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Artigo teórico do fim de semana

Vôo rasante sobre a realidade dos partidos no Brasil

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Não se pode subestimar, nem ao menos silenciar diante da realidade brasileira, da economia e a política desvanecendo-se pelo burocratismo do poder dominante, tanto no governo como no partido que o exerce. Nossa expressão livre quer abrir o debate com a sociedade na véspera de mais uma eleição.

Neste vôo rasante sobre a realidade partidária, ajudar-nos-á – e muito – lembrarmo-nos de que o Brasil não é uma ilha cercada por perversas combinações que nos afastem do convívio cultural, social, político e econômico com o resto da humanidade.

Nas fronteiras do Sul, e mais ao norte, encontramos situações que refletem a nossa; e atravessando o Atlântico, temos o exemplo do pós-guerra fria que nos chegou atrasado no tempo. É claro que são apenas semelhanças nas coisas atuais, concretas.

A Terceira Guerra Mundial, embora fria, teve vencidos e vencedores. Deixou no seu rastro transformações de todo tipo, em todos os campos da atividade social, econômica e política. Como não podia deixar de ser, além de depreciar a qualidade das lideranças mundiais, varreu as utopias e o imaginário popular ávido de mudanças sócio-políticas.

A queda do Muro de Berlim representou para o concerto das nações o mesmo que a bomba atômica em Nagasaki e Hiroshima e a tomada de Berlim, capital do 3º Reich, pelas tropas soviéticas. Com a queda do socialismo real, o salto para o Século 21 assinalou a ascensão da doutrina liberal conservadora – o neoliberalismo –, e a globalização do sistema econômico.

Ficou caótica situação do movimento comunista internacional, assistindo impotente o espaço político ser substituído pelo espaço publicitário, e o estabelecimento da Ditadura do Marketing. O Senhor Mercado.

Os partidos ‘de esquerda’, então, perderam as concepções de ideologia, princípios programáticos, e o próprio caráter organizativo. E olhem que os ex-comunistas receberam uma preciosa teoria de Berlinguer, que transformou o Partido Comunista Italiano para ser ao mesmo tempo contestador e colaborador do governo.

Não só os partidos autodenominados esquerdistas e os liberais conservadores “passaram a ser um meio de comunicação social para dar respostas ao que o eleitorado indaga”, como observou o jornalista Manuel Vásquez Montalbán. Em consequência disso, os aparelhos partidários passaram a ser dominados por uma burocracia mesquinha, apegada aos privilégios, corruptas e corruptoras.

Encontra-se essa hegemonia funcional na Europa, onde se dividem as tendências liberal-conservadoras e social-democráticas; e profissionalizou-se nos Estados Unidos, nos dois únicos partidos, de interface programática semelhante.

No Brasil, as mais de meia centena de partidos inexpressivos, são caricaturas do que deveria ser uma organização partidária. Um deles, o PT no poder, até ficaria melhor como “sofisticada organização criminosa”.

Em torno do Governo Federal – na circunvizinhança do Erário – as legendas agrupam-se na chamada ‘base aliada’, todas com princípios, moral e contabilidade duplas… Chegam a enaltecer o imoral e ilegal ‘Caixa 2’.

O caráter consumista da política oficial, tanto na economia como na política, estabeleceu – como herança do peleguismo sindical – a espúria composição do espaço público e o espaço político, com práticas secretas, inalcançáveis às próprias ‘bases’ e muito menos pelo eleitorado.

Essa marca fisiológica do lulo-peleguismo transmite a sua degeneração política e ideológica aos poucos partidos que se dizem de oposição. Uma oposição, com a devida vênia, que me parece um disfarce para capitalizar o descontentamento popular e valorizar individualmente carreiristas para irresistível vocação para aderir ao poder. Como ocorreu com Eduardo Paes no Rio e Gustavo Fruet em Curitiba.

O que fica visível, para mim, são os ajustamentos eleitorais locais de governo e oposição, sem levar em conta os flagrantes das tenebrosas transações, da arapongagem, dos ‘dossiês’, e das imorais contribuições eleitorais dos bandidos de colarinho branco travestidos de ‘empresários’.

Miranda Sá

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