E a folia no Automóvel Clube, no Iate, no Sindicato dos Comerciários (onde, diziam, “as calcinhas voavam”). Entrei na vida carnavalesca no High Life e fui entusiasta do “Pijama para Dois” no Hotel Colonial.
  13. Falar em baile soube que na Urca cobravam “de contrabando” R$ 500 pelo ingresso… E, segundo o mesmo comentário, não era do “padrão FIFA”.
  14. Não encontrei mais as torcidas fervorosas pelas escolas de samba, que estimulavam discussões e até brigas! Hoje aquilo é um show para turistas e novos ricos verem.
  15. Falei que me entristeceu ver poucas críticas políticas. Mas uma me entusiasmou, e poderia ser a única para me entusiasmar: Uma placa trazia o mapa do Brasil, em verde amarelo, como se fora a vela de um barco. E o pessoal cantava “Se essa porra não virar, olé, olé, olá, eu chego lá!”
Miranda Sá

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