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Artigo temático do fim-de-semana

Cotejando o Mensalão e a CPI de Cachoeira

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Há sete anos esperando o julgamento da quadrilha que promoveu o maior escândalo da história política do Brasil, assistimos uma tremenda pressão do PT e do Governo Federal para retardar a sua apreciação no plenário da Corte. É uma ação imoral e criminosa para levar o caso à prescrição.

Há, indiscutivelmente, enérgicas manifestações contrárias ao interesse escuso do lulo-petismo em abafar o processo. Recém empossado na presidência do STF, o ministro Carlos Ayres de Britto afirma que trabalhará pela realização da audiência e sentenciar os réus, reconhecendo, porém, que uma eventual demora põe o processo em risco de prescrição.

Ayres de Brito é um homem sensível às expressões públicas, representando a esperança dos que querem passar o Brasil a limpo; mas sobrepesa a vizinhança da sua aposentadoria e do ministro Carlos Peluso, e, com isso, os novos titulares certamente pedirão vista do processo levando para 2013 o julgamento.

Este fato é aterrorizante, pois o ministro Carlos Peluso já expressou a vontade de julgar logo o Mensalão, com três argumentos: para não interferir nas eleições, não correr risco de prescrição e porque “a opinião pública pressiona muito”.

Também o ministro Gilmar Mendes mostra interesse em evitar a prescrição e já se atritou com o par Ricardo Lewandowski, dizendo que se fosse o revisor da ação “procuraria ser o mais expedito possível para me livrar desse constrangimento”.

Lewandowski se aborreceu e mandou Mendes preocupar-se com seus problemas sem se meter nos assuntos dos outros colegas. Essa reação teve o apoio do ministro Marco Aurélio Mello que se declarou “terminantemente contra” a convocação do Supremo em julho apenas para apressar o andamento do processo do mensalão.

Este quadro em transparência reflete o placar de três a dois, restando seis meritíssimos, assediados por advogados, réus, jornalistas e políticos preeminentes, entre eles o ex-presidente Lula da Silva, que nomeou alguns dos ministros.

Nesta quadra do concerto político, emerge espetaculoso o caso Carlinhos Cachoeira, que muitos relacionam com o Mensalão, embora mais abrangente ao comprometer figuras importantes da chamada oposição, como o senador do DEM, Demóstenes Torres, e os governadores tucanos de Goiás e Tocantins.

Este acontecimento que abalou profundamente a sociedade provocou a convocação de uma CPI mista, instigada a princípio por Lula, mesmo enfrentando a resistência da presidente Dilma Rousseff. Aí cabe uma pergunta categórica: O que levou Lula a articular a investigação da rede de influência de Cachoeira?

Entre os observadores da cena política temos algumas divergências. Uns insinuam que Lula quer encurtar as rédeas de Dilma; outros falam de uma afirmação do PT na disputa em torno da influência do PMDB no Governo; mais outros, apontam a velha chantagem da base alugada para conquistar mais cargos e mais verbas.

Diz-se que esta semana será instalada a CPMI, que cobrirá como um tsunami a planície congressual, arrastando parlamentares, políticos, empreiteiros e consultores. Certamente a investigação é uma exigência popular, para depurar o Congresso, desmascarar governantes corruptos e mostrar o submundo dos subornos e das propinas estimulados por empresários desonestos.

Cotejando o julgamento do Mensalão e a constituição da CPMI, encontramos um elo que liga um e outro: a urgente necessidade de apressar a sentença e a investigação, em respeito à República e suas instituições.

Vale ressaltar a liberdade de imprensa e o jornalismo investigativo, cuja presença denunciante e esclarecedora em ambos os casos, poderá evitar a degeneração total do Judiciário e do Legislativo. É talvez por isso que o lulo-petismo dos mensaleiros e dos cachoeiras quer controlar os órgãos de comunicação.

Miranda Sá

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