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Artigo de Miranda Sá

Ainda sobre a visita “histórica” de Obama

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Na visita de Obama ao Brasil, bateram tanto nas teclas da palavra “histórica”, que terminamos por aceitá-la, e analisar, criticar e refletir sobre o fato. Do ponto de vista pessoal e transferível a quem interessar possa.

Já dissemos que este programa presidencial foi politicamente linear, visando tão somente cumprir convenções diplomáticas que, na oportunidade, poderiam tornar-se um pacto de aliança entre os dois países.

Foi importante, sem dúvida. Não ganhou as manchetes internacionais pelo azar da declaração unilateral da guerra contra o ditador Kadafi, assinada em Brasília, minutos antes do encontro com a presidente Dilma.

Encontrei, na observação pessoal feita, duas óticas quase divergentes observadas durante a estadia de Obama no Brasil: Uma delas foi a discreta condenação de Lula da Silva, dando pouca importância ao convite dele para este encontro; quando foi chamado de “O Cara”, não passou de um tratamento suburbano, cumprimento casual de conhecidos de vista.

Após as eleições brasileiras, que tornaram Lula um “ex”, não passou três meses da posse de Dilma para acontecer a visita, que não foi apenas simbólica, como induzem certos setores da chamada grande imprensa.

Não sai da boca do representante do império mundial nada desinteressante. Ouviu-se dele claramente a intenção de reabrir um bom relacionamento comercial com o Brasil e, com isso, levar ao eleitorado norte-americano a perspectiva de recuperar a indústria e criar empregos lá.

Na verdade, a busca de um equilíbrio comercial é boa para o Brasil e para o maior mercado consumidor do mundo, que vem favorecendo sobremodo a China e a Coréia do Sul.

O segundo reparo é que se descortinou uma nova atitude diplomática do Itamaraty, pelo menos para com os EUA. Dizem que foi a própria Dilma quem deu a orientação ao chanceler Antonio Patriota, e o que se viu foi um novo sentido do “pragmatismo” tão decantado na Era Lula.

Preso aos fatos que se tornaram públicos, reconhecemos que Dilma defendeu os interesses do País, recebidos com simpatia por Obama. O comportamento da governante brasileira merece somente uma crítica contundente, extensiva aos seus ministros, assessores e ao seu partido.

Não poderia ter sido tolerada a revista policial nas altas autoridades brasileiras. Está certo que entre elas há alguns suspeitos de corrupção e também herdeiros da pecha de terroristas, mas é injustificável que a segurança norte-americana desrespeitasse a todos.

Há um velho ditado que diz: “O uso do cachimbo deixa a boca torta”. Talvez os anos de subserviência colonial tenham impedido uma reação. Mas juro em cruz que, na minha modéstia, eu teria me retirado do ambiente sem me deixar catar por um esbirro estrangeiro na sede da República Brasileira.

Miranda Sá

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