Diploma superior da ignorância
MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br
Do mesmo jeito como é revoltante querer socializar a miséria, é intolerável aceitar-se a distribuição de milhões de diplomas superiores da ignorância. Triste é se constatar que as duas coisas acontecem na realidade da República dos Pelegos e do desvario delirante de Lula da Silva, insistindo em passar moedas falsas aos que por vontade própria confundem conceitos e referências.
Ainda bem que a História julgará o caráter dos que ocupam e mantêm o poder na base do estelionato político e charlatanismo administrativo. Este capítulo será escrito com o testemunho dos milhares (talvez milhões) de jovens que usam o minguado salário dos pais ou arrancando o próprio dinheiro do bolso para pagar as arapucas que distribuem diplomas da ignorância com direito a fotografia e baile de formatura.
Agora mesmo foram enterradas na fossa comum da barganha do ensino superior 6.323 vagas nas faculdades de direito. Decerto não farão falta a ninguém, nem aos aspirantes à advocacia e a magistratura, nem ao país. Da mesma maneira, há que se passar a draga da seriedade e do patriotismo nas 1.578 faculdades de administração, 1.524 de pedagogia, 861 de direito e 497 de jornalismo espalhadas pelo Brasil de acordo com os últimos dados do Ministério da Educação.
É bom assinalar que 72% dos 4,7 milhões de estudantes de terceiro grau estão matriculados na rede particular de ensino. Para isso contam com o sacrifício dos parentes, economizam tostões ou se penduram nesse programa antinacional e antipopular que se chama Prouni, decantado demagogicamente pelos que transformaram o governo federal em comitê eleitoral, desviando verbas para empresas caça níqueis em vez de investir nas universidades públicas ou implantando cursos profissionalizantes.
O censo oficial do ensino superior brasileiro mostra como é disparatado e contrário ao bom senso o sistema universitário e registra a falta de responsabilidade das pessoas que diziam defender a autonomia universitária e o ensino universal, gratuito e de qualidade. Calaram-se. Paira um estranho e suspeitíssimo silêncio nos círculos de professores e, muito mais lamentável, na representação estudantil.
Diz-se que houve uma cooptação governamental ampla, geral e irrestrita da comunidade acadêmica através de múltiplas e vultosas verbas para viagens e participação em seminários, colóquios, fóruns e conferências. Também são aprovisionados os sindicatos, associações, diretórios e centros. O que falta no contracheque dos professores, para as pesquisas científicas e estudos sobre o funcionamento das faculdades, sobra para o blá-blá-blá dos pelegos.
Foi esta omissão da intelligentsia acadêmica que facilitou a instalação desordenada de cursos sem perspectiva de aproveitamento dos alunos no mercado de trabalho. É a falta de seriedade do governo no ensino superior que estimula o mercado de ilusões da juventude. Os cursos para a formação de professores de literatura abrigam dez vezes mais estudantes do que os de física, informática, matemática e química, matérias fundamentais para o desenvolvimento econômico do país.
As vagas criadas nos últimos anos matriculam 10,4% dos jovens entre 18 e 24 anos numa grade curricular sem objetivo prático. Segundo os números levantados, são 175 mil fazendo jornalismo, cifra cinco vezes maior do que a de jornalistas que hoje trabalham com carteira assinada em todo o país, cerca de 40 mil profissionais.
Em outras áreas ocorre algo semelhante. Os estudantes de medicina são 74 mil, pouco mais numerosos do que os de turismo, que somam 66 mil; e, no caso dos matriculados em direito, temos 589 mil, número que supera os 571 mil advogados da ativa registrados pela OAB.
Este quadro surrealista poderá acrescentar mais formas e misturar mais tintas com a meta do PT-governo de multiplicar as vagas atuais por três em 2011. Lula quer mais eleitores comprados pelo Prouni; quer conquistar a simpatia dos bilionários comerciantes do ensino. O Pelegão quer enaltecer, como “socialista”, a inversão perversa das oportunidades que rompe o monopólio das classes médias no terceiro grau, mas baixa o nível do aprendizado do ensino superior rente ao curso primário de antigamente.
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