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Artigo temático: O Mensalão

Mensaleiros: Um balaio de gatos (ou ninho de ratos?)

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Às vésperas do esperado julgamento do Mensalão, assiste-se uma mistura desordenada de pessoas, versões contraditórias, troca de acusações e pressões sobre o Supremo Tribunal Federal. Os mensaleiros no STF parecem um balaio de gatos, ou ninho de ratos?

Vê-se uma verdadeira barafunda entre os 38 réus, diferentes entre si pela origem e participação no caso; e até uma curiosidade: na quadrilha existem quinze mineiros, destacando-se José Dirceu – o ‘chefe da organização criminosa’, Marcos Valério – o catalisador do dinheiro público, e Kátia Rabelo – a banqueira. E na história, são dois os bancos das Minas Gerais, o Banco Rural e o Banco BMG.

A partir de quinta-feira, quando os mensaleiros presumivelmente adentrarem no plenário do Supremo Tribunal Federal, em pessoa ou por meio dos seus advogados, assistiremos uma ‘canibalização’ entre eles, no dizer do jornalista Carlos Chagas.

O experiente jornalista Chagas acha que será “fascinante assistir no plenário do STF a troca de acusações que os mensaleiros antecipam através da mídia”, e diz que no fundo eles estão colaborando com o Ministério Público.

Atores como o ex-deputado Roberto Jefferson – fortalecido politicamente elegendo-se presidente do PTB – mostra-se disposto a jogar barro no ventilador. Em declarações prestadas à imprensa diz que ‘foi um equívoco deixar Lula fora do processo’ e que “se tentarem politizar esse julgamento, Lula vai pagar a conta. Vou à tribuna do Supremo”. De outro lado, encontra-se Delúbio Soares, elogiado pela juventude petista como ‘guerreiro do povo brasileiro’. O ex-tesoureiro do PT está disposto a assumir a coordenação da arrecadação do dinheiro ilegal e da sua distribuição aos parlamentares da base aliada e alguns hierarcas do próprio partido. Justifica, porém, que eram pagamentos de custos de campanha, sem relação com o que chama de “falacioso mensalão”.

Não foi uma iniciativa pessoal de Delúbio chamar a si toda a responsabilidade sobre a conta do Mensalão, livrando os demais companheiros do partido e afastando completamente da cena o ex-presidente Lula da Silva. Assim, ele cumpre a tarefa do “núcleo central da quadrilha”, conforme expressão do Procurador-Geral da República, na peça enviada ao STF.

A articulação desta tática coube ao ex-ministro José Dirceu, apontado como “chefe da organização criminosa” e ao ex-presidente do PT José Genoino, de comum acordo com o próprio Delúbio. O desdentado agitador goiano vai ao sacrifício para salvar o ex-presidente.

Nada disso foi inventado por mim. Está nos jornais diários ao alcance de quem quiser. E tudo é verdade. Antes mesmo de ser iniciado o julgamento, aparecem acusações de todos e para todos. Até o publicitário Duda Mendonça, sempre discreto, já deitou falação própria ou através do seu advogado.

No meio do tiroteio (o chamado ‘fogo amigo’), encontra-se o próprio Lula, ainda fora do processo, o que explica as suas intervenções em defesa dos mensaleiros.

Quem olha de fora tem muitas perguntas a fazer sobre situações anuviadas pela desinformação ou pelo silêncio. Uma delas vai ao encontro da estratégia petista encarnada por Delúbio: As mensalidades de 30 mil reais eram mesmo para pagar dívidas de campanha ou para garantir votos para o governo?

E ao comandante-em-chefe da operação, José Dirceu, pede-se para esclarecer a origem do dinheiro; era desviado do superfaturamento de publicidades do Banco do Brasil? Quanto a José Genoíno, precisa dizer se monitorava a operação ou se foram feitas à sua revelia…

Finalmente, em todas as cabeças está à indagação direta para Lula. Afinal, ele sabia ou não sabia do que se passava na sala ao lado da sua?  Na época, lembro-me bem, Lula foi apontado como ‘principal operador do mensalão’. E então ele pediu desculpas à Nação pela ignomínia dos companheiros, demitiu Dirceu e afastou Genoíno e Delúbio da direção do PT.

Miranda Sá

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