O fim da CPMF no palco da República
MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br
Com o fim da CPMF, Lula da Silva mostrou que é, realmente, uma metamorfose ambulante. Com a derrota no Senado Federal da proposta de prorrogar a contribuição provisória CPMF mantendo-a como imposto permanente, ficou baratinado sem dizer coisa com coisa. No primeiro momento fez descaso, dizendo displicentemente que a decisão dos senadores era “coisa da democracia”; depois rosnou que “quem votou contra (o imposto) não usa o SUS. Se usasse o SUS, não votaria contra” e num crescendo alomórfico disse que “alguém tem que pagar pelos transtornos causados ao governo”.
Passados os dias, de colérico voltou à melancolia com que interpreta seu personagem Lulinha Paz e Amor. Então passou a comentar que está tudo sob controle e que seu governo não cometerá “irresponsabilidades” para compensar a perda de R$ 40 bilhões por ano. Até desmentiu O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo que o ministro Guido Mantega (Fazenda) terá que convencê-lo da necessidade da criação de um novo tributo para compensar a perda na arrecadação com o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
Foi tranqüilo no comentário de Lulinha Paz e Amor desmentindo o ministro em entrevista coletiva à imprensa e afirmando, otimista, que não serão feitos cortes nos investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nem nos programas sociais. Com isso se encerram as histéricas intervenções dos senadores Ideli Salvatti, Paulo Paim, Siba Machado e até de Eduardo Suplicy (!) horrorizados e pesarosos com a diabólica trama das elites para extinguir o Bolsa Família e o SUS… Os horrores apocalípticos dos lulistas-petistas não duraram três dias.
Já o Lula Metamorfose Ambulante, teve uma recaída de bravateiro. Bravateiro e vingativo mandou a ministra Dilma Roussef arranjar os meios compensar a perda de receita com a rejeição da CPMF com medidas provocativas contra os poderes legislativo e judiciário. Esperto, o Pelegão que mostrar ao Congresso e às Cortes de Justiça que segura às rédeas do poder.
Os estudos de dona Dilma – a mal-amada incansável – projetam que no ano que vem o Judiciário perderá as verbas destinadas à construção de sedes de tribunais, inclusive do novo prédio do TSE, para onde estavam previstos R$ 80 milhões; e para a Justiça Federal de 1º grau, R$ 152 milhões. A ameaça ao Congresso Nacional ainda não se configurou, mas os presidentes do Senado, Garibaldi Alves, e da Câmara, Arlindo Chinaglia, já admitem que haja corte nas emendas parlamentares.
Evidentemente que o PT governo não irá parar aí para passar em compensação a perda dos R$ 40 bilhões. Novas janelas serão abertas para permitir os augurosos ventos da Receita, com a química dos números, para ressarcir o prejuízo. Nunca é demais lembrar que os cofres do Tesouro estão cheios em demasia e há perspectivas concretas de expansão de receitas tributárias. Isto para não falar de que a administração está atoucinhada e não faria mal algum um corte na gordura dos gastos públicos.
O entrechoque dos últimos dias entre governo e oposição não se resume ao comportamento furta-cor de Lula da Silva. O outro lado, dos oposicionistas, também sofre o mimetismo político necessário ao fortalecimento ou, pelo menos, à sobrevivência. Qual o grupo da oposição que pode cantar vitória? Quem, pessoalmente ou em grupo vai lucrar com a derrota do PT-governo e de Lula especialmente?
Considero, enquanto observador político, que apesar a guerra de guerrilha triunfante da minoria tucana no Senado, habilmente conduzida pelo líder da bancada Arthur Virgílio Filho, quem ganhou realmente a batalha foi o DEM, que perfeitamente adequado à defesa do seu programa impôs ao eleitorado anti-lulista a afirmação de coerência. O senador José Agripino, conduzindo a estratégia contra a emenda constitucional, reuniu as qualidades de um condottieri autêntico, irrepreensível na sua elegância e firmeza.
É inegável, também, a disposição de luta de Lula da Silva. E, além da aptidão para o embate político, traz em si uma grande experiência no jogo da articulação, e sua total amoralidade lhe permite usar quaisquer armas para enfrentar o adversário. Transações ardilosas que foram da simples barganha de votos por verbas ou cargos administrativos, até a fraudulenta invocação de uma luta de classes ajustada aos seus interesses.
Temos também a reforma, o retoque pinturesco de um Senado Federal sem a desfiguração e as mazelas proporcionadas pelos casos que envolveram (e ainda envolvem) o ex-presidente Renan Calheiros. Alguém escreveu que depois da votação da CPMF o Senado dará uma varredura em regra para por de lado a sujeira das vergonhosas votações que absolveram Renan, e, pelas recentes declarações do novo presidente, Garibaldi Filho, a faxina já começou.
Assim a República terá como marcação no palco político, a choradeira dos ministros do Supremo para assegurar as verbas orçamentárias, o jogo oposicionista que tem como trunfo a segunda rodada de votação sobre a permanência da Desvinculação das Receitas da União, a DRU, e a representação palanqueira de Lula da Silva com suas metáforas surradas, lugares comuns e palavras-de-ordem populistas para manter-se livre de culpa, como o fez no caso dos mensaleiros, sanguessugas e aloprados. Afirma-se dialeticamente como um cambiante furta-cor. A metamorfose ambulante.
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